Joaquim Pina Moura deixou-nos, na sua última batalha. Tive sempre a sorte de trabalhar com pessoas extraordinárias. Joaquim foi com quem trabalhei mais tempo e um trabalho mais profundo, mais desafiador e mais exigente.

Foi com ele que mais aprendi e com quem senti mais responsabilidades. Houve momentos muito bons e momentos menos bons. No Ministério das Finanças, quando as coisas estavam duras, costumava dizer que não podíamos recuar porque atrás de nós estava o rio. E íamos em frente, com mais força.

O Joaquim sempre foi um líder de equipas. Nas Finanças como na Economia juntava uma vintena de pessoas à volta da mesa, Secretários de Estado, Diretores-Gerais, Chefes de Gabinete, Assessores, todos participavam e a todos fazia sentir como eram parte da decisão, como cada um era importante. Todos, sem exceção.

Recordo o dia em que um segurança do Ministério lhe sugeriu em pleno corredor, depois de o ter ouvido apelar a que se poupasse despesa inútil, que se trocassem as lâmpadas incandescentes por lâmpadas de baixo consumo, isto em finais dos anos 90, quando ainda não se falava da coisa. Porque também queria ajudar, porque o ministro tinha pedido.

Raciocínio estratégico apurado, traçava os planos de ataque para os problemas e distribuía tarefas. Reforma fiscal, reforma da despesa pública, os problemas eram identificados e as soluções imaginadas, até aos mais ínfimos pormenores porque – importante lição que com ele aprendi – as coisas só falham nos detalhes. Portanto, antecipava-se e planificava-se, ao pormenor.

E nem sempre bastava, como quando chamou a atenção para a encruzilhada (sic) em que o país se encontrava e a necessidade de mudar de rumo. Não deu certo, e foi pena. Para todos. E recordo o sentido de humor fino, que usava habilmente para “desminar”, como quando recusou o título de superministro, preferindo que se falasse antes, à semelhança da gasolina, de um ministro “aditivado”.

Uma das coisas que mais me marcou foi a sua preocupação com os outros. Quantas vezes saímos tarde do Ministério, ele a conduzir porque queria poupar os motoristas, que se tinham que levantar cedo no dia seguinte.

No Ministério cumprimentava todos, qualquer que fosse a sua função, e interessava-se pelas suas famílias. Quando o torreão do Ministério abriu rachas e foi fechado o início da Av. Infante D. Henrique, mandou abrir o Ministério – coisa nunca vista – para que quem saía dos barcos e ia para o Terreiro do Paço não tivesse que contornar o edifício. Porque ele era assim.

Agora, estás e continuas nas nossas memórias. Até à vista, Joaquim.