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Lotus preocupada com o Brexit, mas confiante num futuro mais ‘elétrico’

Desde maio nas mãos da Geely, a Lotus olha com confiança para o seu futuro, que poderá passar por modelos elétricos.
4 Setembro 2017, 06h40

Fundada em 1952 por Colin Chapman, a Lotus esteve sempre no fio da navalha, ao longo dos seus 65 anos de história. No início, a marca construiu uma reputação de sucesso com os seus desportivos de sucesso, incluindo modelos vitoriosos na F1 e na Indy Series e pilotos como Jim Clark, Ayrton Senna e Mario Andretti. Seguiram-se modelos icónicos como o Elite, nos anos 50, o Elan na década de 60, ou o Esprit, de motor central, em 1976.

Mas por trás do sucesso e do glamour, a equipa perdia dinheiro e raramente esteve financeiramente sólida. Quando, em 1982, Chapman morreu (de ataque cardíaco, aos 54 anos de idade), a Lotus estava envolvida no escândalo da DeLorean e da forma como Chapman a havia ajudado a defraudar o Governo do Reino Unido. Como resultado, CFO da marca foi preso por três anos.

A GM tomou conta da marca em 1987, apenas para a passar para as mãos do italiano Romano Artioli em 1993. Três anos mais tarde, o Elise (em homenagem à neta de Artioli) surgiu e manteve a marca à tona durante mais duas décadas, num processo que também terá beneficiado da ajuda da malaia Proton, que adquiriu a marca. Entretanto, em 2009, Dany Bahar prometeu um ressurgimento da marca, que nunca aconteceu. O antigo executivo de marketing da Red Bull e da Ferrari acabou demitido em 2012, tendo processado a marca britânica em tribunal.

Regresso para breve
Nos três últimos anos a coisas têm melhorado para os lados de Hethel, sede da icónica marca britânica. A Bloomberg afirma que a marca está a comercializar cerca de 30 unidades/ano e as receitas estão a crescer, graças a uma combinação de cortes nos custos e da venda de modelos de edição limitada, naturalmente mais caros. No passado mês, a empresa revelou estar parto de ser rentável durante dois anos seguidos, algo que não acontecia desde os anos de 1990. Depois de Jean Marc Gales, CEO da Lotus, ter conseguido recuperar a solvência da marca, tem agora mais razões para estar otimista.

Em maio foi anunciada a compra de 51% das ações da marca pela Geely, o construtor chinês que também é dono da Volvo. “Isto é fantástico, é a melhor coisa que nos podia ter acontecido”, disse Gales à Bloomberg. O acordo deve ficar fechado até ao final deste mês, estando pendente da aprovação das autoridades da concorrência competentes.

Além de garantir um parceiro com “bolsos fundos”, Gales pode estar otimista também se atender ao percurso da Volvo sob a liderança da Geely. A marca sueca tem crescido bastante sob a alçada do construtor chinês, que parece operar no princípio de que a casa-mãe apenas fornece capital, ao passo que as equipas existentes da marca fazem o que sabem melhor. Em 2016, a Volvo atingiu um recorde de vendas e em julho animou o mercado quando anunciou que, a partir de 2019 teria uma gama totalmente elétrica ou híbrida.

A Lotus poderá bem ser a próxima, oferecendo conhecimentos de engenharia à medida que a Geely aumenta a sua capacidade produtiva. E a marca até já tem uma experiência no mercado elétrico, pois construiu e teve uma importante contribuição na engenharia do primeiro Tesla, o Roadster, em 2008, que se baseava no Lotus Elise.

Futuro elétrico
Se os modelos elétricos poderão ser uma grande oportunidade para a Lotus, Gales coloca algum travão no entusiasmo, afirmando à Bloomberg que, seja qual for a motorização, “o carro tem de ser um Lotus”, leve e capaz de fazer curvas ao mesmo ritmo que qualquer desportivo de topo. “Em dois ou três anos, os veículos elétricos será muito mais performantes do que atualmente, porque a tecnologia avança”, diz. “Pode ser algo muito interessante ser o primeiro a fazer um carro elétrico que não pesa duas toneladas”.

Da mesma forma, a Lotus poderá lançar novamente modelos clássicos, ou entrar no negócio da restauração de modelos clássicos e certificação de vendas de clássicos, um negócio lucrativo já explorado pela Jaguar Land Rover, Mercedes, Porsche, Ferrari e outras marcas de luxo. Um SUV também não estará fora de questão, com afirma Gales, que admite aproveitar o segmento de mercado que mais cresce no mundo, tal como têm feito outras marcas de luxo desportivo, como a Bentley, com o Bentayga, ou a Lamborghini, com o Urus.

Mais preocupante para Gales é o Brexit. A decisão de saída da União Europeia do Reino Unido pode prejudicar a rentabilidade da Lotus, dependendo de como decorrerem as negociações, uma vez que metade da produção da Lotus segue para solo europeu e, no total, 85% das vendas São feitas para o estrangeiro. Os eventuais impostos e taxas alfandegárias poderão prejudicar. “Mas é claro que esperamos que tudo corra pelo melhor”, conclui Gales.

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