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Jerónimo de Sousa: “Caiu por terra a teoria de que estamos todos no mesmo barco”

O secretário-geral do PCP diz que “a ilusão de que vai tudo ficar bem” “caiu por terra” com a pandemia e o encerramento de unidades educativas e critica “a medida do Governo de levar os estudantes do ensino profissional a terem de realizar uma autêntica volta pelo país para fazerem exames para os quais não foram preparados, para concorrer a meia dúzia de vagas”.
30 Maio 2020, 16h36

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, disse este sábado que, com a pandemia e o encerramento de unidades educativas, “caiu por terra” a teoria de que todos estão no mesmo barco e “a ilusão de que vai tudo ficar bem”.

“Com a decisão de encerramento de todas as unidades do sistema educativo e de prosseguir o ano letivo com aulas à distância, caiu por terra a teoria de que estamos todos no mesmo barco e a ilusão de que vai tudo ficar bem”, disse Jerónimo de Sousa numa iniciativa da JCP de defesa da escola pública em contexto de covid-19, que decorreu no terraço da Voz do Operário, em Lisboa.

Como sustento da sua argumentação, o secretário-geral do PCP lembrou que há “mais de 50 mil jovens sem acesso à internet, sem computador ou tendo de o partilhar com pais e irmãos”, e que milhares desses jovens estão com pais que “têm, ao mesmo tempo, de estar em teletrabalho”.

“Centenas de milhar de jovens que não tiveram acesso a fontes de informação, porque as bibliotecas estavam fechadas, estudantes mudados de residência, encerramento de cantinas e refeitórios” foram outros dos pontos realçados pelo deputado.

Jerónimo de Sousa considerou que “os anúncios de que a educação à distância se vai generalizar nos próximos anos deixam bem visíveis objetivos de contenção de custos”, acrescentando que “o ensino presencial tem uma centralidade e uma importância no processo de ensino-aprendizagem que não é substituível por experiências à distância”.

“O papel dos professores na sala de aula é imprescindível no acompanhamento dos alunos e esta é uma questão crucial”, sustentou.

No seu entender, os problemas que a pandemia de covid-19 veio evidenciar revelam “as dores de décadas de subfinanciamento promovidas por PS, PSD e CDS”.

Apesar de não abordar novamente o tema das injeções do Novo Banco, acrescentou, o PCP lembrará que “para as PPP [parcerias público-privadas] rodoviárias e da saúde estão previstos milhares de milhões de euros”.

“A escola pública, nos seus diversos patamares, da infância ao ensino superior, exige, pois, opções de política orçamental e de política educativa que os sucessivos governos não têm assumido”, reiterou, dando especial ênfase “à retirada dos elementos que podem ser prejudiciais, designadamente o amianto”, como opção de investimento prioritária.

O líder do PCP criticou também a “recente medida do Governo de levar os estudantes do ensino profissional a terem de realizar uma autêntica volta pelo país para fazerem exames para os quais não foram preparados, para concorrer a meia dúzia de vagas”. A medida, referiu, foi apresentada como uma nova oportunidade, mas “não passa de mais uma dificuldade”.

O dirigente considerou estar em causa “uma perigosa experiência para todos os candidatos ao ensino superior, no futuro”, voltando a referir a temática do pagamento de propinas.

“O exame nacional de acesso ao ensino superior não vai atenuar diferenças, antes as vai agravar. O pagamento das propinas não vai igualizar ninguém, antes vai carregar mais nos que menos recursos têm, incluindo muitos que agora ficaram sem eles”, argumentou.

O secretário-geral do PCP salientou ainda o papel da ação social escolar, “assegurando apoios para todas as dimensões da vida escolar – transportes, livros e material escolar, alimentação, alojamento, atividades culturais e desportivas”.

“Ação Social que, além do mais, deve dar respostas céleres, não se entendendo como é que no mês de maio, quase no final do ano letivo, há ainda milhares de estudantes que não têm respostas definitivas às suas candidaturas”, alertou.

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