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José Cardoso: aprender com os grandes para ser melhor

Os transportes pareciam ser, imediatamente antes da entrada de Portugal na CEE, um negócio muito promissor. Confirmou-se. Mais de 30 anos depois, a KLOG ainda espera ter muito por onde crescer.
18 Agosto 2018, 10h00

Depois dos complexos avatares dos anos de brasa da Revolução, Portugal estava, nos anos 80 do século passado, numa espécie de limbo em que o país e a economia esperavam o passo seguinte, num frémito que tinha muito pouco de empreendedor ou de empresarial. Mas o país sabia qual era esse passo seguinte: a entrada na Comunidade Económica Europeia. Era mais que um sinal: era a certeza de uma envolvente que marcaria a sociedade e a economia para as décadas seguintes, e o edifício que vinha sendo construído desde 1957 dava muito pouca margem ao improviso e à incerteza.

Mesmo assim, enquanto muitos esperavam, também havia os que cumpriam a máxima de Geraldo Vandré, advogado e músico brasileiro: ‘quem sabe faz a hora, não espera acontecer’. Aos 23 anos, José Cardoso, em 1984, dois anos antes da plena adesão de Portugal à CEE, José Cardoso fundou a sua primeira empresa, a Fregal – Transportes Internacionais, Lda. Com a abertura das fronteiras a um mercado que até então era apenas um sonho e de que quase ninguém tinha qualquer vislumbre (até porque a Espanha seguia no mesmo sentido minguado de Portugal), era claro que o que passasse a chegar e o que começasse a partir teria de ser transportado.

Em 1989, quando se perspetivava uma abertura ainda mais radical das fronteiras, a pequena empresa nacional estabelece uma joint-venture com os franceses da Graveleau, introduzindo a marca no mercado português. Os negócios corriam bem – a tal ponto que o grupo francês ‘caiu’ no interesse expansionista dos alemães do grupo Dachser – atualmente um gigante com mais de seis mil milhões de euros de volume de negócios e cerca de 30 mil empregados.

No final dos anos 90, a Graveleau Portugal passa a integrar o Grupo Dachser, empresa onde José Cardoso assumiu, até ao final de 2012, o cargo de administrador-delegado para o território nacional. Os últimos anos foram menos fáceis: “a partir de 2010 começámos a perder autonomia” e o gestor como que sentiu a nostalgia de poder decidir sem ter de fazer telefonemas em línguas estrangeiras. Saiu.

A KLOG foi fundada em agosto de 2012, “com o objetivo de se tornar uma alternativa de valor acrescentado no setor da logística e transportes, atuando nos diferentes segmentos: terrestre, marítimo, aéreo multimodal (short sea e rail) e logística contratual”. Além da aposta natural no mercado europeu, a empresa tem vindo também a consolidar a presença no Magrebe. “As condições para a criação da empresa de logística e transportes eram três: dinheiro, competências e networking’. Tinham tudo: José Cardoso e o sócio, Egídio Lopes (que atualmente dividem o capital social 51%/49%), não encontraram por que recusar a oportunidade. Até porque a empresa conta desde a sua fundação “com a confiança e apoio de grandes grupos internacionais na área da logística e transportes, que encontraram na KLOG um parceiro que responde às necessidades específicas com soluções personalizadas. No que toca à componente financeira, os investimentos foram realizados com capitais próprios”. Desde 2012 até 2018, a empresa já investiu mais de 2,5 milhões de euros.

Em junho de 2013, a KLOG firmou uma importante parceria com o grupo Geodis, “uma das mais prestigiadas redes mundiais de transporte e logística, para o negócio aéreo e marítimo”. No mês seguinte, para o serviço para a região do Magrebe, tornou-se parceira do grupo Millitzer & Münch.

No mercado nacional, a KLOG inaugurou, no final de 2017, as novas instalações no Porto (perto do aeroporto Francisco Sá Carneiro). As novas infraestruturas – que são o head office e a filial da empresa no Porto, contando com os serviços de todas as divisões (Land, Air & Sea, P&S Cargo e Logística Contratual) – representaram um investimento de 750 mil euros e 6.500 metros quadrados de armazém para cross-docking, com 25 portas a cais, e 2.000 metros quadrados para área de escritório.

Na região de Lisboa (Alverca Park), detém uma plataforma com uma área total de 2.500 metros quadrados. Em 2014, a KLOG inaugurou a plataforma logística em Coimbra (Mercado Abastecedor). Dado o número crescente de clientes na região centro, a KLOG investiu recentemente 500 mil euros na sua extensão, atingindo os 3.000 metros quadrados de armazém e 200 metros quadrados de escritório.

Os principais destinos dos produtos transportados por esta via são Alemanha, França, China, Brasil, Índia, Angola e Moçambique, e o que enche os contentores vem dos setores têxtil, calçado, cortiça, mobiliário, metalurgia, cerâmica, automóvel e construção civil – sendo que a empresa efetua serviços para os mercados europeu, americano, asiático e africano.

Em dezembro de 2015, a KLOG reforçou as saídas diárias no segmento short sea, garantindo o reforço das ligações ao mercado europeu, nomeadamente a Inglaterra, França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Polónia e Escandinávia. A empresa foi ainda escolhida para transportar a maior tenda do mundo para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, tendo coordenado todo o processo de logística e transporte desde a fábrica da Irmafer (responsável pela conceção da tenda) até ao Brasil.

Em março de 2017, a KLOG lançou dois serviços no segmento Air & Sea, essencial para o mercado asiático. As duas novas soluções são apoiadas através da parceria que a KLOG tem com a Geodis.

Mas a rede europeia da KLOG continua a ser uma das suas mais-valias: efetua serviços de grupagem para toda a Europa, com saídas diárias, tendo sido este segmento um dos principais eixos estratégicos da empresa nos últimos anos. Em julho de 2017, a empresa abriu dois novos hubs em França e na Alemanha, o que permitiu a redução do tempo de trânsito na entrega de mercadoria. A abertura das plataformas em regiões centrais também permite à KLOG intensificar a sua expansão para mercados da Europa Central, Escandinávia e o Leste europeu.

Em junho de 2016, a KLOG estabeleceu uma parceria com a Transaher, grupo espanhol com 25 anos de existência que conta na sua rede de distribuição com 38 hubs em Espanha. Já em dezembro de 2016, a KLOG reforçou a sua atuação no Reino Unido e na Irlanda. Esta expansão do negócio resulta de uma parceria com a Geodis UK e a sua subsidiária: a rede Fortec Distribution Network.

Aos 56 anos, José Cardoso ainda não se encheu do setor onde trabalhou sempre e não está a ver que isso venha a suceder-lhe nos anos mais próximos. Até porque não tem tempo para encontrar dias enfadonhos: “trabalho 11 meses por ano, e desses viajo 5”.

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