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Livro: “O Infinito num Junco”

Irene Vallejo conta-nos neste livro a fenomenal e minuciosa história desse fascinante artefacto que inventámos para que as palavras pudessem viajar no tempo e no espaço: o livro.
31 Outubro 2020, 10h03

 

A História da humanidade não é feita apenas de guerras, desgraças e cataclismos. Há invenções e descobertas extraordinárias que tornam fascinante a nossa vida neste planeta. Quando o futuro parece tão incerto, com pandemias, alterações climáticas, pobreza persistente e excesso de população, nada como recordar aquilo que nos torna tão excecionais, mesmo quando o percurso não é linear nem isento de percalços.

Alguém disse que mais do que louvar a existência de um Leonardo da Vinci ou de um Michelangelo, deveríamos admirar o contexto que permitiu a sua aparição. É precisamente isso que faz Irene Vallejo, relativamente a um dos objetos mais extraordinários alguma vez criado: o livro.

“O Infinito num Junco”, editado em português pela Bertrand, relata a fenomenal e minuciosa história desse artefacto fascinante que inventámos para que as palavras pudessem viajar no tempo e no espaço. Parte do seu nascimento, conta-nos a sua evolução ao longo de trinta séculos, nas suas muitas formas: livros de fumo, pedra, argila, papiro, seda, pele, de árvore, de plástico e, agora, plástico e luz.

É também um livro de viagens pelas bibliotecas, das mais antigas às atuais, com escalas nos campos de batalha de Alexandre, o Grande; na Villa dos Papiros, horas antes da erupção do Vesúvio; nos palácios de Cleópatra; na cena do homicídio de Hipátia, considerada a primeira mulher matemática; nas primeiras livrarias conhecidas; nas celas dos escribas; nas fogueiras onde arderam os livros proibidos; nos gulag; na biblioteca de Sarajevo e num labirinto subterrâneo em Oxford.

Nascida em Saragoça, em 1979, esta filóloga entrelaçou nesta História as pequenas histórias e os episódios íntimos, as evocações literárias, experiências pessoais e relatos antigos que nunca perdem a relevância: Heródoto e os factos alternativos, Aristófanes e os processos judiciais contra humoristas, Tito Lívio e o fenómeno dos fãs, a poetisa romana Sulpícia e a voz literária de mulheres. Lado a lado, os bardos antigos, como Homero, e os atuais, como Bob Dylan, Prémio Nobel da Literatura.

“O Infinito num Junco” é o relato dessa entusiasmante aventura coletiva, protagonizada por milhares de personagens que, ao longo do tempo, tornaram o livro possível e o ajudaram a transformar-se e a evoluir: contadores de histórias, escribas, ilustradores e iluminadores, tradutores, alfarrabistas, professores, sábios, espiões, freiras e monges, rebeldes, escravos e aventureiros.

É com fluência, curiosidade e um permanente sentido de assombro que Irene Vallejo relata as peripécias deste objeto inverosímil que mantém vivas as nossas ideias, descobertas e sonhos.

Eis a sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante.

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