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José Eduardo dos Santos: o enigmático presidente de Angola

Manteve a paz entre as várias facções do MPLA, rodeou-se de generais poderosos e derrotou a UNITA de Jonas Savimbi, após uma guerra civil que durou 27 anos.
23 Agosto 2017, 07h10

José Eduardo dos Santos sempre foi um presidente discreto e enigmático, apesar de estar no poder desde 1979.Há quem considere que, longe de constituir uma desvantagem, esta forma de ser o ajudou a chegar à liderança, após a morte do primeiro presidente angolano, Agostinho Neto.

Nascido em Luanda em 1942, no bairro de Sambizanga, José Eduardo dos Santos tinha aderido ao MPLA em 1958. Apesar da adesão ao movimento independentista, passou a década de 1960 no exílio, longe da luta armada contra o poder colonial português, tendo chegado a vice-presidente da Juventude do MPLA

Entre 1963 e 1969, viveu em Baku, no Azerbeijão, então parte da União Soviética, onde se licenciou em Engenharia de Petróleos, casou e teve uma filha, Isabel dos Santos. Regressado a Angola em 1970, desempenhou funções no MPLA no enclave de Cabinda, na área das telecomunicações. Após a independência, em novembro de 1975, foi subindo na hierarquia do regime e ocupou vários cargos governamentais; e quando Neto partiu para receber tratamentos médicos em Moscovo, José Eduardo dos Santos foi escolhido para governar o país de forma interina.

Por ser demasiado enigmático é que, naquela circunstância, quase todos os elementos da cúpula do MPLA apontaram para JES. Os outros potenciais candidatos à sucessão de Agostinho Neto eram demasiado previsíveis. Assim, José Eduardo dos Santos conquistou o poder devido à sua capacidade de ser um árbitro entre as diferentes fações do regime.

A 20 de Setembro de 1979, foi eleito presidente do MPLA, sendo investido no dia seguinte nas funções do Presidente da República Popular de Angola e comandante-chefe das Forças Armadas Angolanas.

“Ao longo das décadas seguintes, José Eduardo dos Santos demonstrou uma notável capacidade de adaptação e sobrevivência. Manteve a paz entre as várias fações do MPLA, rodeou-se de generais poderosos e derrotou a UNITA de Jonas Savimbi, após uma violenta guerra civil que durou 27 anos (entre 1975 e 2002)”, pode ler-se no livro “Os Novos Donos Disto Tudo”, editado pela Matéria-Prima.

A sua vida pessoal também terá sido agitada, com o presidente angolano a ser pai de oito filhos, de várias mulheres: Isabel (nascida em 1973), José Filomeno (1977), Tchizé (1978), José Eduardo Paulino, José Avelino (1988), Eduane Danilo (1991), Joseana (1995) e Eduardo (1998).

Sabendo ler os sinais dos tempos, José Eduardo dos Santos demonstrou também grande pragmatismo, abandonando o marxismo-leninismo no final dos anos 80 e fazendo de Angola um país capitalista. Desde o fim da guerra, em 2002, o regime liderado por José Eduardo dos Santos procurou reconstruir o país e modernizar a sua economia, aproveitando as receitas do petróleo e de outras riquezas naturais, como os diamantes. Na última década, a economia teve um crescimento fortíssimo, com o PIB a crescer acima de 6% ao ano, atingindo em alguns exercícios taxas de crescimento na casa dos 11% e 12%.

Mas o regime de José Eduardo dos Santos tem sido alvo de críticas por organizações de defesa dos direitos humanos, que consideram que a democracia angolana é ainda incipiente e que a maioria da população continua a viver com menos de dois dólares por dia. O site “Richest Lifestyle” atribui a José Eduardo dos Santos uma alegada fortuna superior a 20 mil milhões de dólares, o que, a ser verdade, o colocaria entre os homens mais ricos do mundo.

Tal não impediu que o investimento estrangeiro em Angola disparasse na última década, com as empresas portuguesas a colocarem-se na dianteira deste processo. Angola tem sido um destino de investimento dos bancos às construtoras, das grandes empresas às PME, que encontram no país africano lusófono uma alternativa ao mercado doméstico português.

Em contrapartida, Angola tem investido fortemente em Portugal, com participações acionistas em empresas dos mais diversos sectores de atividade. Para os angolanos, Portugal é uma fonte de ‘know how’, uma porta para a Europa e uma forma de obter respeitabilidade junto dos mercados internacionais.

 

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