Depois dos complexos avatares dos anos de brasa da Revolução, Portugal estava, nos anos 80 do século passado, numa espécie de limbo em que o país e a economia esperavam o passo seguinte, num frémito que tinha muito pouco de empreendedor ou de empresarial. Mas o país sabia qual era esse passo seguinte: a entrada na Comunidade Económica Europeia. Era mais que um sinal: era a certeza de uma envolvente que marcaria a sociedade e a economia para as décadas seguintes, e o edifício que vinha sendo construído desde 1957 dava muito pouca margem ao improviso e à incerteza.
Mesmo assim, enquanto muitos esperavam, também havia os que cumpriam a máxima de Geraldo Vandré, advogado e músico brasileiro: ‘quem sabe faz a hora, não espera acontecer’. Aos 23 anos, José Cardoso, em 1984, dois anos antes da plena adesão de Portugal à CEE, José Cardoso fundou a sua primeira empresa, a Fregal – Transportes Internacionais, Lda. Com a abertura das fronteiras a um mercado que até então era apenas um sonho e de que quase ninguém tinha qualquer vislumbre (até porque a Espanha seguia no mesmo sentido minguado de Portugal), era claro que o que passasse a chegar e o que começasse a partir teria de ser transportado.
Em 1989, quando se perspetivava uma abertura ainda mais radical das fronteiras, a pequena empresa nacional estabelece uma joint-venture com os franceses da Graveleau, introduzindo a marca no mercado português. Os negócios corriam bem – a tal ponto que o grupo francês ‘caiu’ no interesse expansionista dos alemães do grupo Dachser – atualmente um gigante com mais de seis mil milhões de euros de volume de negócios e cerca de 30 mil empregados.
No final dos anos 90, a Graveleau Portugal passa a integrar o Grupo Dachser, empresa onde José Cardoso assumiu, até ao final de 2012, o cargo de administrador-delegado para o território nacional. Os últimos anos foram menos fáceis: “a partir de 2010 começámos a perder autonomia” e o gestor como que sentiu a nostalgia de poder decidir sem ter de fazer telefonemas em línguas estrangeiras. Saiu.
A KLOG foi fundada em agosto de 2012, “com o objetivo de se tornar uma alternativa de valor acrescentado no setor da logística e transportes, atuando nos diferentes segmentos: terrestre, marítimo, aéreo multimodal (short sea e rail) e logística contratual”. Além da aposta natural no mercado europeu, a empresa tem vindo também a consolidar a presença no Magrebe. “As condições para a criação da empresa de logística e transportes eram três: dinheiro, competências e networking’. Tinham tudo: José Cardoso e o sócio, Egídio Lopes (que atualmente dividem o capital social 51%/49%), não encontraram por que recusar a oportunidade. Até porque a empresa conta desde a sua fundação “com a confiança e apoio de grandes grupos internacionais na área da logística e transportes, que encontraram na KLOG um parceiro que responde às necessidades específicas com soluções personalizadas. No que toca à componente financeira, os investimentos foram realizados com capitais próprios”. Desde 2012 até 2018, a empresa já investiu mais de 2,5 milhões de euros.
Em junho de 2013, a KLOG firmou uma importante parceria com o grupo Geodis, “uma das mais prestigiadas redes mundiais de transporte e logística, para o negócio aéreo e marítimo”. No mês seguinte, para o serviço para a região do Magrebe, tornou-se parceira do grupo Millitzer & Münch.
No mercado nacional, a KLOG inaugurou, no final de 2017, as novas instalações no Porto (perto do aeroporto Francisco Sá Carneiro). As novas infraestruturas – que são o head office e a filial da empresa no Porto, contando com os serviços de todas as divisões (Land, Air & Sea, P&S Cargo e Logística Contratual) – representaram um investimento de 750 mil euros e 6.500 metros quadrados de armazém para cross-docking, com 25 portas a cais, e 2.000 metros quadrados para área de escritório.
Na região de Lisboa (Alverca Park), detém uma plataforma com uma área total de 2.500 metros quadrados. Em 2014, a KLOG inaugurou a plataforma logística em Coimbra (Mercado Abastecedor). Dado o número crescente de clientes na região centro, a KLOG investiu recentemente 500 mil euros na sua extensão, atingindo os 3.000 metros quadrados de armazém e 200 metros quadrados de escritório.
Os principais destinos dos produtos transportados por esta via são Alemanha, França, China, Brasil, Índia, Angola e Moçambique, e o que enche os contentores vem dos setores têxtil, calçado, cortiça, mobiliário, metalurgia, cerâmica, automóvel e construção civil – sendo que a empresa efetua serviços para os mercados europeu, americano, asiático e africano.
Em dezembro de 2015, a KLOG reforçou as saídas diárias no segmento short sea, garantindo o reforço das ligações ao mercado europeu, nomeadamente a Inglaterra, França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Polónia e Escandinávia. A empresa foi ainda escolhida para transportar a maior tenda do mundo para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, tendo coordenado todo o processo de logística e transporte desde a fábrica da Irmafer (responsável pela conceção da tenda) até ao Brasil.
Em março de 2017, a KLOG lançou dois serviços no segmento Air & Sea, essencial para o mercado asiático. As duas novas soluções são apoiadas através da parceria que a KLOG tem com a Geodis.
Mas a rede europeia da KLOG continua a ser uma das suas mais-valias: efetua serviços de grupagem para toda a Europa, com saídas diárias, tendo sido este segmento um dos principais eixos estratégicos da empresa nos últimos anos. Em julho de 2017, a empresa abriu dois novos hubs em França e na Alemanha, o que permitiu a redução do tempo de trânsito na entrega de mercadoria. A abertura das plataformas em regiões centrais também permite à KLOG intensificar a sua expansão para mercados da Europa Central, Escandinávia e o Leste europeu.
Em junho de 2016, a KLOG estabeleceu uma parceria com a Transaher, grupo espanhol com 25 anos de existência que conta na sua rede de distribuição com 38 hubs em Espanha. Já em dezembro de 2016, a KLOG reforçou a sua atuação no Reino Unido e na Irlanda. Esta expansão do negócio resulta de uma parceria com a Geodis UK e a sua subsidiária: a rede Fortec Distribution Network.
Aos 56 anos, José Cardoso ainda não se encheu do setor onde trabalhou sempre e não está a ver que isso venha a suceder-lhe nos anos mais próximos. Até porque não tem tempo para encontrar dias enfadonhos: “trabalho 11 meses por ano, e desses viajo 5”.
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