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Fundo quer expulsar empresa de Trump de edifício de luxo no Panamá

Empresa hoteleira de Donald Trump é acusada de má gestão de um edifício de luxo no Panamá. O caso converteu-se numa disputa agreste e fez regressar a questão da incompatibilidade entre negócios e presidência.
  • Jonathan Ernst/REUTERS
17 Janeiro 2018, 07h00

Os donos de um edifício de luxo no Panamá – que engloba um hotel de luxo e apartamentos – o grupo Ithaca Capital Partners, com sede em Miami, está a tentar livrar-se da sociedade gestora do empreendimento, a Trump Hotels, que faz parte dos ativos empresariais do presidente dos Estados Unidos.

Segundo a agência Associated Press (AP), o caso está a ganhar proporções assinaláveis e revela até que ponto as duas posições de Trump, empresário e presidente, podem ser antagónicas e chocar em diversas situações.

O caso já chegou a um tribunal arbitral, com a Ithaca a pedir uma indemnização de 15 milhões de dólares por má gestão e más práticas financeiras, mas a Trump Hotels respondeu por sua vez com outro pedido de indemnização de 200 milhões, ao mesmo tempo que se negou a entregar as contas da sociedade ao tribunal.

Segundo adianta a AP, a Ithaca chegou a nomeara a Marriott International Inc. para encontrar outro gestor, mas, quan do uma equipa da consultora internacional chegou às instalações, os colaboradores da Trump Hotels ter-lhe-á barrado o acesso. Mais tarde, o diretor da empresa do presidente, Eric Danziger, contactou o diretor-geral da Marriott, Arne Sorenson, para queixar-se da visita.

Numa carta a outros proprietários, o grupo Ithaca acusou a Trump Hotels de “descarada administração, rutura de contrato, apropriação ilícita e incumprimento de deveres fiscais”. “A nossa empresa não tem futuro sendo administrada por um operador incompetente cuja marca está definitivamente manchada“ afirmou na carta Orestes Fintiklis, sócio e administrador da Ithaca Capital Partners. A Trump Hotels, disse ainda, “nega-se a manter os últimos vestígios de dignidade, abandonando pacificamente a nossa propriedade”.

Em resposta, a Trump Hotels acusa o grupo Ithaca de enganar os outros proprietários e de tentar liquidar de forma ilegal o contrato de gestão. “Desgraçadamente, são os proprietários quem carregarão as responsabilidades pelos maus atos de gestão de Fintiklis”, escreveu o vice-presidente executivo da Trump Hotels, Jeff Wagoner, numa carta aos proprietários do edifício.

O hotel Trump do Panamá, de 70 andares, prometia aos investidores a oportunidade de serem proprietários parciais de um dos melhores hotéis da América Central mas, desde que a construção terminou (em 2011), as vendas das frações (uma espécie de timesharing) não têm sido fáceis. As taxas de ocupação são baixas e os proprietários não recebem dividendos – para além de terem de pagar a manutenção e a gestão.

Os esforços para expulsar a Trump Hotels da gestão começaram no ano passado, depois de o grupo Ithaca ter comprado, em agosto, 202 unidades. O grupo e outros proprietários votaram em novembro a favor do despedimento da Trump Hotels, abrindo caminho para a reclamação que ascende aos 15 milhões de dólares. A intenção, segundo avança a AP, era proceder à alteração de forma discreta, mas a atuação da empresa de Trump precipitou os acontecimentos.

A ocupação do edifício nos últimos dias, em plena época alta, tem oscilado entre o 26 e 28%, e os proprietários afirmam que as declarações de Trump sobre os sul-americanos em geral e os mexicanos em particular têm afastado os clientes e outros eventuais investidores no enorme edifício.

O pedido de 200 milhões da parte de Trump alicerça-se num acordo assinado em fevereiro de 2017, segundo o qual o grupo Ithaca concordou não atuar “de nenhum outro modo contra os interesses da Trump Hotels”. Finitikis reconhece que a frase está no acordo, mas alega que a administração desleal e as más práticas da Trump Hotels invalidaram a cláusula.

O tema faz regressar à ordem do dia o assunto da incompatibilidade ou não entre os negócios de Trump e a sua presença na Casa Branca. Apesar da polémica que levantou – logo durante a campanha eleitoral – Trump recusou sempre desfazer-se dos seus negócios se se desse o caso de vir a ser presidente.

Para compor a eventual falta de ética da decisão, Trump acabou por decidir oferecer o seu ordenado de presidente a diversos gabinetes da administração – mensalmente e de forma rotativa.

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