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Mais de metade dos atuais eurodeputados portugueses não voltam a Estrasburgo

Razia no PS, que fica sem Francisco Assis, Ana Gomes e Maria João Rodrigues, e ocaso do fenómeno Marinho e Pinto explicam forte renovação na delegação portuguesa no Parlamento Europeu. Apesar de PSD, CDU, Bloco de Esquerda e CDS-PP terem “repetentes” enquanto cabeças de lista.
  • Cristina Bernardo
20 Maio 2019, 07h45

Apenas nove dos atuais 21 eurodeputados portugueses deverão continuar no Parlamento Europeu na próxima legislatura, apesar de cinco das listas que se apresentam a votos no próximo domingo, 26 de maio, serem encabeçadas por políticos que têm assento em Estrasburgo (Paulo Rangel, João Ferreira, Marisa Matias, Nuno Melo e António Marinho e Pinto). Esse contingente só poderá chegar à dezena se o comunista João Pimenta Lopes conseguir reeleger-se, o que implicaria que a lista da CDU voltasse a conseguir três eleitos.

Para a saída de mais de metade dos eurodeputados nacionais contribui sobretudo a revolução na lista do PS, que perde alguns dos seus representantes mais emblemáticos e experientes. A escolha do ex-ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, para número um – com a ex-ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Maria Manuel Leitão Marques, como número dois -, veio acompanhada da saída de Francisco Assis, cabeça de lista em 2014, quando obteve a vitória “poucochinha” que António Costa apontou ao então secretário-geral, António José Seguro. Crítico da solução governativa encontrada pelo atual primeiro-ministro, Assis foi sendo posto de parte, com uma sucessão de episódios a acentuarem o afastamento.

Ainda antes do anúncio da escolha de Pedro Marques já a muito notória Ana Gomes se adiantara a qualquer intenção alheia, anunciando que não estava interessada em recandidatar-se, em nome da renovação política. E também o destino de Maria João Rodrigues, que chegou a ser considerada para um lugar de comissária europeia, ficou selado com o escândalo decorrente das acusações de assédio moral por parte de elementos do seu gabinete.

Outras baixas entre os atuais oito eurodeputados socialistas são a da madeirense Liliana Rodrigues, substituída por Sara Cerdas, mais próxima do presidente da Câmara do Funchal (e candidato ao Governo Regional da Madeira) Paulo Cafôfo, e a do açoriano Ricardo Serrão Santos, bem como a de Manuel dos Santos. O ex-secretário de Estado do Comércio tornou-se praticamente um proscrito no Largo do Rato por, entre outros desabafos, ter chamado “cigana e não só pelo aspeto” à candidata vitoriosa do PS em Matosinhos, Luísa Salgueiro.

Sobram da atual delegação socialista no Parlamento Europeu Pedro Silva Pereira, o ex-ministro-adjunto de José Sócrates, e o ex-secretário de Estado da Administração Interna e da Energia, Carlos Zorrinho. Silva Pereira é o terceiro da lista encabeçada por Pedro Marques, enquanto Zorrinho ocupa uma sétima posição considerada elegível por todas as sondagens divulgadas.

Menores são as transformações no PSD, pois além da manutenção de Paulo Rangel, também o minhoto José Manuel Fernandes (terceiro da lista) e a madeirense Cláudia Monteiro de Aguiar (sexta) têm a reeleição garantida, enquanto Carlos Coelho, no sétimo lugar, pode contar com o regresso a Estrasburgo. Há cinco anos a lista do PSD e CDS-PP só obteve sete eurodeputados (um dos quais o atual cabeça de lista dos centristas, Nuno Melo), mas as sondagens mais recentes apontam para que os social-democratas cheguem sozinhos a pelo menos sete.

Certamente de fora ficam apenas o histórico autarca viseense Fernando Ruas e a açoriana Sofia Ribeiro, pois não se recandidatam a uma segunda legislatura no Parlamento Europeu.

Dúvida na CDU e implosão do MPT

Outra saída de Estrasburgo já garantida é a do eurodeputado comunista Manuel Viegas, que não consta da lista da CDU, enquanto João Pimenta Lopes, que ocupou o lugar deixado vago por Inês Zuber em 2016, aparece em terceiro lugar da lista que volta a ser encabeçada por João Ferreira. Algumas sondagens admitem que a CDU consiga manter três eleitos em Estrasburgo, mas a maioria aponta para apenas dois. Nesse caso, seriam Ferreira e a neófita Sandra Pereira, que preside à Associação dos Bolseiros de Investigação Científica.

Também distantes da reeleição estarão António Marinho e Pinto e José Inácio Faria, eleitos pelo Movimento Partido da Terra em 2014, graças ao resultado surpreendente do ex-bastonário da Ordem dos Advogados (ultrapassou os sete por cento e os 234 mil votos). Nada indica que o fenómeno se repita em 2019, agora com Marinho e Pinto a cabeça de lista do Partido Democrático Republicano e Inácio Faria como número dois do Nós Cidadãos, numa lista liderada por Paulo Morais.

Diferentes são os desafio de Marisa Matias e de Nuno Melo. Tanto a bloquista como o centrista têm a reeleição assegurada, visto que dificilmente será necessário mais do quatro por cento dos votos para assegurar a estadia em Estrasburgo. Resta-lhes lutar para duplicar a representação do Bloco de Esquerda e do CDS-PP, abrindo portas a, respetivamente, José Gusmão e Pedro Mota Soares.

REELEIÇÃO GARANTIDA

Pedro Silva Pereira (PS)

Paulo Rangel (PSD)

José Manuel Fernandes (PSD)

Cláudia Monteiro de Aguiar (PSD)

João Ferreira (CDU)

Marisa Matias (Bloco de Esquerda)

Nuno Melo (CDS-PP)

REELEIÇÃO MUITO PROVÁVEL

Carlos Zorrinho (PS)

Carlos Coelho (PSD)

REELEIÇÃO DIFÍCIL

João Pimenta Lopes (CDU)

REELEIÇÃO MUITO IMPROVÁVEL

António Marinho e Pinto (PDR)*

José Inácio Faria (Nós Cidadãos)*

*eleitos pelo MPT em 2014

NÃO SE RECANDIDATAM

Francisco Assis (PS)

Ana Gomes (PS)

Maria João Rodrigues (PS)

Ricardo Serrão Santos (PS)

Liliana Rodrigues (PS)

Manuel dos Santos (PS)

Fernando Ruas (PSD)

Sofia Ribeiro (PSD)

Manuel Viegas (CDU)

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