A presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, está a ligar os pontos – “todos os caminhos levam a Putin” – e a desenvolver o argumento de que a pressão de Trump sobre a Ucrânia não foi um incidente isolado, mas parte de uma ligação perturbadora com o presidente russo, que remonta ao apurado pela investigação do procurador especial Robert Mueller em relação à alegada interferência russa nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016.
“Isto já dura há dois anos e meio”, declarou Pelosi.
“Isto não é sobre a Ucrânia. É sobre a Rússia. Quem beneficiou com a suspensão da nossa ajuda militar à Ucrânia? A Rússia”, insistiu.
O enquadramento está a assumir grande urgência e importância, tanto em termos práticos, quanto políticos, uma vez que os democratas estão a começar a redação dos artigos da acusação.
Um dos objetivos também é explicar por que razão os norte-americanos se devem preocupar por Trump ter pressionado a Ucrânia para anunciar uma investigação ao seu rival político Joe Biden, ao mesmo tempo que suspendeu a entrega de ajuda militar a Kiev, orçada em 400 milhões de dólares (362 milhões de euros), que o Congresso já tinha aprovado, a este aliado leste-europeu envolvido num conflito fronteiriço com a Federação Russa.
“Às vezes, as pessoas dizem ‘bem, não conheço a Ucrânia’, afirmou Pelosi na quinta-feira, ao anunciar a decisão de redigir a acusação formal. “Bem, o nosso adversário neste processo é a Rússia. Todos os caminhos levam a Putin. Percebam isto”, acentuou a presidente da Câmara dos Representantes.
Ao fazer traçar a evolução do comportamento de Trump desde a campanha eleitoral até aos dias de hoje, Pelosi une o partido democrata. Junta assim a ala esquerda, que quer mais acusações contra Trump, incluindo as do relatório de Mueller, e os centristas, que preferem ver a acusação cingida à Ucrânia.
Pelosi e a sua equipa estão a procurar passar a mensagem de que o processo de destituição é sobre a Ucrânia – o telefonema em que Trump pede um favor ao seu homólogo ucraniano -, mas também sobre um padrão de comportamento que pode renovar a preocupação com a atitude do multimilionário republicano face à Federação Russa, quando se preparam as eleições presidenciais de 2020.
O processo “mostra que um leopardo não consegue mudar as suas pintas”, afirmou Eric Swalwell, o democrata da comissão as Informações, da Câmara dos Representantes, que redigiu o relatório, com 300 páginas, que serve de base ao texto acusatório.
Com o texto da acusação esperado para os próximos dias e a votação na Câmara dos Representantes esperado por alturas do Natal, a equipa de Trump esforça-se por mostrar que o presidente não fez o que quer que fosse de errado.
Na sexta-feira, a Casa Branca confirmou que não vai participar nestes trabalhos da Câmara dos Representantes, considerando o processo “um simulacro”.
O advogado do presidente norte-americano, Pat Cipollone, escreveu, em mensagem eletrónica enviada ao presidente da comissão parlamentar da Justiça, Jerry Nadler: “Como sabe, o vosso inquérito com vista à acusação [de Trump] não tem qualquer fundamento”,
O texto da acusação deve assentar em dois grandes temas: abuso de poder e obstrução, mas também incluir corrupção.
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