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João Lourenço chega ao poder de Angola com desafios pela frente

Os resultados oficiais das eleições em Angola serão divulgados este domingo e João Lourenço deverá tornar-se presidente do país. Diminuição do apoio popular, crise económica devido à dependência ao petróleo, crise de divisas e um setor financeiro deficiente são algumas das questões com que o novo chefe de Estado terá de lidar.
3 Setembro 2017, 10h00

A chegada de João Lourenço ao poder de Angola, que deverá ser anunciada oficialmente este domingo, oferece estabilidade política ao país e promove uma continuidade das políticas económicas. No entanto, o presidente-eleito vai iniciar um mandato pleno de desafios, segundo a avaliação da agência de notação, Moody’s, às eleições presidenciais em Angola.

“A 23 de agosto, as eleições legislativas realizadas em Angola marcaram o fim de 38 anos de poder do presidente José Eduardo dos Santos, o segundo chefe de estado mais duradouro de África”, lembra o relatório da Moody’s.

Os primeiros resultados provisórios das eleições indicaram a vitória esperada do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) com pouco mais de 60% dos votos. “Embora isso resulte numa maioria forte no parlamento, ainda reflete uma erosão do apoio ao partido, que ganhou com 82% e 72% dos votos nas eleições de 2008 e 2012, respetivamente”, aponta.

A Moody’s salienta ainda as dificuldades económicas atuais em Angola, em parte devido à economia fortemente dependente do mercado petrolífero e causadas pela queda acentuada dos preços da matéria-prima nos últimos dois anos.

Segunda a agência, o principal desafio que João Lourenço vai enfrentar está relacionado com a crise económica, que explica em parte a queda do apoio popular.

A economia angolana é fortemente dependente do mercado petrolífero, sendo que 30% do produto interno bruto (PIB) e 95% das exportações provêm do petróleo. O país tem sido, por isso, penalizado pela descida dos preços da matéria-prima a nível global, da mesma forma que beneficiou quando o crude cotou muito acima dos 100 dólares, no verão de 2014. Desde então, o preço do barril tem caído a pique, para menos de 30 dólares, no início do ano passado.

Também a banca deverá ser um problema para o novo governo angolano, com a Moody’s a considerar que a estabilização do setor financeiro será essencial para a economia. No entanto, as deficiências da regulação, cujas falhas levou a questões como a queda do BESA em 2014, são um problema que terá de ser enfrentado por João Lourenço, de acordo com a agência.

Além da crise económica e financeira e da diminuição da aprovação, o ex-ministro da Defesa vai herdar um país afundado numa crise de divisas sem precedentes, também fruto da monocultura que constitui a base de toda a sua riqueza. Angola ressentiu-se da diminuição das receitas provenientes do petróleo, que levou a uma quebra da entrada de divisas no país.

“Angola vai continuar a ter de fazer um difícil equilíbrio entre preservar reservas de divisas estrangeiras e em providenciar dólares suficientes à economia”, explica a Moody’s.

A agência sublinha que todos estes fatores resultam num desafio social e prevê que o Governo angolano tenha uma capacidade bastante limitada de apoiar a economia real. Com a inflação no país nos 15%, a Moody’s antecipa que o poder de compra das famílias seja castigado, aumentando a pressão social no país.

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