De tanto ouvir falar em imparidades e crédito malparado, é fácil esquecer que o negócio dos bancos consiste em captar poupanças para de seguida conceder crédito, ganhando dinheiro com a margem obtida na diferença entre os juros cobrados nos empréstimos e os juros pagos nos depósitos. Esta margem era o principal motor dos lucros da banca, para lá das comissões e dos ganhos com operações financeiras, mas a grande crise da última década mudou as regras do jogo.

Além de se verem forçados a registar fortes perdas devido a créditos por pagar, os bancos tiveram de fazer cortes brutais a nível de pessoal e de redes de balcões, bem como de reforçar os rácios para fazer face às crescentes exigências regulatórias (muitas vezes com dinheiros públicos). E tiveram de fazer tudo isto num contexto de taxas de juro historicamente baixas, devido aos estímulos dos bancos centrais para reanimar a economia. Os depósitos são empréstimos que fazemos aos bancos, que os contabilizam no lado do passivo, mas hoje somos nós que lhes pagamos para guardarem as poupanças e não o contrário. Em contrapartida, a banca empresta dinheiro a taxas muito baixas, tendo como efeito secundário o excesso de liquidez que existe em mercados como o imobiliário.

A recuperação da economia europeia nos últimos anos levava a crer que as taxas de juro iriam voltar a subir já este ano e que a margem financeira dos bancos iria beneficiar, pelo que seria de esperar o regresso a uma certa normalidade. Porém, o BCE desfez esta ilusão quando tornou claro que, pelo contrário, poderá implementar novas medidas de estímulo, devido às reviravoltas na conjuntura macroeconómica.

Para os bancos portugueses e europeus, a manutenção de juros baixos por mais alguns anos – para mais num contexto de arrefecimento e de risco de “japonização” da economia – traz várias implicações. Uma será a necessidade de voltarem a focar-se na eficiência, cortando custos. Enquanto isso, têm de aumentar o produto bancário, com a subida das comissões e com a concessão de crédito, disputando os melhores clientes de forma concorrencial, mas sem perder de vista a necessidade de manter uma análise de risco prudente. Eventuais fusões poderão ajudar, conquanto não sirvam para juntar dois problemas, dando origem a outro maior.

A segunda implicação é que a banca terá de enfrentar o crescente desafio das FinTech e da digitalização numa posição desconfortável, a perder negócio e com as margens sob pressão, à semelhança do que tem acontecido nos últimos 15 anos em setores como os media, com os custos humanos, sociais e económicos que conhecemos.

No fim de contas, é quase como se os bancos tivessem de fazer a quadratura do círculo. Já foi mais fácil ser banqueiro.