[weglot_switcher]

Mckinsey alerta que bancos continuam com rentabilidades abaixo do custo de capital

A Mckinsey considera que a indústria, no seu conjunto, está preparada para uma recuperação que poderá colocar o return on equity (ROE) entre 7% e 12% até 2025. Mas o foco estará no modelo de negócio que os bancos adoptarem.
6 Dezembro 2021, 21h12

Na 11.ª edição da análise bancária anual, “Global Banking Annual Review 2021”, a McKinsey diz que, “ao contrário da crise de 2007-09, a indústria dos serviços financeiros navegou a pandemia melhor do que o esperado e posicionou-se como parte da solução”. No entanto, alerta a consultora, “os bancos continuam a apresentar valorizações pouco atrativas para os investidores e rentabilidades abaixo do custo de capital”.

Apesar disso, algumas instituições começam a divergir de forma excecional e significativa, quer no que respeita à atratividade para investidores, quer para a captação de novos clientes.

A Mckinsey considera que a indústria, no seu conjunto, está preparada para uma recuperação que poderá colocar o return on equity (ROE) entre 7% e 12% até 2025.

Nuno Ferreira, sócio da McKinsey e autor responsável pela 11.ª edição do McKinsey Global Banking Annual Review 2021, que acaba de ser publicada, lembra que “assistimos agora à conclusão de uma fase de convergência resiliente do setor bancário, a nível global e também em Portugal”.

Nestes últimos anos, “a banca esteve focada na transformação da sua produtividade, dos seus custos, e da gestão para se tornar mais resiliente para responder aos requisitos regulatórios”, e por isso a banca é atualmente “uma indústria mais robusta em termos de capital, mais segura e mais resiliente”, refere Nuno Ferreira.

“Assistimos agora ao início de uma era de crescimento divergente. A disrupção está a acontecer nos bancos incumbentes e surgem novos players que apoiam com tecnologia a produtividade e o negócio. Os que nesta fase alocarem mais ganhos a este crescimento e transformação vão liderar no médio prazo”, constata o autor do relatório sobre a banca.

“Os próximos anos são cruciais para qualquer banco com aspirações em posicionar-se no lado certo da divergência. O passado mostra que as instituições que dão passos ousados no sentido do crescimento nos primeiros anos após uma crise conseguem manter esses ganhos a longo prazo”, refere Nuno Ferreira.

Segundo a McKinsey, depois de uma era de convergência resiliente (2010-2020), a indústria entra agora numa era de crescimento divergente, e os próximos 18-24 meses determinarão, em grande parte, quem serão as instituições líderes no próximo ciclo económico.

De acordo com o relatório, são quatro os fatores principais para a divergência entre instituições. Os primeiros três – geografia, escala e foco no segmento – são difíceis de mudar.

O quarto – o modelo de negócio – é onde os bancos se devem focar para melhor se adaptarem, defende a McKinsey.

“Os bancos não podem alterar com frequência a sua geografia, escala ou segmento, mas o modelo de negócio que adotam está sob o seu controlo. No entanto, muitos bancos tradicionais têm seguido um modelo de mercado com base nos rendimentos dos seus balanços”, revela o estudo.

A McKinsey diz que, de um modo geral, as fintechs e os prestadores de serviços financeiros especializados em pagamentos, financiamento ao consumo, ou gestão de riquezas estão a gerar rendimentos muito superiores face à maioria dos bancos.

Algumas fintechs estão a passar para uma valorização de mil milhões de dólares (cerca de 890 milhões de euros) em poucos anos. E há, de facto, alguns bancos entre as instituições que estão a divergir muito desse conjunto.

A 11.ª edição da análise bancária anual McKinsey Global Banking Annual Review 2021 revela como os bancos saíram do turbilhão de 2020, detalha os fatores que irão influenciar o seu destino nos próximos anos e aponta as estratégias que elevarão um conjunto de bancos acima dos restantes.

A investigação da McKinsey mostra também que instituições com pouco capital e negócio especializado, baseado em comissões, prosperaram.

As instituições com fraco desempenho podem recuperar, mas o tempo é curto, diz a consultora. A análise da McKinsey revela que dois terços do valor gerado durante todo o ciclo de recuperação económica é criado durante os primeiros dois anos após uma crise.

 

As principais conclusões do relatório de 2021 revelam que:

● Os serviços financeiros como um todo (incluindo bancos, fintechs e especialistas) estão a negociar a 1,3 vezes do valor contabilístico do capital próprio, muito abaixo das 3 vezes dos restantes setores. Olhando apenas para os bancos, as avaliações diminuem para 1 vez, e metade dos intervenientes estão de facto a negociar abaixo do valor do capital próprio;
● Entretanto, especialistas em pagamentos, bolsas, e algumas empresas de títulos capturaram mais de 50% dos 1,9 biliões de dólares (1,69 biliões de euros) em capitalização de mercado do total da indústria financeira;
● A divergência destaca-se pelo facto de apenas 65 das 599 instituições analisadas terem acumulado todos os ganhos.

O relatório deixa ainda reflexões sobre o modelo de negócio, que deverão ser consideradas pelos CEOs e estrategas da banca, juntamente com exemplos para os bancos que procuram o crescimento e a prosperidade.

A avaliação da McKinsey às instituições financeiras com melhor desempenho aponta para três elementos comuns, que permitem construir um modelo de negócio à prova do futuro. Em primeiro lugar ter clientes investidores e serviços financeiros digitais; depois, um modelo económico eficiente que fomente o crescimento da originação de negócio (financeiro e outro) e não se baseie apenas no balanço (stock); e por fim apostar na inovação contínua, aposta em mercados com rápido crescimento, baseados em tecnologia e talento.

O relatório conclui com um conjunto de reflexões que os líderes bancários de hoje devem considerar para serem players bem-sucedidos. Nomeadamente atrair investidores com um modelo económico com menos capital intensivo e mais centrado no crescimento; entrar na era digital com uma experiência distinta e personalizada; e investir – tanto organicamente como através de aquisições ou parcerias – e atrair os melhores talentos.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.