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João Duque: “Acordo do Eurogrupo não vai ser suficiente, mas é a resposta possível”

“Eu achei que isto foi uma tentativa para se começar a fazer alguma coisa. Isto não vai ser suficiente. É a resposta possível, para já”, disse o economista ao Jornal Económico.
  • Cristina Bernardo
11 Abril 2020, 15h14

Os ministros das Finanças da União Europeia chegaram a acordo para um pacote de 540 mil milhões de euros para os países enfrentarem a crise provocada pela pandemia do coronavírus.

Para o economista João Duque, este acordo é um primeiro passo, mas não vai ser suficiente para permitir aos países enfrentarem folgadamente a grave crise económica que se aproxima devido à paragem da maior parte da economia europeia desde março.

“Eu achei que isto foi uma tentativa para se começar a fazer alguma coisa. Isto não vai ser suficiente. É a resposta possível, para já”, disse o economista ao Jornal Económico.

“Acho que se está a tentar imaginar que a crise ataca todos da mesma maneira, e não ataca. Isto não é verdade, a crise económica não vai ter o mesmo impacto em todas as economias. As necessidades são diferentes, os pontos de partida são diferentes”, afirmou.

“De qualquer das formas, é sempre um passo importante. Acredito que um segundo passo pode ser mais fácil de dar. Já se conhecem melhor as linhas vermelhas de cada um”, destacou o professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG).

O dinheiro vai chegar aos estados-membros da zona euro através do fundo Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE). Já as empresas poderão aceder a estes fundos através do Banco Europeu de Investimento (BEI), enquanto os apoios aos trabalhadores vão ter lugar através do novo instrumento da Comissão Europeia, o SURE.

João Duque aponta que, por um lado, um acordo menos ambicioso é forma de “tentar forçar os estados a redefinir os seus orçamentos para modificar internamente as suas politicas económicas e para orientarem os orçamentos para aquilo que necessitam verdadeiramente e não outras coisas”.

A emissão de coronabonds – a mutualização de dívida – tem sido um dos temas quentes dos vários encontros de ministros europeus das Finanças ao longo das últimas semanas, com a Europa a formar-se em dois blocos: os apoiantes de coronabonds, liderados por Espanha e Itália, e apoiados por Portugal; os opositores liderados pelos Países Baixos, e apoiados por países como Áustria e Finlândia.

Sobre este tema, que ficou de fora do acordo alcançado pelo Eurogrupo, João Duque considera que este não é o momento adequado para falar de mutualização de dívida.

“Os coronabonds só se poderiam ter emitido num período em que ninguém precisa de dinheiro, em que todos não precisam de dinheiro. Quando uns estão desesperados por dinheiro e outros não estão, uns tem necessidade muitos diferentes e tem capacidades diferentes, é evidente que isto não funciona”, apontou.

“O instrumento é interessante e provavelmente passaria a ser o benchmark de referência no mercado. Devia começar se por aí, criar um instrumento que não era para acudir a necessidades de ninguém, quando as taxas de juros de todos fossem próximas, estava tudo estável, então começava-se a emitir um instrumento num momento em que não era preciso dinheiro para ninguém”, destacou o economista.

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