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Líderes libaneses terão sido avisados sobre explosivos no porto em julho

As autoridades de segurança libanesas terão repetidamente demonstrado a sua preocupação com o nitrato de amónio armazenado no porto, bem como apelado a que este fosse de lá retirado pelo risco que colocava, avança a agência noticiosa Reuters.
  • REUTERS/ Mohamed Azakir
11 Agosto 2020, 10h16

O presidente e primeiro-ministro libaneses terão sido avisados no mês passado da existência de 2750 toneladas de nitrato de amónio armazenadas no porto da capital, Beirute, e do risco que tal constituía para a cidade, reporta a Reuters. A revelação será confirmada por documentos e pelo testemunho de vários oficiais sénior de segurança.

Um relatório da Direção-Geral de Segurança do Estado libanesa sobre a explosão no porto de Beirute faz referência a uma carta enviada a 20 de julho ao presidente Michel Aoun e ao primeiro-ministro Hassan Diab que, alegadamente, alertaria do perigo associado à permanência do material no local. A Reuters não teve acesso à carta, mas um oficial sénior de segurança libanês envolvido na sua redação confirma o seu conteúdo.

“Avisei-os [ao presidente e ao chefe de Governo] que poderia destruir Beirute caso explodisse”, diz o oficial, que preferiu não revelar a sua identidade, à Reuters. “No final da investigação, o Procurador-Geral [Ghassan] Oweidat preparou um relatório final que enviou às autoridades”, refere a mesma fonte, numa referência à carta em questão. As preocupações principais dos oficiais eram que o material fosse roubado e utilizado em ataques terroristas.

Estas novas informações poderão reavivar o sentimento de revolta e fúria para com as autoridades do país, mesmo depois da demissão do governo em bloco na passada segunda-feira. O Presidente Aoun confirmou a semana passada que havia já sido informado sobre o material em questão e que havia ordenado ao secretário-geral do Conselho Supremo de Defesa que tomasse “as medidas necessárias”.

Depois de ser confiscado pelo Líbano devido a dívidas pendentes das empresas associadas ao transporte do material a entidades libanesas, o nitrato de amónio foi descarregado em outubro de 2014 e guardado no agora infame Hangar 12 do porto de Beirute. Em fevereiro de 2015, um juiz ordenou uma investigação à carga que, concluindo o risco que colocava à segurança da cidade, pediu a sua transferência para o Exército, lê-se no relatório.

Depois da recusa do Exército libanês e de uma empresa privada de explosivos em ficar com o material, vários oficiais de segurança e alfandegários terão escrito de seis em seis meses às autoridades do país a pedir que o nitrato de amónio fosse retirado daquele local, relata ainda a agência noticiosa.

Já em janeiro deste ano, uma nova investigação foi aberta depois de se concluir que o hangar não tinha guardas, uma das suas portas estava mal colocada e tinha um buraco na parede sul. Perante o risco de roubo, o Procurador-Geral Oweidat ordenou a reparação imediata das falhas de segurança do local, lê-se no relatório de segurança e confirmam vários oficiais. Foi nestes trabalhos que despoletou o incêndio que alastrou pelo hangar e culminou na explosão que vitimou até à data 163 pessoas, ferindo mais 6.000 e causando danos estimados de 12,75 mil milhões de euros.

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