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Inovação no turismo depende de mais verbas

Turismo do Algarve pretende mais fundos atribuídos à região. Empresas dizem que há recursos humanos, mas pedem mais atenção à região.
15 Junho 2019, 13h00

Na região do Algarve, a inovação no turismo está ligada às pequenas e grandes infraestruturas e, tendo em conta que se trata um setor aberto à concorrência, que é cada vez mais exigente, essa inovação pode ocorrer de diferentes formas. Contudo, há um “constrangimento importante a ultrapassar”, afirmou o presidente do Turismo do Algarve, João Fernandes, na conferência “Inovação como Instrumento de Mais e Melhor Turismo”, co-organizada pelo Jornal Económico e pela Altice Portugal, e que decorreu na última segunda-feira.

“O Algarve é a principal região turística nacional, mas tem um acesso ao financiamento inversamente proporcional a essa importância. Temos 300 milhões para um quadro comunitário de sete anos – o Alentejo tem 1.200 milhões de euros, Lisboa e Vale do Tejo tem cerca de 900 milhões, o Centro tem 3.500 milhões e o Norte tem 6.000 milhões de euros. Este é o desfasamento que nós temos. E este é um fator essencial para o investimento em inovação”, explicou.

Sendo o setor o “14.º mais competitivo no mundo”, este responsável defendeu que “ao Algarve também tem de vir oxigénio para essa inovação”, sob pena de ocorrer uma estagnação em diversos níveis e um subsequente decréscimo na competitividade da região. “É uma realidade duplamente penalizadora, porque o Orçamento do Estado é arrastado para onde vai esta alavancagem no financiamento e co-financiamento mais robusto”. O quadro descrito por João Fernandes acabou por ser replicado nas afirmações dos vários responsáveis de empresas convidadas a debater a inovação no turismo da região na conferência, que alertaram para a necessidade de criar condições de desenvolvimento das empresas algarvias.

Sérgio Silva, da Easysensing, empresa cujo core business é criar sistemas de inteligência artificial, que participou no painel que retratou a realidade do tecido empresarial algarvio, argumentou que “existe muito a fazer no Algarve em termos de digitalização” das empresas. O representante desta startup da Universidade doAlgarve, disse que “90% do tecido empresarial da região é constituído por micro, médias e pequenas empresas”. Por isso, é fundamental mais investimento.

Como? “Pode ser através de fundos [comunitários], com a submissão de projetos”. Mesmo assim, Sérgio Silva, passou a ideia que, mais do que financiamento, há uma questão de mentalidade que, naturalmente, “leva o seu tempo”. “Há projetos que não eram válidos há dez anos que hoje são ex-libris”, concluiu.

Mário Saleiro, da Sandworx, uma empresa que desenvolve protótipos na área das smart cities (cidades inteligentes), não hesitou em apontar que para ajudar a região e o setor do turismo a inovar seria desejável um quadro “de impostos mais baixos para as empresas e maior celeridade em processo público”. “A nível de financiamentos, esperar seis meses por uma resposta, para uma empresa de tecnologia, é demais e, por vezes, a oportunidade de negócio já passou. Para alguns, esse tempo é aceitável, mas em tecnologia, corta completamente as possibilidades”.

Quando questionado pela forma como a academia pode ajudar as empresas da região na inovação do turismo, que passará sempre pela digitalização, o co-fundador da Sandworx disse que “a universidade do Algarve já aposta o suficiente, mas tem é de conseguir captar mais alunos”. Ainda assim, assegurou que se tivesse de recrutar, agora, conseguiria “rapidamente meter três, quatro ou cinco pessoas muito boas na área” – mas na área do software o caso muda de figura: “Aí, já temos uma série de empresas a concorrer na mesma área. Por exemplo, começamos a ter empresas alemãs em Faro porque têm cá bons programadores, a um custo mais baixo do que na Alemanha”.

Hugo Barros, do Polo Tecnológico do Algarve/Algarve STP, foi mais além e alertou para a necessidade de uma estratégia consolidada, sobretudo para diversificar, sendo o turismo uma bandeira do Algarve. E criticou: “Os organismos de gestão – as CCDR – têm pouca capacidade de implementação porque muitas vezes os organismos estão centralizados. Enquanto região, temos uma dificuldade enorme de conseguir aprovar projetos que muitas vezes são reconhecidos pela região como relevantes, mas que depois o timing não é o melhor”, explicou.

A regionalização ajudava? “É um facto”, concluiu.

Artigo originalmente publicado na edição do Jornal Económico nº 1991 de 31 de maio de 2019

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