[weglot_switcher]

“Leiria precisa de empresas inovadoras e de base tecnológica”

O objetivo é reter os jovens talentos e responder a um problema nuclear da região e do país: o envelhecimento da população. Respeito pelos valores ambientais será tão importante quanto a diversidade.
8 Agosto 2020, 20h00

Sendo um concelho industrializado, como vai a região conciliar o desenvolvimento industrial com a necessidade de indústrias ambientalmente sustentáveis?
No atual paradigma económico e social, o conceito de sustentabilidade ambiental deixou de ser visto como um custo, passando a ser encarado como uma vantagem competitiva. As novas gerações, que são o consumidor do futuro, têm um nível de consciencialização e exigência muito elevado no que diz respeito à sustentabilidade. Acreditamos que o natural desenvolvimento dos mercados vai exercer pressão para a necessária evolução de mentalidades, nomeadamente ao nível dos decisores. Ao nível autárquico, os Municípios devem balizar e liderar os processos de mudança para modelos sustentados e equilibrados de consumo e de relação com o meio ambiente.

A aposta no transporte público, com ênfase nas energias renováveis, numa nova organização do espaço público que facilite a transição para modelos de mobilidade suave, são alguns dos exemplos do trabalho que os Municípios estão já a implementar.

 

A que indústrias está a região a dizer “não” e quais gostaria de ter sediadas no concelho?
Atualmente, os setores que consideramos mais atrativos são os das tecnologias e da inovação, por representarem de forma marginal a resposta a um grande problema que a sociedade portuguesa enfrenta, i.e. o envelhecimento da população. Se conseguirmos criar uma base de empresas destas áreas na região, acreditamos que teremos melhores condições para captar e reter os jovens talentos, o que contribuirá para a inversão da tendência de envelhecimento que, de uma forma geral, afeta todo o país.

Por outro lado, esta é uma região que desde sempre se caracterizou por uma grande diversidade ao nível empresarial, algo que valorizamos por elevar a nossa capacidade de resiliência em situação de crise económica. Por essa razão, estamos abertos à diversidade, mas valorizamos em especial as empresas que respeitam os valores ambientais e assumem a sua responsabilidade social.

 

Qual o papel do Instituto Politécnico de Leiria (IPL) no lançamento de ideias para as startups?
O Politécnico de Leiria é a principal fonte de ciência e sabedoria desta região e, portanto, tem um papel de valor inestimável para a nossa comunidade, pois este é o mais valioso recurso de que podemos dispor. Mais do que a sua importância no lançamento de ideias para startups, destaco o papel que assume no fornecimento de recursos com elevado nível de qualificação ao nosso tecido empresarial e o seu contributo para a elevação do nosso nível competitivo. Por esse motivo, estamos fortemente empenhados em apoiar o Politécnico de Leiria no seu processo de crescimento e afirmação, nomeadamente na sua fundada aspiração de ser reconhecido como Universidade, um imperativo que assumimos em defesa do futuro da região. Este passo será decisivo para a concretização da visão que aspiramos para o território, que desejamos nivelado por um elevado patamar de capacitação dos recursos humanos, atrativo e de forte apetência tecnológica.

 

O IPL e outros organismos de ensino podem potenciar a criação de um mini-cluster a nível de formação superior com capacidade para atrair estudantes estrangeiros?
Isso já acontece. O Politécnico de Leiria conta já, entre os seus alunos, com uma percentagem muito considerável de estudantes de geografias tão variadas como a Ásia ou a América Latina. Esta é mais uma evidência da qualidade do seu modelo formativo, de resto validado ao mais alto nível recentemente com a sua escolha para liderar uma nova Universidade Europeia, a Regional University Network, aprovada pela Comissão Europeia, incluindo instituições do ensino superior da Irlanda, Hungria, Finlândia, Holanda e Áustria, para além de Portugal.

 

O turismo é uma peça nuclear no crescimento da região. Tendo isto presente, qual o peso do Santuário de Fátima e quais as atividades que poderão vir a desenvolver-se com base no turismo religioso?
O Santuário de Fátima é efetivamente a maior âncora de atração de visitantes à região. Em 2019, Fátima recebeu 6,3 milhões de peregrinos. Além de Portugal, Espanha, Itália, Polónia, Estados Unidos e Brasil são os países mais representados, mas temos assistido também a um forte crescimento do número de visitantes oriundos da Ásia. O grande desafio é aumentar o tempo de permanência dos peregrinos neste território, sendo para tal necessário encontrar programas que complementem e potenciem a oferta muito diversificada que esta região possui.

No caso de Leiria, estamos fortemente empenhados em potenciar a atratividade do nosso território através da elevação do patamar qualitativo da nossa oferta cultural. Recordamos que lideramos uma candidatura desta região a Capital Europeia da Cultura em 2027, mas estamos igualmente empenhados na preservação e valorização do nosso património. Um exemplo claro desta estratégia é o avultadíssimo investimento que estamos a fazer na requalificação do castelo de Leiria, com um conjunto de obras, orçadas em 3,8 milhões de euros, com o objetivo de tornar este magnífico monumento mais acessível e inclusivo, preservando e criando novas funcionalidades no espaço, sem beliscar a sua vertente patrimonial e histórica.

Estamos certos de que este monumento, que terá uma oferta cultural de excelência após a sua reabertura, constituirá um fortíssimo fator de atração de visitantes ao nosso concelho, com inegáveis mais-valias para a economia local.

 

O que falta a Leiria para ter um aeródromo com capacidade para aviões médios de passageiros? É possível o aproveitamento da base aérea de Monte Real, abrindo-a à aviação civil? Há negociações em curso? Se sim, em que ponto se encontram?
A aposta do Município de Leiria e das demais entidades desta região vai no sentido da abertura da Base Aérea de Monte Real à aviação civil como tem sido amplamente noticiado. Esta pretensão foi bem acolhida pelo Governo, que se encontra a estudar a possibilidade de abrir a base militar de Monte Real à aviação civil.

A esmagadora maioria das forças vivas da região Centro já se manifestou a favor do aeroporto de Monte Real como a solução mais exequível e realista, e aquela que pode dar um contributo efetivo e eficaz para o desenvolvimento regional e nacional. Não defendemos projetos megalómanos, mas uma solução racional, desenhada à medida das reais necessidades desta região. Consideramos que a concretização deste projeto será decisiva para superar os desafios do futuro, nomeadamente para a afirmação do nível competitivo do nosso tecido empresarial e captação de turistas.

 

Qual o impacto que a pandemia de Covid-19 está a ter nas várias indústrias da região de Leiria? Que exportações e serviços estão a ser mais afetados?
Esta região está a dar uma resposta extraordinária no contexto pandémico. Desde a primeira hora, as empresas perceberam a urgência de se reinventarem e de se adaptarem ao novo contexto. Foram várias as empresas que desde logo avançaram para a produção de material médico e de equipamentos de proteção individual, mas não há como negar que o impacto desta pandemia será transversal a todas as áreas de atividade. As empresas que trabalham para os mercados externos, nomeadamente o setor dos moldes, estão neste momento a viver uma fase de indefinição, pois estão naturalmente dependentes daquilo que for a evolução da economia mundial, que desejamos possa retomar a sua normalidade com a maior brevidade possível.

 

O que foi feito e está a ser feito para relançar as indústrias afetadas?
Numa primeira fase, o Município de Leiria assumiu o papel de estimular e incentivar a reconversão de um conjunto de empresas que ajustaram parte da sua capacidade produtiva às necessidades criadas pela pandemia, nomeadamente na produção de bens para o setor da saúde e proteção. Estamos igualmente a ajudar a alavancar a pequena economia, de cariz mais tradicional, através da criação de plataformas que ajudaram muitas das nossas PME a entrar no digital. Criámos com grande sucesso uma plataforma para o mercado Municipal de Leiria, com loja online e serviços de entrega para o setor da pequena agricultura, e estamos a desenvolver um conjunto de iniciativas para estimular o consumo local, de modo a restabelecer o ritmo da economia.

Do ponto de vista do desenvolvimento de uma estratégia de resposta mais aprofundada ao contexto que vivemos atualmente, foi criado o Gabinete Económico e Social da Região de Leiria (GESRL) que elaborou um plano de ação de curto e de médio prazo, com o contributo de 10 Grupos de Trabalho, em que participam personalidades e entidades, públicas e privadas.

Este plano, alicerçado em 36 medidas, assenta em seis objetivos estratégicos: promover a coesão social e o emprego; garantir a proteção individual e coletiva; reforçar a capacitação dos serviços de saúde e de educação; incentivar e valorizar as atividades empresariais; potenciar as redes colaborativas, identitárias e de coesão regional; e reforçar a digitalização da região. O GESRL foi criado em resultado de um memorando de entendimento entre um conjunto de entidades com atuação relevante na Região de Leiria – CIMRL (Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria), Politécnico de Leiria e NERLEI (Associação Empresarial da Região de Leiria). Tem como objetivo elaborar um “Plano de Medidas para o Novo Lançamento Económico e Social da Região de Leiria”, com o envolvimento de personalidades e entidades, públicas e privadas, no processo de discussão, definição, planeamento e execução das medidas.

Este gabinete prosseguirá o seu trabalho evolutivo de acompanhamento das implicações económico-sociais do contexto de pandemia, procurando propor medidas para dar resposta a esta crise económica e social e tornar a região mais resiliente a crises similares no futuro.

 

Como decorreram as obrigações de confinamento junto dos cidadãos e das empresas, e como está a decorrer o cumprimento das regras atuais de ajuntamentos e proteção em locais fechados?
No caso de Leiria, a população tem dado, salvo raras exceções, uma resposta absolutamente exemplar. Aliás, o baixo número de casos registados neste concelho, tendo em conta a sua população, resulta deste sentido de responsabilidade que os leirienses assumiram desde a primeira hora, seguindo escrupulosamente as recomendações das autoridades de saúde. O Município de Leiria não poupou esforços neste campo. Apostámos em campanhas massivas de sensibilização, desenvolvemos estratégias e planos de ação de modo a proteger as franjas da nossa população em situação de maior fragilidade, nomeadamente seniores e doentes. A distribuição de equipamentos de proteção a instituições e à população, a criação de mecanismos de apoio às pessoas que subitamente perderam parte ou mesmo a totalidade dos seus rendimentos, foram algumas das áreas em que depositámos a nossa energia e recursos, de modo a garantir uma resposta eficaz e atempada aos muitos desafios que a pandemia colocou e continua a apresentar.

 

A nível ambiental quais são as maiores preocupações da região? Detritos industriais? Gases? Incêndios? Como está a decorrer a reabilitação do pinhal depois dos incêndios?
Esta região enfrenta alguns desafios ao nível ambiental, que assumimos como prioritários, no sentido de garantirmos uma cada vez melhor qualidade de vida à nossa população. Relativamente à questão do tratamento de detritos industriais, creio que a tónica terá de ser colocada na necessidade de encarar estes detritos como subprodutos, e encontrar soluções que possam dar-lhe um fim adequado no âmbito do conceito de economia circular. Esta região lida há largas décadas com a questão dos efluentes suinícolas, estando a ser desenvolvido trabalho, em articulação com o Governo, no sentido de encontrar uma solução de tratamento e valorização destes efluentes.

Estamos também empenhados em contrariar que esta região seja alvo de prospeção de hidrocarbonetos, indo ao encontro daquilo que são as pretensões da população, e sobretudo da necessidade de seguir uma estratégia global de redução do consumo de combustíveis fósseis e aposta nas energias renováveis.

Quanto à questão da recuperação das matas nacionais devastadas pelos incêndios, defendemos que deve ser assumida uma estratégia, com coerência e grande determinação, para resgatar um dos mais importantes elementos identitários desta região. O Município de Leiria tem efetuado, com a colaboração da população e de várias entidades da sociedade civil, diversas ações de reflorestação. Entendemos que a responsabilidade deve ser assumida pelo Governo, proprietário da maior parte da área ardida, mas estamos disponíveis para colaborar em soluções que contribuam de forma efetiva para a recuperação deste património que é de todos.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.