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Lula: da prisão em Curitiba ao discurso de libertação “sem ódio”

O antigo presidente do Brasil passou 580 dias numa cela especial, com uma mesa cheia de livros e televisão. Deixou na sexta-feira passada a cadeia em Curitiba.
  • Ueslei Marcelino/Reuters
10 Novembro 2019, 12h34

Uma cela especial, com televisão, 15 metros quadrados e casa de banho privativa. Podia tomar duche de água quente. Com janelas pequenas de vidro e grades, ficou no quarto andar do Núcleo de Inteligência Policial, afastado do local dos outros presos no âmbito na operação Lava-Jato.

O quarto tinha casa de banho, uma cama de solteiro, uma mesa cheia de livros e uma televisão, dois benefícios especiais concedidos pela justiça a Lula por ser um ex-presidente, a mesma razão porque não ficou na ala prisional da corporação, junto a outros presos.

O dia de visitas, na prisão de Curitiba, é a quinta-feira. Aos fins de semana os presos não têm direito a sair da cela para passar duas horas no pátio. Lula passou os dias a ler, fazia exercícios físicos e via televisão. Durante o primeiro ano de detenção terá recebido mais de 500 visitas.

Em abril deste ano, apoiantes do ex-presidente brasileiro manifestaram-se, em pelo menos 16 países, na data que marca um ano da prisão do antigo governante, segundo o Partido do Trabalhadores (PT).

Alemanha, Amesterdão, Austrália, Áustria, Brasil, Dinamarca, Espanha, EUA, França, Inglaterra, Itália, México, Portugal, Suécia, Suíça e Uruguai foram os países anunciados na página da internet do PT como palco de protestos contra a prisão de Lula da Silva.

O Partido dos Trabalhadores informava ainda que a Campanha ‘Lula Livre’ iria transmitir as manifestações através da plataforma Youtube, num programa que terá 12 horas de duração. “As manifestações dentro e fora do Brasil vão denunciar o caráter político da prisão do ex-Presidente Lula. Quando foi preso, ele era o primeiro colocado nas sondagens para as eleições de 2018. O juiz que comandou as investigações e condenou Lula foi Sergio Moro que, atualmente, é ministro de Jair Bolsonaro, o maior beneficiado pela prisão de Luiz Inácio Lula da Silva”, sustentava o PT no seu ‘site’.

“Muitos de vocês não queriam que eu fosse preso, eu tive de vos persuadir a entender o papel que eu tinha de cumprir. Vou repetir o que disse naquele dia [da prisão]: quando um ser humano, tem clareza do que quer na vida, do que representa e tem a certeza do que os seus acusadores estão a mentir, então decidi entregar-me na Polícia Federal naquele dia”, declarou Lula da Silva.

O antigo chefe de Estado do Brasil falava a uma multidão de apoiantes, em São Bernardo do Campo, no estado de São Paulo. “Eu podia ter ido para uma embaixada, a outro país, mas fui para lá, para provar que o juiz Moro [atual ministro da Justiça] era um canalha que me estava a julgar, para provar que o procurador Deltan Dallagnol não representa o Ministério Público, que é uma instituição pública, montou uma quadrilha com a Lava Jato”, acrescentou.

E o antigo Presidente frisou: “Se eu saísse do Brasil ia ser tratado como fugitivo, (…) mas decidi enfrentar as feras”.
Rodeado por aliados, como o ex-candidato pelo Partido dos Trabalhadores (PT) às presidenciais do ano passado, Fernando Haddad, pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Pimenta, e pela sua namorada, Rosângela Silva, Lula subiu a um palco para falar a milhares de apoiantes que o aguardavam na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo.

O antigo chefe de Estado brasileiro, de 74 anos, que deixou na sexta-feira a cadeia em Curitiba, após 580 dias preso, declarou que se “preparou espiritualmente para não ter ódio” dos que o acusaram.

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