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Indústria agroalimentar reforça apostas nas exportações para as Américas e Oriente

O presidente da PortugalFoods, Amândio Santos, vai apresentar a estratégia de internacionalização do setor para o próximo triénio, que envolve um investimento avaliado em cerca de seis milhões de euros.
23 Novembro 2018, 17h22

Em entrevista ao Jornal Económico, Amândio Santos, presidente da PortugalFoods, fileira que representa a indústria agroalimentar nacional acredita que as exportações durante o ano em curso vão manter o ritmo registado no primeiro semestre, de 8%, face ao período homólogo.

No dia em que a Portugal Foods comemora o 10º aniversário de existência, reunindo os seus associados numa iniciativa no Pestana Palácio do Feixo, no Porto, o presidente da PortugalFoods explica a estratégia de internacionalização para os próximos três anos,que tem como principais alvos os mercados do Japão, Coreia do Sul, Médio Oriente, China e Estados Unidos.

Numa segunda linha de ataques, estão os mercados de Hong Kong, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Canadá.

No ano passado, a fileira representada pela PortugalFoods exportou cerca de 6,3 mil milhões de euros, após um crescimento de cerca de 8%. Neste primeiro semestre, as exportações já subiram mais 6%. Qual o valor de exportações da fileira neste primeiro semestre e quais as expetativas para o ano completo de 2018?

O setor agroalimentar tem, de facto, registado um crescimento muito significativo, demonstrando tanto o interesse dos mercados externos nos nossos produtos, como o empenho dos empresários portugueses em manter esta dinâmica. É difícil fazer uma previsão para o resto do ano, mas acreditamos que o crescimento nestes últimos meses vai acompanhar o ritmo do primeiro semestre.

A conquista de novos mercados e o reconhecimento cada vez maior dos nossos produtos fazem-nos pensar que este ano as exportações vão manter um bom ritmo de crescimento. Também o aumento do turismo no país, tem contribuído para dar visibilidade aos nossos produtos, uma vez que que os turistas vêm, experimentam e gostam, acabando por ser embaixadores casuais destes produtos e da marca Portugal nos seus países de origem, o que complementa o trabalho da PortugalFoods e das empresas no estrangeiro.

Nuno Miguel Silva

 


Nestes meses já fechados e com as expetativas para o ano completo de 2018, quais são os produtos e mercados que se estão a destacar face aos períodos homólogos e porquê?

Não conseguindo ainda perceber se, este ano, haverá produtos que se diferenciem em termos de ‘performance’ exportadora, sabemos que se mantêm na linha da frente, o vinho que tendo em conta a visibilidade que tem lá fora, continua a alavancar a marca Portugal, os produtos de pastelaria e padaria, as refeições pré-cozinhadas ou ‘snacks’, o azeite, o tomate preparado ou conservado. Podemos também, naturalmente, destacar as conservas e o peixe congelado.

Em termos de mercados, as diferenças não têm sido muitas face ao ano passado, mas há um interesse cada vez maior no continente americano e no Oriente, que são mercados com grande potencial.

Em termos históricos, quais são os principais mercados de exportação da fileira agroalimentar nacional em função dos respetivos produtos ou famílias de produtos?

Historicamente, temos uma relação muito forte por exemplo com Espanha, com França, com a Alemanha, Brasil e Angola. A proximidade geográfica, os aspetos culturais e o mercado da ‘saudade’ continuam a marcar o conjunto dos principais mercados de destino das exportações portuguesas do setor.

Com o Reino Unido, também temos boas relações comerciais, com a qualidade dos nossos produtos a ser fortemente reconhecida pelos britânicos. Muito se fala do Brexit e da possibilidade desse movimento vir a mudar as relações transacionais, mas acreditamos que, apesar de naturalmente haver preocupações por parte da indústria, também existirão oportunidades. E o papel de produtos que já têm uma posição sólida neste mercado, como o vinho do Porto, a pera rocha, a pastelaria e as conservas de sardinha…é importante, aliado à relação histórica que mantemos, sobretudo, com Inglaterra.

Para futuro, quais são os principais mercados a explorar pela fileira, em que tipo de produtos, porquê?

Japão, Coreia do Sul, Médio Oriente, China e até EUA, mesmo com a política protecionista da atual administração, são países com um grande potencial.

A par dos já referidos, a PortugalFoods acredita que seria importante chegar também a alguns novos mercados, com o de Hong Kong, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Canadá, tirando partido do recente acordo comercial com a União Europeia. São países com grandes economias e onde vemos muitas oportunidades.

Qual é o peso atual da exportação no volume de negócios da fileira, ou seja, quanto é que vale o setor agroalimentar nacional incluindo o mercado interno e como é que este tem evoluído nos últimos anos?
Em 2017, as trocas comerciais de bens transacionáveis (excluindo serviços) entre Portugal e o resto do mundo representaram um total de 55 mil milhões de euros em exportações, correspondendo a um aumento nominal de 10% face ao ano anterior. No que respeita aos produtos do setor agroalimentar, Portugal exportou cerca de 6,3 mil milhões de euros, representando cerca de 12% do total de exportações de bens transacionáveis. As exportações têm apresentado um forte crescimento, com um aumento de cerca 10% em 2016/2017 e um crescimento médio anual de 5,5% entre 2013 e 2017.

Já em termos de volume de negócios, a indústria agroalimentar e das bebidas tem um peso de cerca 19% na indústria transformadora nacional e o setor agroalimentar nacional tem um peso de cerca de 6% na economia nacional. A indústria agroalimentar e das bebidas contribui com 4,6%.

Quais são os objetivos de volume de negócios da fileira para crescimento na vertente exportadora face ao mercado interno para os próximos anos? 

Os objetivos são, sobretudo, continuar o bom trabalho que tem sido feito, para continuarmos a crescer consistentemente. Estamos neste momento a preparar, em conjunto com o setor, a estratégia de internacionalização do setor, para o triénio (2019-2021) e quando tivermos a estratégia fechada vamos já poder avançar com uma expectativa mais exata. Para já, temos de pensar em como levar as nossas empresas e os nossos produtos mais longe e trabalharmos todos juntos nesse sentido.

Quais serão as principais linhas orientadoras da estratégia de internacionalização que está a ser preparada pela PortugalFoods para o período 2019-2021 e qual o investimento envolvido?

Há uma década que temos vindo a trabalhar com o setor, conhecemos bem as suas necessidades e dificuldades e, além disso, em 2012 definimos uma estratégia de internacionalização para o período 2012-2017 que – podemos dizê-lo – foi bem sucedida e até superou as expectativas. Por exemplo, estimámos um crescimento anual para o setor de 4% até 2017, perfazendo um crescimento acumulado de cerca de 20% no período considerado, mas as exportações tiveram um crescimento anual médio na ordem dos 5,5%. Agora, queremos atualizar essa estratégia tendo em conta as novas ambições e o estado atual do setor, das nossas empresas e dos mercados.

Para o triénio que se avizinha, prevemos aumentar o investimento em ações de apoio à internacionalização. No total, cremos que serão investidos seis milhões de euros, valor que será repartido pelas empresas e que contará com ajudas públicas.

Vamos continuar a promover Portugal, mas de uma forma mais seletiva e com base em três instrumentos fundamentais: radar de negócios, que permitirá às empresas proceder à análise e vigilância de mercados prioritários, levando-as a apostar naqueles que mais se adequem às suas caraterísticas; investigação pré-competitiva, uma aposta em processos de investigação e inovação que juntando empresas e universidades, permitirá às empresas estar na linha da frente em termos de inovação e na criação de um laboratório colaborativo, que será liderado por empresas, que terão à sua disposição recursos humanos especializados e altamente qualificados que permitirão o acesso a  uma resposta rápida e eficaz aos desafios que a indústria identifique.

Quais são os principais obstáculos ao crescimento da internacionalização da fileira, a nível político (legislação, fiscalidade, etc), de organização do mercado (produção, grande distribuição, concorrência, etc) ou a outros níveis?

Um dos obstáculos que para nós é evidente é o facto de Portugal não ter muitas marcas fortes. Não tem, por exemplo, nenhuma marca de queijo que se destaque lá fora, nem nenhuma marca de vinho, no entanto, somos muito fortes nessas duas fileiras. Mas acreditamos que isso é ultrapassável fazendo crescer não as marcas isoladamente, mas as marcas das diferentes fileiras, como o “queijo português”, o “vinho português”, o “tomate português” e por aí fora.

Relativamente aos mercados, sabemos que temos de adaptar as características dos produtos à procura, mas esse é um trabalho que já está a ser feito, pelas próprias empresas e também com o apoio da PortugalFoods, sobretudo através do seu Observatório, que monitoriza e analisa a evolução das tendências de mercado e inovação no lançamento de novos produtos, permitindo às empresas o acesso a informação de ‘business intelligence’. Se tivermos um bom produto e um produto adaptado aos gostos e necessidades do consumidor, as dificuldades que possam surgir são mais facilmente ultrapassadas.

 

 

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