Macron jogou muito esta semana. Segunda-feira jantou com Trump, foi recebido na Casa Branca na terça e vai ao Congresso na quarta-feira. Sexta-feira Angela Merkel visita a Casa Branca, mas a simpatia do presidente americano pende para o francês. Há pontos comuns entre eles, como a crítica à globalização, com a diferença de Trump privilegiar as barreiras aduaneiras e Macron querer antes proteger a Europa contra as assimetrias nas condições do jogo das trocas – como ele disse, quer proteção, não protecionismo. Com Merkel, a relação é mais complicada – no ano passado ela disse, em campanha, depois da cimeira do G7, que “a era em que podíamos depender de outros acabou.” Aliás, já Sigmar Gabriel, seu vice-Chanceler, tinha dito “Trump is the pioneer of a new authoritarian and chauvinist international movement.”

A agenda de Macron é complexa, pois estarão em cima da mesa assuntos complicados: o acordo sobre o levantamento das sanções ao Irão, que Trump quer cancelar, ao que aquele país respondeu ameaçando retomar o seu programa nuclear; a Síria, com a vontade americana de retirar a sua presença militar no país; as sanções impostas por Trump à Rússia, o que, no caso da Rusal, já fez os produtores europeus avisarem que iriam encerrar fundições de alumínio; e as tarifas que Trump quer impor às importações da União Europeia e que estão a criar o espectro de uma guerra comercial.

Macron é a melhor pessoa para fazer a ponte com os EUA e para manter o nível de cooperação entre os dois espaços. Mas, como disse Bruno Le Maire, Trump não pode querer o apoio da Europa tendo sobre a União uma espada de Dâmocles, a ameaça de aumento de tarifas. Um entendimento entre os dois homens é essencial para desanuviar um provável confronto que poria em causa a retoma da economia internacional, e que o FMI já considera estar em risco. Mas é mais que isto.

O ano de 2019 é crucial no desenho da Europa do Brexit, com as eleições europeias e a mudança de cadeiras nas instituições da UE – a Comissão terá novos comissários e novo presidente. As eleições, em particular, podem determinar uma mudança nos equilíbrios das forças políticas europeias. A subida dos populismos, de que as eleições italianas são o episódio mais recente, do autoritarismo na Europa Oriental (da Polónia à Hungria), da direita na Europa Central (veja-se a AfD como principal partido de oposição na Alemanha ou a Áustria), torna difícil antever a Europa de 2019.

Gideon Rose cita, no “Is Democracy dying?” da última Foreign Affairs, um amigo latino-americano que disse, sobre a centralização do poder nos governos, a politização do poder judicial e os ataques à liberdade de imprensa, “we’ve seen this movie before, just never in English”. Isto não faz parte da “nossa” Europa. Com Merkel ferida nas eleições alemãs, é crucial que Macron, com a sua convicção europeia, consiga ir tendo algumas vitórias para poder dar força a um projeto europeu que prova hoje ser mais frágil do que se pensava.