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Irlanda. Os conselhos que “o país mais industrializado do mundo” dá a Portugal

A 1ª Conferência Internacional ‘Business on the Way’, organizada pela AEP foi palco da exemplificação prática do que é a internacionalização. A Irlanda teve presença obrigatória, mas há outros exemplos que importa conhecer.
21 Novembro 2017, 17h27

“A Irlanda é o país mais internacionalizado do mundo”, disse Orla Tunney, embaixadora daquele país em Portugal, no âmbito da 1ª Conferência Internacional ‘Business on the Way’. E, sendo assim, a importância do conhecimento do seu percurso é fundamental para os países que assumem o mesmo desafio. Até porque, tal como Portugal, a Irlanda passou recentemente por um período de intervenção externa patrocinada pelo FMI.

Mas as coincidências vão mais longe, como afirmou a embaixadora: com o Brexit, a Irlanda precisa urgentemente de encontrar mercados alternativos aos do Reino Unido – para onde ainda vai parte substancial das exportações irlandesas. E é aqui que Portugal entra: Albert Cisterna e Andrew Parish, o primeiro membro do gabinete estatal que gere a internacionalização e o segundo responsável pelo agregado Conect Ireland, explicaram o que de mais importante os empresários devem conhecer sobre a Irlanda.

Albert Cisterna explicou que as exportações foram a chave da recuperação, depois da intervenção do FMI. Educação, sistema fiscal, competitividade, atração de investimento externo e inovação foram os mecanismos que permitiram ao país chegar a uma invejável situação de desenvolvimento económico. Que merece algumas reservas: vários analistas consideram que a competitividade induzida pelo ambiente fiscal irlandês é um caso sério de concorrência desleal para com os restantes países da União Europeia.

Mas, segundo Albert Cisterna, a grande diferença da Irlanda em relação aos restantes países do agregado é a sua capacidade de atração de investimento direto estrangeiro – o que permite, por um lado, o aumento das exportações e, por outro, a criação de elevado número de postos de trabalho. É uma questão da envolvente, como diria Andrew Parish, onde pontificam a especialização das universidades – “não podemos ser os melhores em tudo”, disse – capacidade de acompanhar investimentos, redes de conhecimento adequadas e organizações de suporte como algumas das mais sustentadas componentes oferecidas pela Irlanda.

Foi esse convite, o de Portugal investir na Irlanda e aumentar as trocas com o país, que aqueles dois responsáveis deixaram.

Bem diferente é a realidade de Israel – um país jovem que não faz parte da União Europeia e por isso está razoavelmente longe das rotas tradicionais de Portugal. Uma economia star-up, como a caracterizaram os responsáveis pela apresentação durante a conferência. O ecossistema de inovação – sustentado por um sistema de ensino eficaz – e a introdução de um pensamento global que permitisse abrir novos horizontes foram as chaves da abertura do país aos benefícios da abertura da economia, como disse Raslan Abu Rukun, encarregado de negócios da embaixada de Israel em Portugal.

A inovação tecnológica é o setor do futuro, disse aquele responsável, para quem as ligações entre Portugal e Israel e o aumento da exposição de cada país ao outro é um caminho que importa desenvolver.

Mas não só, como recordou Uriel Lynn, presidente da Federação das Câmaras de Comércio Israelitas: “Não devemos olhar só para as novas tecnologias e para as exportações – o que importa é a criação de emprego, é isso que faz crescer uma economia”.

Sedenta de novos empregos está também a economia norte-americana, que, dizem alguns observadores, está a perder ‘gás’ no que tem a ver com a internacionalização da sua economia – muito porque as diretrizes emanadas da Casa Branca são de aconselhamento à retração da exposição ao exterior. James Rosener, presidente da Câmara de Comércio Euro-Americana, elencou a que há de mau o país: a dívida externa, o défice da balança comercial, a carga fiscal excessiva, a abundância de falências. E contudo os Estados Unidos continuam a ser a maior economia do mundo – e também, como frisou aquele responsável, a mais atrativa do mundo.

Porquê? Porque tem a envolvente mais diversificada do mundo, onde os que falham não precisam de pedir licença para regressar e onde está uma resiliência à prova de qualquer tempestade.

Resiliente é também, por certo, a Polónia, país de passagem entre o ocidente e o oriente – o que quer dizer que esteve inúmeras vezes ocupada por exércitos estranhos vindos de um lado ou do outro. Confirmava-se: “Quero chamar a atenção para a estabilidade da nossa economia, uma das que mais resistiu à crise” que se abateu sobre a Europa a partir de 2008, recordou o embaixador daquele país em Portugal, Jacek Kisielewski – em português, para que todos percebessem bem.

Mas Kisielewski quis sossegar os presentes sobre a possível instabilidade que o atual governo de direita pode trazer à economia: nada disso sucederá, assegurou, uma vez que o desenvolvimento da economia está perfeitamente assegurado.

Foi a Andrzej Arendarski, ex-ministro da Cooperação Económica com o Exterior, que coube dar a entender como é que a Polónia vai entrar no Top 10 do ranking das relações comerciais com Portugal. De algum modo, as diferenças entre os dois países não são muito acentuadas: há uma enorme predominância de pequenas e médias empresas, mas uma grande facilidade de crescimento, induzida por medidas governamentais eficazes.

As raízes já estão lançadas, disse: as exportações nacionais para a Polónia já valem quase 740 milhões de euros – o que equivale à 30ª posição de fornecedor. Em sete anos, Portugal chegará ao Top 10 – até porque, recordou o ex-ministro, atrás de Portugal vem parte substantiva da América do Sul.

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