[weglot_switcher]

Marques Mendes: Novo partido de Santana tem o objetivo de participar numa solução futura de Governo

O comentador vaticinou que no futuro o Partido de Santana Lopes pretende fazer parte de uma aliança governativa com PSD e CDS. Comentou ainda o caso Robles, dizendo que o Bloco “mostrou ser um partido com os mesmos defeitos dos outros”, e prevê grandes revoluções no espectro partidário do Parlamento Europeu nas próximas eleições com a subida de outros partidos.
6 Agosto 2018, 00h04

Luís Marques Mendes no seu habitual comentário semanal na SIC, comentou hoje a turbulência no PSD, com a saída de Santana Lopes do partido e a entrevista ao semanário Expresso, do antigo líder da JSD, Pedro Duarte, diz que avança contra Rui Rio por considerar que o atual presidente do partido perdeu legitimidade política. O social-democrata acusa o líder do PSD de estar a lutar para ser vice de António Costa, em vez de primeiro-ministro do país.

“Julgo que esta entrevista tem muito a ver com duas situações. Primeiro por existir um certo mau estar que existe no PSD, por causa das sondagens por um lado, porque há uma excessiva colagem do PSD ao PS, por outro lado, e porque está a criada a ideia que as eleições de 2019 estão perdidas”, disse Marques Mendes, comentador que já foi presidente do PSD.

“Já há muita gente no PSD a pensar no pós Rui Rio”, disse ainda. “A um ano de eleições tudo é possível, mas as sondagens não ajudam”, refere.

Recorde-se que Pedro Duarte não é deputado, tem estado fora da política e não tem manifestado interesse em cargos políticos.

Rui Rio vai, com toda a certeza, “desvalorizar esta entrevista e não vai responder ao desafio de Pedro Duarte de fazer eleições antecipadas. Isto é, Rui Rio não vai convocar eleições antecipadas dentro do partido”, ao contrário do que pede Pedro Duarte, e segundo Marques Mendes o presidente do PSD faz bem porque deve cumprir o mandato até ao fim.

Rui Rio deve continuar o seu percurso, mas deve aproveita este período de férias para fazer uma reflexão, defende o comentador que apela a que o líder do PSD se concentre em cuidar da unidade do partido. “O partido precisa de tréguas. Ninguém ganha eleições com um partido dividido. Quem mais é prejudicado com a divisão do partido, porque não se afirma, não é levado a sério. Se não consegue unir o partido como é que há-de mandar no país?”, defendeu.

Marques Mendes defende que Rui Rio deve procurar ser um agregador dentro do PSD. Rui Rio devia ser pró-activo na promoção da unidade do partido.

O presidente do PSD deve também pensar numa  nova forma de fazer oposição, no sentido de ser mais assertiva. “Hoje tem-se a sensação que o PSD tem um pacto de não agressão com António Costa. Basta ver que a Saúde está um caos; o serviço público de comboios altamente degradado; a Educação está cheia de problemas; Tancos é uma vergonha; vários exemplos e ninguém faz oposição”.

Sobre o facto de Pedro Santana Lopes sair do PSD e de ir formar um novo partido de direita, Marques Mendes diz que é uma decisão “que não é boa nem para o PSD nem para Santana Lopes, nem para o centro direita. Todos vão perder”.
No imediato, perde o PSD, porque uma cisão é sempre uma cisão; depois, porque vai perder alguns votos e por pouco que seja (por exemplo 2%, 3% ou 4%), é mau para um partido que já tem um resultado baixo, só tem 27% nas sondagens.

“É mau para o centro direita porque pode tirar alguns votos ao PSD, mas  também ao CDS.

“No médio prazo Santana Lopes também vai perder. Não acredito que o seu partido tenha grande sucesso. Acho que o seu novo partido vai suscitar mais curiosidade mediática do que apoio popular”, disse ainda.

Mas está tomada a decisão, reconheceu. “O grande objectivo de Santana Lopes é que o seu partido faça parte de uma solução de poder. O grande objectivo é tentar que o seu novo partido venha a fazer parte da futura coligação de centro-direita que há-de, um dia, chegar ao poder. Em vez de ser uma coligação PSD/CDS, o que Santana quer é que seja PSD/CDS/Partido de Santana Lopes. Este é o seu grande objectivo. É por isso que sai do PSD e forma um novo partido”, realçou o comentador. Isto é, o partido de Santana Lopes poder fazer parte de um governo de geringonça à direita.

Marques Mendes salientou ainda que a prioridade de Santana Lopes vai ser as eleições europeias que vão decorrer entre 23 e 26 de maio de 2019. É aí que Santana se vai atentar afirmar. “Por isso, vai apresentar-se como líder de um partido mais anti-europeu; mais nacionalista; um pouco mais populista; tentando capitalizar algum descontentamento, interno e externo.
O que vai obrigar o CDS a radicalizar um pouco o seu discurso”.

O PSD vai manter com Paulo Rangel as suas convições europeístas, disse ainda o comentador.

“Muita coisa vai mudar na Europa e no Parlamento Europeu, com os dois principais partidos a levar um rombo”.

“Perspectiva-se um grande enfraquecimento dos dois grandes partidos do Parlamento Europeu – o Partido Popular Europeu, onde se encontra o PSD; e o Partido Socialista Europeu, onde se filia o PS, defendeu Marques Mendes. Ambos vão levar um rombo, sobretudo nos grandes países – em Itália, França e Alemanha”, explicou.

“O PSE é o que vai levar o maior rombo. Vai perder muitos deputados. Será uma grande razia e o PPE não terá um rombo tão grande, mas também vai perder muito. Vai perder deputados e influência. E pode haver ainda cisão entre os mais moderados e os mais radicais”, disse.

“Vamos ter uma nova família política no Parlamento Europeu, o Grupo Macron, com os deputados franceses ligados ao Presidente de França, mas também com deputados espanhóis do Ciduadanos e deputados socialistas italianos, ou mesmo alguns dos mais moderados do PPE, por exemplo do PSD português”.  Será um grupo moderado, disse.

“Vamos ter a subida dos nacionalistas, da extrema direita e extrema esquerda e quebra das forças europeístas. Isto vai-se acentuar nos países de Leste (Hungria, Polónia, República Checa, Eslováquia), mas também na antiga Europa, nomeadamente na Áustria e na Itália”.

Assim o Parlamento Europeu poderá vir a ter sete a oito grupos com grande força partidária, disse acrescentando que isso vai prejudicar a escolha do presidente da Comissão Europeia, defendeu Marques Mendes que antevê muita dificuldade em escolher o sucessor de Juncker. “Negociar a oito é mais difícil”, lembrou.

Folhetim Robles e o impacto no Bloco

Ricardo Robles é quem sai mais a perder, defendeu Marques Mendes. “Este episódio foi péssimo para o próprio Ricardo Robles que é um jovem com muitas qualidades políticas”, disse o comentador que considera que com tudo o que se passou, o seu futuro político ficou seriamente comprometido.

“Foi mau para o BE e para Catarina Martins, porque mais do que o caso Robles, foi o comportamento que o Bloco teve perante o caso Robles”, defendeu o comentador que acha que se o Bloco se tem demarcado desde o princípio “não tinha sido afectado”.

“Como Catarina Martins andou aqui aos bonés e aos ziguezagues. A dizer uma coisa e o seu contrário, sai profundamente chamuscada”.

“O Bloco mostrou ser um partido com os mesmos defeitos dos outros”, lembrou.

“Isto é bom para o PCP e sobretudo o PS, porque estamos em vésperas de discussão do Orçamento de Estado”, disse Marques Mendes que considera que com este episódio saiu a sorte grande ao PS.

“Primeiro, porque este episódio fragiliza o BE em vésperas de discussão do Orçamento. No momento mais difícil para o Governo, o Bloco, em vez de estar mais forte, está mais fraco”, disse ainda.

Para Marques Mendes este episódio pode ainda ter reflexos eleitorais, porque pode levar muitos eleitores que oscilam entre o PS e o BE a preferirem o PS, defendeu.

O Bloco não vai mudar de mensagem, “mas nunca mais terá a força e a credibilidade que tinham antes”.

Siresp: Governo prometeu ficar com a maioria do capital, mas não ficou

No ano passado o Governo prometeu que iria ficar com 54% do capital do Siresp. O problema é que os Governantes (Eduardo Cabrita e depois António Costa) não sabiam que “para poderem ter a maioria do capital era preciso que a PT, hoje detida pela Altice, não exercesse um direito de preferência a que tem estatutariamente direito, e que se estava a ver que ia exercer”.

Siresp é uma operadora da Rede Nacional de Emergência e Segurança resultante da parceria público-privada promovida pelo Ministério da Administração Interna.

Esta promessa marca o modus operandi deste Governo que é “primeiro promete, e só depois estuda e logo se vê, depois falha e quando falha não dá nenhuma explicação”.

Depois, disse, “quando vier dar uma explicação já o assunto estará esquecido e vai encontrar um culpado qualquer”.

“A verdade é tão simples quanto isto: o Governo falhou porque não foi competente. O Governo falhou porque, quando fez a promessa, há um ano, não tinha estudado o assunto, não tinha lido os estatutos do Siresp, não previram esta hipótese de a PT exercer o direito de preferência e falharam redondamente”, disse Marques Mendes.

António Costa tem muita sorte. Porque com este problema mais, continua a não ter uma oposição forte, afirmou ainda.

Mário Soares e Francisco Sá Carneiro no Panteão Nacional? Marques Mendes concorda

“Quer Mário Soares, quer Francisco Sá Carneiro merecem estar no Panteão Nacional”, disse o comentador que mais uma vez concorda com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Marcelo veio dizer que “são os pais da democracia portuguesa” e que cabe ao parlamento definir regras estáveis nesta matéria.

“Mário Soares é, provavelmente, o político do pós 25 de Abril que mais merece esta homenagem; e Sá Carneiro teve uma carreira política bem mais curta mas uma carreira de grande coragem, coerência e sentido patriótico”, disse Marques Mendes.

Mas não concorda quanto à forma como as coisas estão a ser feitas no Parlamento. “Estes deputados há cerca de dois anos fizeram a lei a dizer que ninguém pode ir para o Panteão Nacional antes de decorridos 20 anos sobre a sua morte. Agora já querem fazer uma lei para alterar a lei que fizeram há dois anos para, relativamente a Presidentes da República, não se aplicar 20 anos, mas dois anos”. Ou seja querem uma lei feita à medida de Mário Soares. O PS e PSD querem agora abrir uma excepção para ex-Presidentes da República. “Mas porquê ex-Presidentes da República? Porque não ex-primeiros ministros, ou altas personalidades que se destacaram no estrangeiro, ou cidadãos que se destacaram nas artes e na cultura com grande impacto no país?”, questiona Marques Mendes. “Não devem ser os cargos, mas os feitos que devem determinar a trasladação dos restos mortais de uma determinada personalidade para o Panteão”, conclui.

O distanciamento histórico é importante e daí a importância dos 20 anos decorridos da sua morte, defendeu. “Nestas matérias, não se pode decidir com paixão e com emoção. Muito menos por impulso político ou partidário. É preciso tempo. É preciso distanciamento histórico. Doutra forma, corremos os risco de estar a banalizar uma homenagem que deve ser especialmente nobre e decidida com grande independência.

 

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.