“Perdeu um bocado o sentido ser de esquerda ou ser de direita. Acho que se calhar tem mais sentido ser honesto”. Infelizmente, esta afirmação recente de Maria José Morgado já caiu no conformismo nacional. A procuradora distrital da comarca de Lisboa sintetizou de forma acutilante o Estado de podridão da nação, ao mesmo tempo que “ofereceu” uma solução aos que queiram cumprir o seu dever de cidadania trabalhando para o bem-estar de todos. Exijam honestidade!

A realidade, caro leitor, é por demais simples e evidente. Entre a esquerda e a direita a diferença mora apenas na retórica da cor, porque no seu âmago são todos farinha do mesmo saco, desonestos, indecentes. Claro que existe uma minoria que não participa no golpe, contudo, é parte por omissão da acção maligna que assola o Parlamento. Corrupção, das mais variadas formas e feitios.

É raro o dia que, confrontado com as tristes notícias da incompetência, promiscuidade e incúria dos nossos políticos na defesa dos cidadãos, não me sinto compelido a participar na formação de um movimento político apartidário, não com o objectivo pernicioso de implementar uma qualquer ideologia para ocultar o saque, mas, acima de tudo, para ser decente.

Ter uma estratégia concreta para o futuro do país, não fazer política apenas pela cor mas pelo que é melhor para todos. Muito honestamente, alguém consegue afirmar que políticas só de uma cor são melhores que a soma das melhores políticas das várias cores? Será que isto não é óbvio? O problema é que políticas fora da cor tiram tachos, tiram poder, fica-se à mercê da qualidade da governação e não de acordos politiqueiros para quem lá está aí se manter.

Ser decente é cuidar das pessoas, ouvindo-as, não as ignorando do alto da torre de marfim. A causa pública em Portugal só existe fora do espectro político, nos funcionários públicos ou privados que trabalham em prol do cidadão, ao invés dos engravatados de São Bento que só tratam de si próprios, seja qual for a sua cor política. Cor essa que apenas define o nome dos gangues que nos assaltam à luz do dia. Sim, gangues, é o nome que se dá a grupos organizados que usurpam direitos de outros, de forma violenta ou não. Infelizmente, como estamos dormentes deixamos andar, permitimos que nos escravizem todos os dias, sem qualquer responsabilização.

Sim, escravizam. Claro que não usam grilhetas de ferro, são mais finos, mas é isso que quer dizer quando alguém trabalha sem receber o que tem direito porque uns lordes usurpam parte ou todo o rendimento do trabalhador, sempre com uma ameaça velada, no nosso caso do Estado Fiscal, cada vez mais implacável. Recordo que, em 2017, atingimos o nível mais elevado de carga fiscal, ou seja os impostos aumentaram! Não há volta a dar por mais lenga-lengas que nos tentem impingir.

E o que recebemos em troca? Menos serviços públicos, mais rupturas em sectores essenciais da sociedade como a saúde e a segurança. Não, não estamos bem. O nosso crescimento é um dos mais baixos da Europa, continuamos a ter uma das maiores taxas de desemprego, mais dívida, menor nível de vida, a afastarmo-nos da Europa e a ser ultrapassados por outros países que entraram muitos piores que nós na Europa. Em suma, somos governados por incompetentes aproveitadores e ninguém se insurge.

Porquê? Em parte porque alguns “jornalistas” se esqueceram do mais elementar dever de isenção e usam o seu poder de decisão sobre os conteúdos para passar mensagens e imagens dos seus políticos “favoritos”. É por este facto que a estupidificação e a lavagem cerebral continuam, porque o quarto poder está também ele, em parte, corrompido. O recente “caso Robles” é a prova de que os media ainda têm um peso consequente importante.

Todos os anos a novela é a mesma, seja qual for o governo, é tudo deles. E descobrimos negociatas passadas entre eles e para o bem deles. Nós, os que lhes pagamos as mordomias, continuamos impávidos e serenos. Até quando? Até quando continuaremos a permitir que nos roubem o futuro? Quando diremos ‘chega’ ao regabofe? Quando iremos reivindicar o direito a ter uma voz na condução do nosso destino para além do dia de voto, que mais não é que um “amém” à escolha que as máfias dos aparelhos partidários fizeram a priori.

Termino com uma imagem que passa por vezes nas redes sociais, que representa políticos de esquerda a viveram em grandes mansões, separadas por murros dos seus eleitores a viver em barracas. A imagem está obviamente incorrecta por defeito, porque como se infere das elucidativas palavras de Maria José Morgado, não há políticos pela direita, ou pela esquerda, há políticos por eles.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.