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Israel: Líder da direita radical Naftali Bennett é o novo primeiro-ministro

Dado como politicamente morto há dois anos e apesar do fraco resultado nas últimas legislativas, Bennett conseguiu manobrar e tornar-se indispensável nas complexas negociações para formar uma coligação governamental.
13 Junho 2021, 19h58

O líder da direita radical Naftali Bennett é o novo primeiro-ministro de Israel, substituindo Benjamin Netanyahu, há doze anos à frente do governo do Estado hebreu e de quem foi conselheiro e ministro.

Bennett lidera a formação Yamina, que conseguiu apenas sete deputados nas legislativas de março, mas o acordo de rotação da coligação anti-Netanyahu para formação de um governo determina que seja o primeiro a chefiar o executivo, cedendo depois o cargo a Yair Lapid (líder do partido centrista Yesh Atid, o segundo mais votado, com 17 deputados), que será primeiro-ministro até 2025.

A chefia do governo terá sido o preço desta figura da corrente do “nacionalismo religioso” para apoiar uma coligação heterogénea, que inclui partidos de esquerda, do centro, de direita e a formação árabe israelita Raam (islâmica).

Porque o Yamina defende quer um ultraliberalismo económico, como uma linha dura contra o Irão ou a anexação de quase dois terços da Cisjordânia, território palestiniano ocupado pelo exército israelita desde 1967.

Assim, menos de dois meses depois de ter prometido na televisão “não (…) deixar Lapid tornar-se primeiro-ministro” porque é “um homem de direita” e para si “os valores são importantes”, Bennett anunciou que formaria um governo com o seu “amigo”, o líder do Yesh Atid.

A alternativa, disse, era forçar o país a mais eleições, as quintas legislativas em dois anos. “Ou podemos parar esta loucura”, adiantou.

“Não será pedido a alguém para desistir de sua ideologia, mas todos terão que adiar a realização de alguns dos seus sonhos”, disse a propósito da heterogénea coligação governamental. “Vamos concentrar-nos no que pode ser feito, em vez de discutir sobre o que é impossível”, adiantou.

Filho de imigrantes norte-americanos nascido a 25 de março de 1972 em Haifa (norte de Israel), Naftali Bennett serviu na unidade de elite das Forças de Defesa de Israel “Sayeret Matkal”, como Netanyahu, e depois foi para a faculdade de Direito na Universidade Hebraica.

Na década de 2000 é uma das figuras destacadas da “nação das ‘startup’” com a sua empresa de cibersegurança Cyotta, que vende por 145 milhões de dólares (cerca de 119 milhões de euros) em 2005.

No ano seguinte dá o salto para a política, entrando para o partido Likud (direita), no qual se torna o braço direito de Benjamin Netanyahu.

Dois anos mais tarde, Bennett deixa o Likud para dirigir durante algum tempo o Conselho Yesha, a principal organização representante dos colonos israelitas na Cisjordânia, embora o milionário nunca tenha vivido num dos colonatos considerados ilegais pela lei internacional.

Em 2012, assume a liderança da formação Lar Judaico (sionismo religioso), que se junta depois a outros micro-partidos para formar a Yamina (A Direita), e desde 2013 já ocupou cinco pastas ministeriais.

A última, a da Defesa em 2020, levou-o no auge da pandemia do novo coronavírus em Israel a organizar uma espetacular mobilização do exército para gerir a crise.

Dado como politicamente morto há dois anos e apesar do fraco resultado nas últimas legislativas, Bennett conseguiu manobrar e tornar-se indispensável nas complexas negociações para formar uma coligação governamental.

Vai ser o primeiro chefe de governo religioso na história do Estado hebreu, usando o quipá e respeitando com rigor o Shabat, o dia de descanso do judaísmo, ao sábado.

“A esquerda não faz compromissos fáceis, quando me concede (…) o papel de primeiro-ministro”, declarou no início das negociações Bennett, que construiu toda a sua carreira política seguindo a linha da direita dura e partidária do “Grande Israel”.

Foi com as suas musculosas declarações nacionalistas que Naftali Bennett conseguiu seduzir uma parte dos colonos. Exemplos: o conflito com os palestinianos não pode ser resolvido, tem de ser suportado como “um estilhaço nas nádegas”; não há ocupação israelita na Cisjordânia porque “nunca houve um Estado palestiniano”; os “terroristas devem ser mortos, não libertados”, a propósito dos prisioneiros palestinianos em Israel.

Ao Irão prometeu um “Vietname” se a República Islâmica continuasse, segundo ele, a implantação militar na vizinha Síria.

Mas o pai de quatro filhos e residente na próspera cidade de Raanana (centro), também destoa do meio da direita religiosa por não ter como prioridade a questão do lugar da religião no Estado e por personificar um certo liberalismo de valores, por exemplo nas questões LGBT (Lésbicas, gays, bissexuais e transgénero).

Para Evan Gottesman, da organização judaica-norte-americana Israel Policy Forum, Naftali Bennett tem “uma imagem feita à medida para um público desesperado por um substituto legítimo para Netanyahu”.

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