[weglot_switcher]

Joseph Lubin. Cofundador da Ethereum defende sociedades digitais descentralizadas

“Há muitas infraestruturas financeiras descentralizadas a serem criadas no momento que imitam como as finanças centralizadas funcionam, mas mudam isso do avesso porque não é preciso a autorização de uma autoridade central, de um banco central ou de um governo. Não precisamos de um guardião”, afirma Joe Lubin ao JE.
  • Joseph Lubin
27 Outubro 2021, 07h55

Descontraído, Joseph Lubin veste a camisola da empresa (MetaMask) e tem os olhos vidrados no ecrã. “Estou só a acabar”, diz, mostrando que não pode desviar a atenção do trabalho que lhe ocupa o tempo quando a equipa do Jornal Económico (JE) entra na sala em silêncio para não lhe interromper o pensamento. “Já acabei, obrigado pela espera. Vamos começar?”, questiona Joe, como é conhecido no meio que já se habitou a tratar por tu.

Numa visita a Portugal, onde tem uma equipa a trabalhar na ConsenSys, o empreendedor digital falou ao JE sobre a empresa de blockchain que criou após sair da equipa fundadora da Ethereum, o poder descentralizado no mercado digital, o fenómeno popular das NFTs (Non-Fungible Tokens), o amor pela tecnologia que surgiu na matemática e o futuro do euro, que se pode tornar digital a qualquer momento.

Joe Lubin criou a ConsenSys em 2015, quando abandonou a fundação da atual segunda moeda digital mais valiosa do mundo, a ether, através da plataforma Ethereum. Tem quase 60 anos, não gosta mas faz-se destacar no meio de uma festa dedicada ao mundo digital, onde os intervenientes parecem ter todos 20 anos, embora o facto de ser uma pessoa calma acabe por o fazer notar mais.

Numa análise à ConsenSys, Lubin explica que a tecnologia de blockchain surgiu a partir do sistema usado na moeda digital, onde a cada 15 segundos todas as informações entram em consenso umas com as outras, sendo muito difícil de se alterar. Em termos comparativos, as empresas e governos usam bases de dados quase manuais, onde qualquer pessoa pode apagar conteúdos. “Aqui o ponto é que existe muito controlo das plataformas geridas por organizações poderosas, sejam elas o Facebook ou a Google, Portugal ou os Estados Unidos”, refere.

De uma forma simples de se explicar, através da empresa, Joe quer mudar o paradigma como as sociedades estão construídas e assentes nestas plataformas. “Esperamos construir plataformas que sejam mais focadas na comunidade, e que reconheçam que todo o poder está realmente na comunidade. Neste milénio, organizámos para que seja só capital, dinheiro e poder político, mas o único mecanismo que temos de coordenação é vertical. Ou seja, uma empresa ou país ou monarquia conseguem tirar o poder da comunidade”, explica o cofundador da Ethereum.

“Depois, em vez de distribuírem esse poder às pessoas, os sistemas verticais acumulam muito valor para si. Quando mudamos para um novo paradigma de organização do mundo, vemos que estamos a criar mecanismos, mecanismos de consenso que permitem que a governança esteja nas pessoas”.

É desta forma que Joe Lubin exemplifica a importância da descentralização, para onde espera que o mundo caminhe. Num sistema descentralizado, quem participa tem valor e transmite-o no respetivo sistema, onde posteriormente as decisões são tomadas em conjunto e podem ter o interesse de todos.

A MetaMask, uma das empresas que surgiu a partir da ConsenSys, é uma aplicação que tem o cliente no comando total das suas operações. No mundo, é uma carteira que está no bolso, tem dinheiro e não depende de qualquer entidade bancária.

“Há muitas infraestruturas financeiras descentralizadas a serem criadas no momento que imitam como as finanças centralizadas funcionam, mas mudam isso do avesso porque não é preciso a autorização de uma autoridade central, de um banco central ou de um governo. Não precisamos de um guardião”, sustenta, notando ao JE que todos devem ser livres para fazerem o que quiserem com os seus bens.

Abordando o tema Ethereum, moeda digital que fundou ao lado de Vitalik Buterin e de seis outros fundadores em 2014, Joe refere que a plataforma cresceu depressa, sendo uma das principais para este crescimento “o facto de ser aberta”. “É construída à luz por tecnológicos, empreendedores. É construída com uma fonte aberta, e qualquer um pode inspecionar o código”, de forma a ver se existe algum bug e melhorar a composição.

Para Lubin, a confiança é importante e tem o seu papel na sociedade. A blockchain é “basicamente uma camada de confiança que pode receber aplicação. Podemos construir qualquer coisa em cima disso”. A construção de uma plataforma em território “aberto” permite então que as tecnologias não sejam desenvolvidas em “silos escondidos em instituições financeiras em bancos centrais”. “Assim é mais justo, mais aberto, mais transparente e move-se muito mais rápido”.

É devido à descentralização que os bancos centrais estão a tentar perceber quais as suas posições sobre estes mercados digitais, que ainda não são regulados, conforme vão evoluindo com o tempo e a volatilidade.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.