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Líder dos republicanos anti-Trump diz que Biden “talvez fosse o único democrata capaz de chegar a certos eleitores”

Figura destacada entre os republicanos que apoiaram o candidato democrata, Bill Kristol foi à Web Summit para falar das mudanças esperadas na política norte-americana. Admitindo que muito dependerá do que suceder na pandemia e na economia, não espera que Biden tenha vida fácil.
  • Bill Kristol
4 Dezembro 2020, 20h02

O comentador político neoconservador Bill Kristol, figura destacada do movimento anti-Trump dentro do Partido Republicano, defendeu no painel da Web Summit “Can president-elect Biden save the US from itself? [Poderá o presidente eleito Biden salvar os Estados Unidos de si próprios?]” que o vencedor das presidenciais norte-americanas tem sido “subvalorizado”. “Talvez fosse o único candidato democrata capaz de chegar a certos eleitores”, acrescentou Kristol, que votou no antigo vice-presidente de Barack Obama para afastar Donald Trump da Casa Branca.

Entre muitas críticas a um “presidente horrível que danificou a nossa democracia”, Bill Kristol admitiu que Joe Biden “tem a oportunidade de remodelar a política norte-americana”, mas ressalvou que tudo dependerá da eficácia das vacinas contra a Covid-19 e da maior ou menor rapidez da recuperação da economia dos Estados Unidos. “Muito irá depender dos primeiros seis ou nove meses da presidência”, disse o comentador, que foi chefe de gabinete do antigo vice-presidente Dan Quayle, admitindo que o próximo ocupante da Casa Branca “possa estar numa boa situação” aquando do Dia do Trabalhador, que no país é celebrado na primeira segunda-feira de setembro.

Mas Bill Kristol também deixou claro no painel da Web Summit que Biden não deverá contar com facilidades. Não só pelas elevadas hipóteses de o Partido Republicano manter o controlo do Senado, tendo já metade dos lugares antes da segunda volta marcada para 5 de janeiro em que os seus dois senadores da Georgia procuram reeleger-se, mas também pelo pronunciado encolher da maioria do Partido Democrata na Câmara dos Representantes. Tudo indica que haverá 222 congressistas democratas e 213 republicanos, num claro indício de que será preciso negociar muito.

“Nancy Pelosi não poderá estalar os dedos e ter atrás de si todos os congressistas democratas, sobretudo aqueles que foram eleitos nos círculos em que Trump venceu Biden, a aprovar toda a agenda progressista”, disse o comentador republicano, apontando dificuldades para o Partido Democrata nas intercalares de 2022 para manter a frágil maioria na Cãmara dos Representantes, o que também poderá condicionar o mandato presidencial de Biden.

Consideravelmente mais otimista quanto a uma alteração profunda da política norte-americana, o apresentador de podcasts Brian Tyler Cohen admitiu que os progressistas pretendiam “um enorme repúdio de Trump” que não ocorreu, mas realçou que Biden obteve quase mais seis milhões de votos do que o incumbente. “Estamos a viver num regime dominado por uma minoria”, disse, referindo-se à forma como o colégio eleitoral, a atribuição de dois senadores a cada estado e o mapeamento dos círculos eleitorais tendem a aumentar a representatividade do eleitorado republicano.

Garantindo que o conflito latente entre moderados e progressistas é algo que a comunicação social gosta de exagerar, Brian Tyler Cohen previu que Biden terá um impacto imediato na “reimplementação de proteções ambientais revogadas pela administração Trump” e nas barreiras à imigração. “Ele não é um Bernie Sanders ou uma Elizabeth Warren, mas sabe o que tem para fazer no ambiente e na garantia de cuidados de saúde para todos”, acrescentou.

Também participante no mesmo painel da Web Summit, que foi moderado pela jornalista da Associated Press Julie Pace, Brittany Kaiser, da Fundação Own Your Data, insurgiu-se contra a “ideia incrivelmente perigosa” de que muitos norte-americanos não verão Joe Biden como o presidente legítimo dos Estados Unidos. Algo que resulta das acusações de fraude eleitoral repetidas por Donald Trump e que, em sua opinião, são a consequência de redes sociais como o Facebook e o Twitter “estarem a fazer pouco e demasiado tarde” para contrariar campanhas de desinformação e partilhas de notícias falsas.

No entanto, Brittany Kaiser também admitiu que outro grande problema da política norte-americana é a extrema e crescente polarização entre esquerda e direita. “Precisamos de ter mais independentes em cargos eleitos porque o sistema bipartidário não está a funcionar”, considerou.

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