No último ano, os mercados financeiros ganharam grande visibilidade. Primeiro com as quedas violentas e expressivas, depois com a forte recuperação, em virtude das intervenções por parte dos bancos centrais, ao anunciarem o apoio incondicional às empresas, aos governos e a planos de estímulo.

À medida que a população ficou confinada e os eventos desportivos foram cancelados, uma nova classe de investidores começou a olhar para o mercado financeiro. Seja pelos cheques enviados aos cidadãos americanos, seja pela necessidade de aplicação das poupanças decorrentes das taxas de juro negativas, hoje temos milhões de investidores a olhar para as diversas classes de activos e milhares de milhões de euros em rotação diariamente.

Pela sua dimensão, em número e valor, e como é cíclico, começaram a aparecer esquemas fraudulentos ou de carácter duvidoso, cuja finalidade é a apropriação do dinheiro ou o enriquecimento rápido, deixando as empresas reguladas e os analistas financeiros registados, a par com as lamentações dos investidores e com o risco reputacional do investimento no mercado.

Tal como a febre do ouro, a febre das criptomoedas, ou do investimento em empresas tecnológicas com promessa de enriquecimento fácil, tem consequências, as quais normalmente acabam por ser pagas pelos investidores com menos conhecimento.

Esta febre é também propícia ao aparecimento de cursos e novos entusiastas com pouca experiência ou nenhuma no sector financeiro, cujo objectivo, mais uma vez, é a venda de sonhos e muitas vezes de nenhum conteúdo, a não ser banalidades que todos aceitamos como correctas. As plataforma digitais, como o TikTok, YouTube, Facebook, Twitter, são o palco perfeito para esta venda e destruição de sonhos, que tem escapado a reguladores.

Na carta anual que Warren Buffet dirige aos seus accionistas, a Berkshire Hathaway faz um alerta aos entusiastas por gurus e price targets ou ideias para enriquecimento rápido.

A criação de valor e riqueza numa empresa é um processo de longo prazo, por vezes com fases mais rápidas de crescimento, mas que assenta na confiança de longo prazo. O aumento da volatilidade, a par do estado de espírito dos investidores impulsionado por estratégias de enriquecimento de curto prazo, é algo que deve preocupar todos, pois a probabilidade de perda aumenta substancialmente.

A carta da Berkshire devia ser de leitura obrigatória, não só pela postura no mercado mas, principalmente, pela sua contribuição para a literacia financeira ao explicar os princípios básicos da capitalização, da aplicação de resultados e da obtenção da liberdade financeira para construir os objectivos de vida.

Os ensinamentos de dezenas de anos de experiência estão disponíveis e à mesma distância das fraudes, e têm um valor inestimável. No fim de contas, o sucesso depende do planeamento e da paciência necessários para colher os frutos do investimento.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.