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Jihadistas ocidentais em fuga da Síria: ninguém sabe o que lhes fazer

Centenas de jihadistas ocidentais do Daesh estão em prisões sírias devido à falta de interesse dos seus países de origem em os receber. O sistema, por outro lado, não sabe o que lhes fazer.
  • Azad Lashkaril/REUTERS
13 Novembro 2018, 09h30

Centenas de jihadistas que ao longo da última década partiram de países estrangeiros para a Síria tornando-se membros do autoproclamado Estado Islâmico estão a ‘apodrecer’ em prisões algures no norte da Síria – em condições que não são difíceis de imaginar face ao estado geral do país – sem que o regime de Bashar al-Assad pareça saber muito bem o que lhes fazer – a não ser esperar que a natureza (possivelmente ajudada por mão humana) resolva o assunto.

No meio destas centenas, há muitos jovens oriundos de países europeus, que partiram à procura de um sonho qualquer que entretanto se vai desvanecendo e que acabará por definhar, colocando-os numa posição pouco invejável.

Desde logo porque os países de origem não estão minimamente interessados em recebê-los de volta. Em Inglaterra, por exemplo, aos cidadãos britânicos que partiram para a Síria foi-lhes retirada a nacionalidade: já não são ingleses, e como também não são sírios e o Estado Islâmico praticamente não existe, ninguém parece saber ao certo o que lhes fazer.

Abdulkarim Omar, porta-voz da Federação da Síria do Norte, região curda autónoma também conhecida como Curdistão sírio e um dos movimentos mais eficazes na luta contra o Daesh, revelou, citado por vários jornais, que a região tem em seu poder 790 combatentes jihadistas, aos quais se acrescentam 584 mulheres e 1.248 menores.

No total, estão ali 46 nacionalidades. “É perigoso porque a área não é estável e porque a Turquia está a atacar” as regiões curdas também elas autoproclamadas independentes, disse Omar numa visita recente a Bruxelas.

Alexanda Kotey e El Shafee Elsheikhsão dois casos paradigmáticos. Eles são dois dos quatro jihadistas que ficaram conhecidos como os ‘Beatles’ por causa do seu forte sotaque britânico. Os outros eram Mohammed Emwazi (morto pela aviação da coligação internacional em Raqa em novembro de 2015) e Aine Davis (condenado à prisão na Turquia).

Kotey e Sheikh foram presos em janeiro pelas forças curdos quando tentavam fugir para a Turquia. Fontes do governo britânico informaram que existe um processo legal em andamento e o ministro da Segurança, Ben Wallace, teve de responder sobre os dois jihadistas numa sessão parlamentar em julho, em que afirmou que há conversações com os Estados Unidos para chegarem a um entendimento.

A França é outro país que tem um elevado número de jihadistas nas prisões controladas pelos curdos e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian, afirmou em fevereiro passado que uma centena de franceses ligados ao ISIS estariam presos, dos quais cerca de 40 seriam combatentes.

Alguns especialistas colocam a hipótese de que o problema deve ser resolvido através da criação de um tribunal penal internacional – semelhante ao que julgou a guerra nos Balcãs – com o benefício de que, por essa via, haveria um ‘selo’ das Nações Unidas. Mas isso pode colidir com o que a Síria quer fazer dos seus próprios prisioneiros: com certeza que o regime quer ter uma atitude que desmotive quaisquer outras operações do género no futuro.

A organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) diz que Bagdad deteve 7.374 jihadistas, 92 dos quais condenados à morte, desde 2014 mas que o número pode chegar aos 20 mil, de acordo com fontes iraquianas citadas pela organização.

Aparentemente, as forças internacionais não querem ter em mãos um banho de sangue: os Estados Unidos têm retirado para o Iraque muitos jihadistas não-sírios (franceses, australianos e libaneses), na tentativa de lhes encontrarem uma saída mais concernente com as práticas da Justiça ocidental. De qualquer modo, o problema está longe de ter uma solução à vista.

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