Primeiro titular da pasta da Economia no primeiro governo de António Costa, Manuel Caldeira Cabral partilhou as suas expectativas quanto ao Orçamento do Estado para 2020 à margem de uma conferência sobre competitividade que decorreu na SEDES – Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, que teve lugar na semana passada.
O que é que espera deste Orçamento do Estado no que toca ao reforço a competitividade das empresas portuguesas?
Penso que o que aconteceu neste Governo ao longo destes últimos quatro anos, e penso que irá continuar a acontecer e que teve um impacto grande na competitividade das empresas, foi em primeiro lugar o Programa Capitalizar. Penso que isso vai continuar. No fundo, são incentivos ao investimento e também à capitalização das empresas. Isso reforça a capacidade competitiva das empresas. Uma das fraquezas que as empresas portuguesas tinham eram baixos índices de autonomia financeira e melhoraram muito nos últimos anos. Outro aspeto é o reforço do apoio à inovação, à ciência e tecnologia e à investigação e desenvolvimento. Penso que esse reforço deve continuar neste Orçamento e é um fator que promove a competitividade – e não promove a competitividade só num muito longo prazo. Há e está a haver cada vez mais uma aceleração desse processo. O processo de transferência de tecnologia e de inovação está a ter resultados nas empresas muito mais rápidos do que no passado. Continuará a haver algumas áreas em que os processos são longos, mas o que as startup mostram é que as tecnologias desenvolvidas, ou a utilização dessas tecnologias, têm às vezes resultados muito rápidos.
Está, portanto, à espera de que a redução da carga fiscal continue a não ser uma prioridade?
Penso que a fiscalidade que reforça competitividade é a que aconteceu com o crédito fiscal ao investimento. Já aconteceu nos anos anteriores, com incentivos às empresas que reinvestem e às empresas que se capitalizam. Isso reforça a competitividade das empresas. Algumas coisas que se fala em termos de alterações fiscais não têm qualquer impacto na competitividade das empresas. No caso do IVA, como as empresas exportadoras recuperam o IVA, não o pagam. Há outros impostos que incidem sobre a eletricidade e que se forem diminuídos podem contribuir para reduzir os custos da fatura das empresas. Já o IVA, como as empresas o recuperam, não tem nenhum contributo para a competitividade das empresas, terá apenas um contributo para os cidadãos. Pode ter impacto para classes sociais mais baixas, tal como este Governo já fez, com a generalização da tarifa social, que de facto baixou o custo da eletricidade às pessoas de menores recursos. Isso são medidas que têm um interesse social e não têm um interesse de competitividade. Para a competitividade há que baixar o IRC de quem investe e baixar o IRS de quem trabalha, o que torna o país mais atrativo para atrair talento. Baixar impostos sobre o consumo não aumenta a competitividade. Como há um espaço fiscal limitado, não daria prioridade a esse género de baixa de impostos. O que também aumenta a competitividade é o aumento do investimento público, se for bem direccionado. Há planos de ferrovia, dos portos, no aeroporto de Lisboa. Ou seja, o Governo pode aumentar a competitividade tanto pelo investimento público como pelas reduções de impostos que recaem sobre os factores de produção.
Há garantias que este ciclo de crescimento que estamos a atravessar possa sobreviver a novos choques externos?
Há quatro anos, Portugal estava há 15 anos a crescer abaixo da média europeia. De repente está há quatro anos seguidos a crescer acima da média europeia e todas as instituições internacionais que em 2015 apontavam para que nos anos seguintes Portugal continuasse a crescer abaixo da média europeia, colocam hoje o país a crescer acima da média nos próximos anos. Neste momento, como estão a prever uma redução do crescimento europeu estão também a fazer previsões de Portugal continuar a crescer. Essa percepção do país gera não só mais crescimento no curto prazo, mas mais capacidade produtiva, que gera mais crescimento de médio e longo prazo. É nesse sentido que os resultados são positivos. O país tem que continuar a investir, tem que aumentar os níveis de poupança e investimento se quer garantir ritmos de crescimento maiores, tem que se manter aberto a receber pessoas para atenuar o efeito demográfico e tem que ter muita atenção aos desequilíbrios porque tem um nível de endividamento muito elevado. Conseguiu criar muita confiança nos mercados internacionais porque tem mantido défices baixos e tem feito um esforço de consolidação e tem conseguido reduzir o endividamento e isso dá confiança aos mercados. Essa confiança tem impacto na vida das pessoas porque a poupança de juros significa que há mais para gastar em saúde e educação. A poupança de juros significa também que as empresas se estão a financiar a custos mais baixos. Tem sido um factor muito importante e é um factor a manter.
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