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Mais de 60% dos gestores quer modelo de trabalho híbrido

Consultora BCG sugere que as empresas façam um planeamento estratégico e dinâmico da força de trabalho, sem ser só exercício anual ou bianual.
27 Junho 2021, 12h00

O futuro do ambiente de trabalho não chutará para canto a tecnologia. A maioria (65%) dos gestores globais prevê adotar um modelo de trabalho híbrido – remoto e presencial – mesmo depois da pandemia, ainda que menos de dois em cada dez (18%) estime definir teletrabalho permanente assim que os alarmes da quarta vaga de contágios deixarem de soar, de acordo com um estudo da consultora Boston Consulting Group (BCG).

“A crise levou as pessoas que procuram emprego a reavaliar o que desejam do trabalho: não apenas o local de trabalho, mas também as práticas, os valores e as relações. Os empregadores devem adaptar-se para se manterem competitivos. Embora muitos trabalhadores possam ter medo de mudar de emprego durante uma crise, para outros – geralmente os melhores talentos – esta é uma oportunidade de refletir”, conclui o estudo “Decoding Global Ways of Working”.

Num outro inquérito, os consultores internacionais defendem que tanto este inesperado vírus como a aceleração da tecnologia mostram que o impacto das megatendências é difícil de prever, o que leva patrões e empregadores a terem de se preparar para mudanças constantes. Como? Por exemplo, fazer um planeamento estratégico e dinâmico da força de trabalho, que deixe de ser apenas um exercício anual ou bianual. As empresas e os governos devem criar ferramentas para que possa ajustar os planos laborais em tempo real, à medida que mudam as condições económicas e os planos de negócio.

A PHC Software começou esse caminho de preparação para o futuro pelas infraestruturas, tendo inaugurado em abril a nova sede, no Taguspark, desenhada para um modelo híbrido de trabalho e no qual a tecnologia de ponta está presente – daí chamar-se House of Digital Business. “O nosso futuro será um modelo híbrido que conjugará dias no escritório para trabalho colaborativo e dias livres para trabalho de foco. Temos a plena consciência de que o escritório terá um papel muito importante, mas distinto, na experiência de trabalho, e do qual as empresas não deverão abdicar. Enquanto, para tarefas de grande concentração, o teletrabalho é ótimo, estar no escritório com colegas para discussão de ideias, inovação e cultura empresarial terá agora uma importância redobrada”, garante ao Jornal Económico (JE) Luís Antunes, diretor da unidade de Experiência das Pessoas na tecnológica portuguesa.

Apesar de as equipas da PHC não regressarem a Porto Salvo a 100%, há investimentos necessários e vanguardistas, como as secretárias que são antivírus (se bactérias/aerossóis tocarem nas superfícies de trabalho são absorvidos e exterminados em dez segundos). Luís Antunes sintetiza que o híbrido exige uma “preocupação natural com a colaboração, pensando o espaço como um local de cultura e de criatividade, deixando o trabalho de foco para ser feito fora das instalações da empresa”.

A tecnológica nacional, que tem clientes em 25 países, foi recentemente eleita pela Happiness Works como a empresa mais feliz para se trabalhar. “A nossa filosofia é a de criar uma experiência incrível para trabalhar, dando às pessoas condições de topo para um rendimento de topo. Isto passa por pensarmos o impacto emocional que o trabalho tem nas nossas vidas, a nível do local para trabalhar, do que acontece no local e das pessoas com quem estamos nesse mesmo local, cultivando sempre uma cultura que permite que cada um dos colaboradores esteja no seu melhor para si, para a equipa e para a empresa”, afirma o mesmo responsável ao JE.

A empresa de tecnologia de segurança Axis Communications diz ao JE que também irá manter a flexibilidade laboral pelo menos até ao final do verão, até porque esta digitalização forçada trouxe alguns aspetos positivos, como passar mais tempo com a família, ter mais poder de decisão sobre as deslocações e ser mais eficiente no dia a dia. “Acredito que essa flexibilidade vai durar muito mais tempo. Não queremos forçar as pessoas a virem ao escritório, queremos tornar a vida no escritório atraente para que as pessoas venham. Por outro lado, devemos ter em atenção que a intensidade digital dos dias dos trabalhadores aumentou com o risco de haver um ‘esgotamento digital’ e de que as equipas fiquem mais isoladas”, adverte Matteo Scomegna, diretor regional para o sul da Europa do grupo sueco.

Para evitar esses percalços, a BCG explica que um gap year ou uma formação educacional completamente distinta poderá tornar-se mais comum. Logo, as organizações devem repensar as “formalidades” e contratar talentos consoante as suas capacidades e potencial, mesmo que tenham habilitações mais ligadas a outros sectores. E continuar a investir em tecnologia de cibersegurança, alerta, por sua vez, Matteo Scomegna. “Com este aumento de reuniões online, partilha de documentos e trabalho remoto, os investimentos em todas as tecnologias relacionadas aumentaram. As empresas também estão a avaliar mais os riscos e esse é um processo contínuo para todas as instalações de TI (tecnologias da informação)”, explica.

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