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Livro: “Os Sete Pilares da Sabedoria”

Eis a sugestão de leitura desta semana da Livraria Palavra de Viajante: um dos grandes textos sobre guerra e um livro sobre a vontade de autodeterminação de um povo. Pela pena de T.E. Lawrence.
4 Julho 2020, 09h50

 

Há muito desaparecido do mercado livreiro português, “Os Sete Pilares da Sabedoria”, considerada uma das grandes obras-primas da literatura do século XX, foi agora publicado pela E-Primatur, com o cuidado particular que esta editora coloca em todos os livros que produz.

Thomas Edward Lawrence (1888-1935), que teve um papel de relevo na revolta árabe contra os Turcos Otomanos, ocorrida entre 1916 e 1918, em plena Primeira Guerra Mundial, relata aqui as suas vivências e envolvimento. Lawrence chegou a fazer parte das forças rebeldes, aparentemente a contragosto do Foreign Office, o Ministério dos Negócios Estrangeiros Britânico, empenhado em redesenhar o mapa do Médio Oriente a seu contento – o tristemente célebre Acordo Sykes-Picot (1916) –, com as trágicas consequências que daí advieram e que ainda hoje se fazem sentir (veja-se a guerra na Síria, que dura já há nove anos).

Lawrence estava destacado na Jordânia, integrado no exército britânico no Norte de África, muito graças ao seu conhecimento da região e da língua árabe, adquiridos quando estudadra na zona e fizera parte de uma expedição arqueológica. Esse conhecimento levou-o a sentir uma forte admiração pelo espírito livre dos árabes e um profundo desprezo pela corrupção e ineficácia da burocracia otomana, desejando o fim do jugo dos turcos sobre os árabes. Para mais, ao ter estudado a estrutura tribal e de clã da sociedade árabe, Lawrence sabia que qualquer acordo implicaria sempre grandes negociações.

Com o apoio do Emir Faiçal e de várias tribos organizou ataques contra as forças otomanas desde Aqaba, no Sul, até Damasco, no Norte. Segundo o seu relato, terá feito explodir 79 pontes ao longo da linha de caminho de ferro Hejaz que, se tivesse sido completada – com o apoio dos alemães, aliados dos turcos na guerra – teria unido Constantinopla a Medina. Como acontece noutros casos, o livro acabou suplantado no imaginário do grande público por um dos filmes que inspirou (foram, pelo menos, três), realizado em 1962 por David Lean, com Peter O’Toole no papel de Lawrence e Alec Guinness no de Faiçal.

Misto de géneros, “Os Sete Pilares da Sabedoria” tanto é uma autobiografia romanceada como um romance autobiográfico, uma história de aventuras, um estudo sobre a descoberta do outro e da diferença, um dos grandes textos sobre guerra e um livro sobre a vontade de autodeterminação de um povo.

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