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“Isto será uma enorme oportunidade para as nossas construtoras”

O presidente da AICEP, Luís de Castro Henriques, considera que as construtoras portuguesas têm ganho empreitadas às melhores do mundo, por isso vão ter agora muitas novas oportunidades.
12 Setembro 2020, 16h00

O Jornal Económico celebra no dia 16 de setembro o seu quarto aniversário. Nos quatro anos, todos eles de crescimento, o jornal visou sempre noticiar os principais acontecimentos na economia, na política, e no mundo. O olhar mais importante foi sempre, no entanto, para a frente – o que é que vai acontecer a seguir?  Numa altura de incertezas devido à pandemia, decidimos marcar o aniversário com trabalhos sobre o futuro. Oferecemos aos nossos leitores análises sobre as perspetivas da economia, dos mercados e da política (nacional e externa). Temos uma grande entrevista com o presidente da AICEP e também um Forum no qual 33 líderes sugerem as receitas para ajudar Portugal sair de uma crise inesperada. Obrigado pela preferência!

 

Luís de Castro Henriques, presidente da AICEP, diz que vêm aí muitos concursos públicos europeus para novos projetos de investimento em infraestruturas, o que será uma grande oportunidade para as empresas de construção.

Relativamente a eventuais projetos de investimento e infraestruturação, como o mercado português e as empresas do sector ficaram reduzidas na sua capacidade operativa, xi levado para outras geografias, não corremos o risco – na altura em que recebermos verbas avultadas da União Europeia –, desses projetos serem feitos por empresas estrangeiras que concorrem aos concursos que Portugal vai lançar?
Eu diria que temos de ver isso à luz de dois factos: O primeiro é que um plano de recuperação europeu implica medidas de recuperação europeias. Todos estes concursos vão ser feitos no âmbito europeu. É preciso ver a capacidade que as empresas têm de ganhar projetos em Portugal, mas também no resto da Europa. O segundo facto, que é muito relevante – e nesta última década provou-se isso –, é que o sector da construção demonstrou ser competitivo, e até particularmente resiliente a operar em várias geografias muito diversificadas. Temos vários exemplos disso. Isto será uma enorme oportunidade para as nossas construtoras, porque se elas são competitivas fora de Portugal, nada indica que não serão competitivas cá. É obvio que temos de reconhecer que sendo medidas europeias vão gerar maior concorrência a nível europeu, mas nós sabemos que as nossas empresas são competitivas. Haverá oportunidades para ganhar em Portugal mas também haverá para ganhar fora de Portugal. Temos exemplos de empresas portuguesas que nestes últimos anos têm ganho concursos relevantes de obras de altíssima especialidade – onde as nossas empresas operam muito bem –, e têm conseguido ganhar aos melhores do mundo. Portanto, se conseguiram isso, porque é que não conseguirão também em Portugal?

 

O movimento de saída das construtoras portuguesas e dos seus parques de máquinas para fora de Portugal poderá ter agora um sentido inverso, regressando a Portugal?
Também não estou a dizer para abandonarem as oportunidades fora. Esse é o meu trabalho de todos os dias. É importante ir a todos os sectores, ser transversal e manter a competitividade e manter a capacidade sistemática de inovar e de ser competitivo. Se conseguirmos isso, vencemos no nosso país e vencemos nos outros países. Hoje em dia a ambição de uma empresa média portuguesa, dada a escala de Portugal, tem de ser esta, de querer vencer na Europa. Essas empresas vão ser completamente vitoriosas em qualquer cenário.

 

A entrada das verbas da União Europeia – sobretudo as subvenções a fundo perdido, que vão durar até 2029, atendendo a que Portugal vai dispor de 57,9 mil milhões de euros, ou seja, cerca de 6,4 mil milhões de euros para investir em cada ano – também poderá catalisar outros investimentos externos que possam ser aplicados em Portugal e a entrada de novos investidores no mercado português?
Sim e não. Sim, porque, surgindo mecanismos dos nossos parceiros europeus – em que os principais são França, Alemanha e Espanha –, tendo esses países mecanismos para que as empresas aumentem o investimento e sobretudo havendo uma orientação europeia para fomentar o investimento na Europa, mantendo a tal resiliência, isso significa que vão surgir oportunidades com atração de investimento e de captação clara em subsegmentos de resiliência, não tenhamos dúvidas disso. Mas há um não que as pessoas esquecem: a captação de investimento é um negócio altamente competitivo. Não nos podemos esquecer que os nossos concorrentes europeus – e outros –, também vão ter mecanismos para atrair investimentos. Não duvido que vá surgir aqui um fenómeno de aumento enorme de concorrência. E mais uma vez temos de nos agarrar aos nossos fatores chave de competitividade e nesses temos de manter a competitividade para podermos ganhar por aí. Agora, não temos a mínima dúvida que também vamos entrar num mundo em que podemos ter mais ou menos projetos de investimento, mas, acima de tudo, que terá imensa concorrência.

 

Portugal estava na moda antes da pandemia. Quando a pandemia passar teremos condições para voltar a ‘surfar a mesma onda’?
Faço a pergunta ao contrário: por que não? Se eramos competitivos em 1 de março de 2020, e estava tudo a correr bem, como a nossa população não mudou – o principal fator que nós vendemos é o talento –, o talento mantêm-se, tal como a capacidade de adaptação, a competitividade infraestrutural, tudo isso se mantém. Não há nada que nos faça acreditar que não nos mantemos competitivos.

Todos estes planos de recuperação somados, aumentam muito a concorrência no jogo da captação de investimento, e isso só nos deve motivar a sermos melhores. Não há outra solução. Há oportunidades que se vão abrir. Isto vai continuar a ser uma corrida de talento e de capacidade de inovação.

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