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Isabel dos Santos diz que é alvo de perseguição para ser “neutralizada politicamente”

Numa entrevista à RTP3, Isabel dos Santos rejeitou irregularidades relativamente ao financiamentos do seus negócios, considerando que o processo de que é alvo em Angola é a forma de “neutralização de futuros candidatos políticos”.  Considera que é uma eliminação de “figuras que podem vir a ter protagonismo no futuro de Angola”.
  • Reuters
16 Janeiro 2020, 00h17

A empresária Isabel dos Santos afirmou esta quarta-feira que está a ser objeto de uma perseguição judicial em Luanda. Numa entrevista à RTP3, gravada em Londres, a filha do ex-presidente José Eduardo dos Santos adianta que o objetivo desta perseguição é ser “neutralizada politicamente”.

No centro do atual confronto de posições entre Isabel dos Santos e o Tribunal de Luanda está a decisão da Justiça angolana ter avançado com o arresto das suas contas bancárias e das participações sociais que detém no capital de empresas por considerar que os negócios de Isabel dos Santos prejudicaram o Estado mais de mil milhões de euros.

Em resposta às questões sobre alegadas irregularidades empresariais e às vantagens de que Isabel dos Santos terá beneficiado pela sua ligação a José Eduardo dos Santos – a forma como acedeu aos dinheiros públicos que terão permitido a aquisição de empresas e participações em negócios fora de Angola, nomeadamente na joalharia suíça De Grisogono e na Galp – Isabel dos Santos rejeitou irregularidades relativamente a estes financiamentos, considerando que o processo de que é alvo em Angola é a forma de “neutralização de futuros candidatos políticos”.  Considera que é uma eliminação de “figuras que podem vir a ter protagonismo no futuro de Angola”.

Isabel dos Santos mudou o entendimento público existente até à data sobre a família “Dos Santos”, que sustentava que não era uma dinastia política. Também sempre disse que a sua vida era dedicada às empresas e aos negócios.

Mas a sua atual situação judicial poderá levá-la a encarar um cenário político relativamente às próximas eleições presidenciais em Angola, agendadas para 2022. Se a filha de José Eduardo dos Santos avançar com uma candidatura, a próxima campanha para as presidenciais colocará Isabel dos Santos frente a João Lourenço.

“Muito escrutinada”

Mas entretanto há vários negócios de Isabel dos Santos que são questionados pela Justiça angolana. Sobretudo o negócio dos diamantes na Sodiam e na joalharia De Grisogono, e os negócios com a Sonangol e a respetiva participação na Galp.

Isabel dos Santos rejeitou em toda a entrevista ter prejudicado o Estado angolano – essa é o principal base da sua defesa para contestar as irregularidades apontadas pela Justiça, no arresto feito aos seus ativos. Alega que sempre foi “muito escrutinada”.

Diz que sempre foi “submetida a um grande nível de diligência”, inerente à sua condição de filha do ex-Presidente. Além disso, volta a referir que não lhe foi dada “a oportunidade de todo de me defender”.

“Não fomos informados de que havia um procedimento no Tribunal de Luanda. Nunca recebi uma notificação. Nunca nos foi dada ocasião de prestar nenhum esclarecimento”, insiste, reconhecendo que está a viver “um momento bastante difícil”.

As alegações da Justiça de Angola acusam Isabel dos Santos de lesar o Estado angolano em cerca de 1.136 milhões de dólares, o que Isabel dos Santos considera ser “uma sentença baseada em várias mentiras”.

Sobre essas “várias mentiras”, refere que foi escrito que teve uma reunião “com um árabe” para vender a sua participação na Unitel e que teria dado uma ordem de transferência de 10 milhões de euros para a Rússia, esclarecendo novamente que essas movimentações nunca aconteceram.

Acordo com Américo Amorim 

Sobre a Galp, Isabel dos Santos diz que a ideia de avançar para esse investimento partiu do empresário Américo Amorim. Contudo, o Ministério Público angolano sustenta que a sociedade ESPERAZA (participada pela sociedade EXEM e pela Sonangol), que detém 33% da Galp, foi constituída com um capital de 193 milhões de euros oriundo da Sonangol.

Isabel dos Santos invoca acordos que diz terem sido assinados e que garante estarem a ser cumpridos. “O investimento na Galp aconteceu em 2005 e 2006 e surge entre Américo Amorim e os acionistas do Banco BIC. Fomos almoçar à ilha do Mussulo.  Para além do BIC que tínhamos conseguido contruir e que era uma ponte muito importante para Portugal e para Angola, conseguimos uma ligação entre as economias dos nossos países. Na altura havia poucos negócios em comum. Américo Amorim já tinha tentando investir na Galp e faz uma proposta ao meu esposo” para “desenvolver o negócio com um grupo de investidores que conversam com os bancos para poder levantar o dinheiro de 1,3 mil milhões”, referiu.

“Só mais tarde, depois do negócio estar pensado, é que há um interesse da Sonangol que também queria fazer parte deste negócio. São assinados acordos. E todos os acordos são cumpridos. Os acordos são legais. Escrutinados entre advogados, bancos e reguladores e os acordos são cumpridos. A Sonangol faz um pagamento antecipado”, disse Isabel dos Santos.

“É preciso perceber onde é que a Sonangol estava naquele momento do ponto de vista financeiro. A Sonangol negoceia com as petrolíferas internacionais pagamentos antecipados. Chegou-se a posições concertadas, a posições comuns”, refere Isabel dos Santos, explicando que “o acordo efetuado é muito melhor que um litígio”.

“Momento difícil”

Este “é um momento muito difícil. Sempre trabalhei de uma maneira transparente. O nível de escrutínio de uma pessoa como eu é elevadíssimo. Sempre fui submetida a um grande nível de diligência”.

Isabel dos Santos garante que neste processo “os meus diretores nunca foram notificados”. Relativamente aos arrestos explica que visam “empresas que funcionam. São nove grandes empresas do país que empregam mais de 10 mil pessoas. Tive centenas de pessoas preocupadas a telefonar para mim. E até à data ainda não me foi entregue a sentença. Não nos foi entregue nenhum dossiê”. O arresto chega dia 30 de dezembro, “como uma surpresa”

“As alegações são falsas. A sentença é baseada em várias mentiras. Não tive reuniões com ninguém para vender a Unitel a um árabe. Nem sei como podem deduzir que a pessoa é arabe ou não é árabe. Não pedi para transferir dinheiro algum para a Rússia. Não é verdade”, refere Isabel dos Santos. “Não aconteceu e é isto que me preocupa. Ter a PGR a fazer representações em frente ao tribunal”.

“Sou uma empresária séria. Fiz algumas parcerias em que o Estado participou. Que tiveram retorno para o Estado”, argumenta. “Esta não é uma nova era, nem é uma nova Angola. Estes são processos que têm a ver com uma luta de poder”.  “Temos 40% de pessoas no desemprego. Os preços triplicaram”.

“Nós trabalhamos de uma maneira muito transparente. Estou a falar da Unitel, mas posso falar da ZAP. Não tenho a ver com a empresa De Grisogono”, refere Isabel dos Santos. “O que eu receio é que isto dê origem a processos políticos”, comenta Isabel dos Santos. “A minha postura no mundo empresarial sempre foi de transparência”, diz.

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