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“Liga portuguesa é pouco interessante para o mercado estrangeiro”

Clubes portugueses parecem ser os únicos que ainda não se tornaram atrativos para os ‘magnatas’ e fundos de investimento mundiais. Liga francesa é o mais recente ‘chamariz’, com o mercado americano a ser o principal alvo na procura de investidores.
  • Rafael Marchante/Reuters
17 Novembro 2018, 14h00

O campeonato português poderá tornar-se um ‘oásis’ na Europa do futebol, que parece cada vez mais incapaz de lidar com a entrada dos milionários e fundos de investimento, na compra dos clubes.

Inglaterra, Espanha, Itália são os exemplos mais notórios desta nova realidade, mas também a França já começou a dar os primeiros passos. Didier Quillot, chefe-executivo da Ligue 1, anda pelos EUA em busca de investidores para os clubes gauleses.

Para o jornalista do canal televisivo “Eurosport”, Olivier Bonamici, “a razão pela qual o campeonato francês se torna neste momento competitivo para o investimento estrangeiro, tem a ver com o facto dos clubes franceses estarem em saldos. O retorno sobre o investimento, e é isto que interessa aos fundos de investimento, é muito bom neste momento em França”, explica o francês residente em Portugal há mais de 20 anos, apontando um factor decisivo para o modelo ainda não ‘vingar’ no nosso país.

“A diferença fundamental entre Portugal e França é que em Portugal os clubes pertencem aos sócios. Em França, não existe essa cultura do sócio”, sublinhando que a divisão financeira dos direitos televisivos entre os clubes franceses é diferente.

“Em Portugal os ‘três grandes’ ‘comem’ uma grande parte do ‘bolo’ dos direitos de televisão e de todo o negócio do futebol, enquanto em França existe mais repartição. Ou seja, os chamados clubes ‘pequenos’ ou ‘médios’ têm uma maior fatia do ‘bolo’ e isto também é importante na cabeça de um investidor”, refere.

Daniel Sá, diretor executivo do IPAM e especialista em marketing desportivo, assume que este cenário é o mais provável nos principais campeonatos europeus.

“Os clubes que tipicamente eram dos sócios naquela ideia um pouco ‘romântica’, a partir do momento que se constituíram como sociedades desportivas (SAD), passam de alguma forma a perder o ‘romantismo’ e a estarem sujeitos às leis do mercado”, afirma o professor que porém, não acredita que os investidores ‘aterrem’ em território nacional. “Por si só, e à realidade do que é o futebol português, acho que não. A liga portuguesa basicamente é consumida em termos de telespetadores por portugueses. É um produto pouco interessante para o mercado estrangeiro e, enquanto não der esse ‘salto’, dificilmente isso vai acontecer”, sublinha o professor, que realça ainda a cultura da sociedade portuguesa e o papel dos sócios dos clubes nestas decisões, que, no caso de virem a acontecer, poderão não ter “discussão”.

“Acho que eles não estão preparados culturalmente, mas acho que, se acontecer, não há discussão. Nós habituámo-nos a um mundo em que muitas das grandes empresas portuguesas na verdade já não são de portugueses, mas de investidores estrangeiros. Evidentemente que o futebol é outra história e tem esta componente emocional”, afirma Daniel Sá, que no entanto, indica a eventual criação da Superliga europeia, como algo que pode vir a mudar a forma de pensar do adepto português.

“Acho que se um adepto vê (vamos imaginar que um dos ‘três grandes’ entra nesta ‘liga fechada’ nos próximos anos), o investidor estrangeiro, que se torna dono do clube, também vê o potencial como forma de alavancar e potenciar a performance do clube nessa liga, isso vai sobrepor-se à questão emocional. O adepto quer o clube a vencer, com condições, já vêem as contas dos clubes, ficam satisfeitos quando vem um jogador por vários milhões de euros e quando percebe que isso vai beneficiar o clube, em última instância esse prurido cultural desaparece”, conclui.

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