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João Benedito: “É fundamental o clube manter a maioria do capital da SAD”

A saúde financeira do Sporting passa por recuperar o acordo com a banca, diz o candidato, que promete ir à última instância nos casos das rescisões.
  • Cristina Bernardo
12 Agosto 2018, 12h00

Uma semana depois ter anunciado a candidatura à liderança dos leões, João Benedito explica as estratégias para recuperar o clube tanto a nível desportivo como financeiro. Prefere falar do futuro e não do passado atribulado do Sporting. Sobre Bruno de Carvalho diz que não lhe cabe comentar a candidatura do ex-presidente, mas sublinha que irá aceitar as decisões do conselho fiscal e disciplinar.

Já se falava há algum tempo da sua candidatura. Porquê agora quando há oito candidatos?

Se quisermos identificar candidatos só o poderemos fazer após 8 de agosto, quando forem apresentadas as listas e depois quando as intenções se tornarem objetivamente candidaturas. O que aconteceu da minha parte teve a ver com aquilo que foram os desígnios colocados pelos sócios do SCP na assembleia geral, e só a partir daí havendo essa intenção dos sócios em dizer que estariam disponíveis para ouvir outros rumos para o clube, foi quando comecei a preparar a candidatura.

O que correu mal nas gestões mais recentes do clube?

Em relação ao passado, aquilo que tenho referido tem a ver com a valorização daquilo que são os aspetos positivos, que aconteceram no passado. É a única coisa que interessa falar. Valorizamos como é lógico a maioria da manutenção da SAD pelo clube, aquilo que são o incremento de novos sócios, a própria militância, a luta constante pela verdade desportiva. Há situações que já identificamos que estão bem e surgiram do passado. Não estamos aqui para revolucionar aquilo que está bem, mas preencher o que é o futuro.

O que é que vai ser preciso nos primeiros meses do mandato para trazer estabilidade ao clube?

A própria resolução de dia 8 para dia 9 [de setembro] será logo o primeiro foco de estabilidade para nós deixarmos de caminhar nestas águas mais conturbadas, de quem está, a comissão de gestão, quem são os órgãos sociais, quem não são. Depois, a implementação de medidas e do projeto, por fases. Depois há coisas a fazer internamente, nomeadamente as questões financeiras que terão de ser tratadas, algumas a curto outras a longo prazo. Mas destaco primeiro que tudo a questão da ‘família Sporting’ trazer e advir essa estabilidade.

Bruno de Carvalho mostrou intenção de se candidatar. Acha que deve ser autorizado?

Bruno de Carvalho foi presidente do Sporting até há pouco tempo, destituído em assembleia geral e posteriormente, estão em curso processos que são do foro do conselho fiscal e disciplinar. Estou convicto que não seja agradável por parte de um candidato à presidência do Sporting estar a comentar esse tipo de situações, dado que é uma situação que está a ser acompanhada da melhor forma. O que me cabe a mim é aceitar todas as decisões que advenham da conclusão desse processo.

Qual é a estratégia desportiva do seu projeto para o Sporting?

Apresentámos um projeto que visa congregar várias áreas, até porque com base na minha experiência e das pessoas que integram a direção, ainda não apresentámos todas as pessoas que estão associadas a esses órgãos sociais, mas há uma cultura desportiva identificada em volta dessas pessoas. Já estiveram dentro do campo, sabem o que é estar dentro do campo, mas a juntar a isso têm passados brilhantes, capazes. Pessoas que mudaram financeira e organicamente as suas organizações onde estão inseridas sejam federações, ou empresas. Além disso, algumas são da área da gestão, que são formadas nessa área e somos ex-funcionários do clube. Foi construído um programa com cinco vetores para o Sporting: a cultura, a gestão, a família, a marca e os títulos. Uma medida muito revolucionária tem a ver com o Sporting Performance. Será um gabinete de potenciação daquilo que são as capacidades: físicas, atléticas, técnicas, táticas, psicológicas e afins que estão inerentes à atividade do próprio atleta. Em relação ao segundo vetor nós temos plena consciência de que há uma situação que tem de ser avaliada. Faremos as nossas contas e auditorias para depois elaborarmos um projeto a três anos, para nos tornarmos credíveis em termos daquilo que são os mercados.

Sem Liga dos Campeões é importante fazer um bom campeonato para valorizar jogadores e equilibrar contas?

Completamente. A sustentação financeira e institucional de uma organização desportiva passa pelos seus títulos e a forma como geram os ativos. No Sporting, fala-se sempre em campanha eleitoral daquilo que são os supostos investidores, pessoas que vêm dos países mais diversos do mundo e depois ninguém aparece. O nosso ‘investidor’ são sempre os resultados desportivos, ou as vendas dos jogadores. Olhamos para o caso do Futebol Clube do Porto que por ter sido campeão, teve receitas acrescidas de quase 80 milhões de euros. E nós andamos aqui em termos eleitorais sempre à procura de um investidor, ou de alguém que nos vá fazer face a estas necessidades e nunca aparecem.

Qual é a estratégia para minimizar os danos que o clube tem sofrido e criar uma época que dê sucesso?

Vamos sempre tentar lutar pelo título da forma mais racional, que aqueles que já ganharam títulos o sabem fazer. Esta questão do 31 de agosto [fecho do mercado de transferências], podemos não conseguir mudar pessoas, mas por vezes podemos conseguir mudar as mentalidades.

Como é que vai ser a relação com a banca?

Falando daquilo que é a estrutura da dívida do SCP, podemos apontar para cerca de 400 milhões de euros, em relação aquilo que seja o passivo consolidado. Falando mais naquilo que é a SAD e indo já ao aspeto das VMOC [Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis], falou-se que o Sporting podia ter um acordo com a banca, para a aquisição dessas VMOC e manter a maioria do capital da SAD. Essa aquisição seria feita por 30% do valor total dos 127 milhões, por 40,5 milhões de euros. Depois, há, em termos de necessidades de empréstimos obrigacionistas, um empréstimo que foi passado de maio para novembro, vamos ter que fazer esse tipo de emissão, porque não podemos correr o risco de entrar em default, porque foi acordado com os subscritores. Depois, foi referido que existiriam mais 15 milhões que teriam de ser colocados para uma questão de tesouraria, necessidades imediatas do clube e da SAD. Não iremos abdicar a maioria do capital social da SAD. É fundamental.

Porquê?

É uma questão de identidade, de cultura, de educação e princípios. Se formos olhar à base daquilo que foram os nossos fundadores, nós tivemos logo na nossa fundação através também de ex-atletas, houve uma ajuda financeira por parte do visconde [de Alvalade]. Tivemos sempre este tipo de situações que vem ao longo dos anos, mas nunca perdemos a nossa identidade e não vai ser connosco que a vamos perder e tudo faremos para a recuperar ainda mais. Havemos de falar com os nossos acionistas perceber qual é que é a posição deles à manutenção, ou dissolução do seu capital na SAD. Portanto, identifica-se logo aqui que as nossas soluções financeiras não passarão pelo lado do capital, mas pela dívida. Como é que vamos dar essa imagem nos mercados em relação àquilo que é a gestão do Sporting? Tem de se transmitir uma imagem de credibilidade. Através da implementação de um programa não só para o próximo ano, mas a três anos, queremos dar essa imagem de credibilidade para os mercados, para que as necessidades imediatas sejam tidas e para que a longo prazo não estejamos a fazer o revolving da dívida. Isto depois entronca em algumas situações mais específicas, nomeadamente daquilo que é a dívida imediata do Sporting Clube de Portugal e da SAD, e também nas obrigações que são tidas a médio-longo prazo. Desta forma, iremos tentar recuperar o acordo que estava estipulado com a banca para aquisição das VMOC, tudo iremos fazer para que o empréstimo obrigacionista de novembro seja colocado com o aval da CMVM à taxa mais benéfica possível. Identificamos para a próxima época um conjunto de receitas que poderão ascender aos 80 milhões de euros e um conjunto de necessidades que poderão estar a rondar entre os 100 e os 120 milhões de euros. As áreas que são identificadas para isso, nós temos a entrada em vigor de um contrato com a NOS, que envolve 25 a 30 milhões de euros. Podemos apontar para as receitas da Liga Europa, a rondar os 7,5 milhões de euros. Não são as receitas que esperamos, nem onde o clube devia estar. O Sporting tem de estar na Champions. Temos também outro tipo de receitas ao nível da bilheteira, gameboxes, merchandising, que nos darão o complemento daquilo que são as receitas para os restantes valores. Para um clube desportivo como nós sabemos, com a venda de jogadores não são valores que são problemáticos. Temos é de conseguir identificar é o lado da dívida e perceber o que efetivamente em termos de cash flow estão a gerar estas vendas imediatas de jogadores.

Em relação aos jogadores que rescindiram com o clube e não regressaram, qual vai ser a posição desta direção?

Estamos a ser colocados na direção do Sporting pelos sócios. Defenderemos acima de tudo os interesses do Sporting Clube de Portugal. Levaremos ao limite a defesa incessante do clube, não importa quem esteja do lado de lá.

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