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Media Capital considera OPA da Cofina inadequada e o preço baixo

A Media Capital aconselha os acionistas a não venderem na OPA da Cofina. O relatório da visada elenca os argumentos para rejeitar a oferta. No essencial a dona da TVI considera que o preço é baixo e não incorpora um prémio de controle.
28 Agosto 2020, 23h38

O conselho de administração da Media Capital acaba de publicar no site da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) o “Relatório da Visada”, no qual faz a apreciação da oferta pública de aquisição (OPA) em curso da Cofina. Sem surpresas, a Media Capital, detida maioritariamente, pela Prisa, considera a OPA da Cofina “extemporânea e inadequada”, na medida em que “altera significativamente o normal desenvolvimento do Grupo Media Capital, em qualquer dos cenários configurados nos Documentos da Oferta”.

Já quanto ao “tipo e montante da contrapartida oferecida” a Media Capital ressalva que de acordo com o “Anúncio Preliminar Modificado e os Documentos da Oferta”, a contrapartida mínima será fixada pelo auditor independente designado pela CMVM, pelo que “reservar-se-á para o futuro a pronúncia sobre uma contrapartida mínima que venha a ser determinada por auditor independente, caso esta venha a divergir” da contrapartida atual.

Mas para já pronuncia-se sobre o atual preço da OPA da Cofina (depois de revisto em baixa com autorização da CMVM). Assim, “o conselho de administração do Grupo Media Capital analisou diversas avaliações relativas às condições financeiras da oferta, que permitem considerar que uma contrapartida de 0,415 euros por ação da Media Capital não reflete adequadamente o valor da Sociedade Visada e que não incorpora o prémio implícito, ou é baixo, considerando a prática seguida por outras empresas onde existiu aquisição de controlo”.

A Media Capital diz ainda que este novo preço da mesma OPA da Cofina aproxima-se do preço inerente à venda de 30,22% à empresa de Mário Ferreira, dono da Douro Azul, mas que neste caso não estava a ser vendido o controlo.

“Aproxima-se do valor da transação comunicada ao mercado no dia 14 de maio de 2020, que resultou na alienação de 25.539.883 (vinte e cinco milhões, quinhentos e trinta e nove mil, oitocentos e oitenta e três) ações detidas pela Vertix, SGPS, à Pluris Investment, pelo preço unitário de 0,41 euros (Transação Precedente)”, lê-se no relatório da visada.

Mas, acrescenta a Media Capital, “importa, contudo, assinalar que a Transação Precedente  correspondeu à aquisição de uma participação minoritária de 30,22% do capital social e direitos de voto do Grupo Media Capital e, portanto, a Oferta não incorpora um prémio de controlo face à Transação Precedente, que é prática comum no mercado quando participações maioritárias são adquiridas”.

A Media Capital invoca ainda que após a data da venda de uma participação à empresa de Mário Ferreira (Pluris Investment) existiram vários factos relevantes que “o conselho de administração considera que incrementaram o valor do Grupo Media Capital e que não se encontram refletidos na Oferta”.

Apesar da deterioração dos resultados nos últimos trimestres, por via sobretudo da redução de quota de audiência da TVI generalista e da pandemia, diz a Media Capital, “é notória a recuperação, tanto da quota de audiência como do mercado de publicidade nos últimos meses do 1º semestre de 2020. É ainda relevante, conjugado com os fatores supramencionados, as apostas estratégicas do Grupo Media Capital na televisão, reforçando os seus conteúdos e contratando quadros e rostos relevantes que permitem acelerar a recuperação dos resultados do Grupo Media Capital no curto-prazo e assegurar uma trajetória sustentável de resultados a médio e longo-prazo”.

Para justificar que o preço oferecido é baixo, a Media Capital, detida em 64,47% pela Prisa, diz ainda que “no contexto da crescente relevância dos conteúdos e do canal digital no sector dos media, o Grupo Media Capital desencadeou uma reflexão estratégica que permitiu definir uma nova visão para os segmentos de Produção Audiovisual e Digital, assente em desbloquear novos mercados na produção de conteúdos e acelerar a digitalização dos segmentos de vídeo e áudio. Estes fatores permitem assegurar uma trajetória sustentável de resultados a médio e longo-prazo”.

A visada diz ainda que “a oferta não reflete a posição de referência do Grupo Media Capital no contexto dos media em Portugal, bem como o desempenho operacional e solidez financeira que o Grupo Media Capital demonstrou ao longo da sua história, liderando doze anos consecutivos no segmento de televisão, conquistando a liderança nas rádios e sendo uma referência na produção audiovisual e em várias propriedades digitais”.

A herança histórica, combinada com os fatores descritos “levam o conselho de administração a acreditar que o Grupo Media Capital poderá convergir para níveis de rentabilidade históricos”, prevê a dona da TVI.

“Esta posição é reforçada pela confiança do mercado na recuperação da atividade económica em geral e do setor de media em particular, suportado no facto de que as cotações das empresas (incluindo as de media), não acompanharem, de maneira alguma, na mesma proporção, a deterioração dos resultados financeiros, o que significa que se espera que os resultados venham a recuperar substancialmente”, lê-se no documento.

Adicionalmente, diz a Media Capital, o grupo de empresas de media cotadas comparáveis “apresenta uma redução média da capitalização bolsista de aproximadamente 40% desde janeiro de 2020, que compara com uma redução da oferta relativa à oferta efetuada no dia 24 de dezembro superior a 70%”.

A Media Capital aponta ainda o dedo ao facto de a Cofina não apresentar “um plano ou compromisso estratégico claro para o Grupo Media Capital que permita valorizar ou constatar o mérito das intenções do Oferente”.

Pelos vários motivos expostos no relatório, “o conselho de administração da Media Capital considera que o preço oferecido não reflete adequadamente o valor da Sociedade e que o prémio implícito na Oferta é baixo considerando a prática seguida no mercado nas situações onde existiu aquisição de controlo. Portanto, o conselho de administração não pode recomendar que os acionistas vendam as suas ações ao preço oferecido”, conclui a dona da TVI.

O conselho de administração do Grupo Media Capital elabora este relatório, dentro do prazo previsto na lei, e após a “receção em 21 de agosto de 2020 do “Projeto de Anúncio de Lançamento” e do “Projeto de Prospeto” (Documentos da Oferta) da “Oferta Pública Voluntária de Aquisição” das 84.513.180 (oitenta e quatro milhões, quinhentas e treze mil, cento e oitenta) ações ordinárias, escriturais e nominativas, com o valor nominal unitário de 1,06 euros, representativas do capital social da Media Capital admitidas à negociação”.

Trata-se de um relatório sobre a oportunidade e as condições da Oferta.

Por lei, a administração da sociedade visada numa OPA tem de no prazo de oito dias a contar da recepção dos projetos de prospeto e de anúncio de lançamento e no prazo de cinco dias após a divulgação de adenda aos documentos da oferta, elaborar este relatório.

O objeto da OPA é constituído, por 4.485.573 ações, representativas de 5,31% do capital social e dos direitos de voto do Grupo Media Capital, estendendo-se ainda às restantes 80.027.607 ações, representativas de 94,69% do capital social e direitos de voto da Sociedade Visada, caso as condições de lançamento e a condição de eficácia que constam do Anúncio Preliminar Modificado sejam preenchidas.

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