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Interesse da Cofina na dona da TVI tem mais de uma década

Mais de um ano depois da Altice não ter conseguido adquirir a Media Capital, decorrem novas negociações para Prisa alienar o grupo de media português, quando o principal ativo, a TVI, foi relegado para segundo plano nas audiências televisivas.
  • Presidente Executivo da Cofina, Paulo Fernandes
15 Agosto 2019, 07h47

A Cofina está a negociar, “em regime de exclusividade”, com a Prisa uma possível aquisição da participação do conglomerado de media espanhol na Media Capital, dona da TVI, confirmou o grupo de media liderado por Paulo Fernandes junto da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, na quarta-feira, 14 de agosto. A conversação é o culminar do interesse que a Cofina tem, pelo menos, há mais de uma década na Media Capital, embora nada garanta que cheguem a bom porto.

No início deste ano, a Prisa já tinha contactado potenciais compradores, como a Cofina (dona do Correio da Manhã, CMTV e Jornal de Negócios) e a Record TV (a segunda maior televisão brasileira, que tem como acionista o bispo Edir Macedo).

Há muito que se falava no interesse de Paulo Fernandes na Media Capital. Após vários rumores, avanços e recuos, Cofina e Prisa estão oficialmente em negociações pela participação na Media Capital, tendo sido assinado um memorando de entendimento. Contudo, o facto de decorrerem negociações não significa que ocorra qualquer tipo de negócio.

As conversações decorrem desde julho, mas ainda não é certo o que poderá estar em cima da mesa de negociações. Além da TVI, a Media Capital detém a Media Capital Rádios, dona das rádios Comercial, Cidade M80, entre outras. Os contornos do possível negócio também não são conhecidos, seja por quanto a Prisa estará disposta a abrir mão da Media Capital, ou quanto a Cofina estará disposta a investir na aquisição de uma participação na dona da TVI.

Facto é que o interesse de Paulo Fernandes na dona da TVI já leva mais de uma década. O que o impedia de avançar antes do anúncio desta quarta-feira? Mais do que o interesse de outros agentes do setor na Media Capital, seria a vontade da Prisa em vender a sua participação – que é maioritária.

Até 2003, o grupo liderado por Paulo Fernandes, que também detém a papeleira Altri, detinha 4,64% da TVI, uma posição que tinha comprado à ICAM por 4,99 milhões de euros, em 2002. Em maio desse ano, a Cofina acabou por vender essa participação à Media Capital por 7,4 milhões.

Mas o interesse na televisão manteve-se e em 2009, quatro anos antes do lançamento da CMTV, a dona do Correio da Manhã tornou pública a vontade de comprar uma posição de controlo ou uma participação maioritária na Media Capital. À época, a Portugal Telecom, via Ongoing, tentou comprar uma participação de 30% na Media Capital, mas o negócio acabou inviabilizado pelo governo de José Sócrates e a Cofina viu aí o esboçar de uma oportunidade que acabou por não se concretizar.

“Se a Prisa quiser vender toda a Media Capital, a Cofina pode olhar para o dossier”, fez saber, então, a holding de Paulo Fernandes criada em 1995.

Dez anos volvidos, as conversações entre o acionista maioritário da Media Capital e a Cofina ocorrem enquanto o grupo detido pela Prisa atravessa uma reestruturação. Após oito anos de liderança, Rosa Cullell foi substituída por Luís Cabral na presidência executiva da dona da TVI. A saída de Cullell daria a entender que a Prisa desistira de vender o grupo português, uma vez que o negócio com a Altice Portugal falhou.

A operação de venda da Media Capital à Altice foi travada pela Autoridade da Concorrência em junho de 2018, que concluiu que o negócio iria resultar num custo estimado de 100 milhões de euros por ano aos concorrentes e, consequentemente, aos consumidores.

A Altice oferecia 440 milhões de euros à Prisa para ficar com a Media Capital, o maior grupo de media português em quota de mercado, detendo canais como a TVI ou as rádios Comercial e M80.

Pouco mais de um ano depois, decorrem novas negociações para Prisa alienar a Media Capital, quando o principal ativo do grupo, a TVI, foi relegado para segundo plano em matéria de audiências televisivas. Essa despromoção terá tido influência no decréscimo dos lucros da Media Capital em mais 50%, para 5,9 milhões de euros, no primeiro semestre do ano.

A Cofina e a Media Capital são dois dos maiores grupos de comunicação social do país. A Cofina detém o Correio da Manhã, o Jornal de Negócios, o Record, o Destak e o Mundo Universitário, além das revistas Sábado, Máxima e TV Guia. A CMTV é a coqueluche do grupo. A empresa de jogos e apostas online Nossa Aposta pertence à Cofina.

A Media Capital é dona dos canais TVI, TVI 24, TVI Internacional, TVI Ficção, TVI Reality e TVI África. Controla também as rádios Comercial, M80, Cidade, Smooth FM e Vodafone FM. No segmento online é dona do sítio Mais Futebol, do portal IOL, do Portugal Diário e da Agência Financeira. Detém também a produtora Plural Entertainment.

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