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Menos álcool e tabaco, mais jogo online e a dinheiro: Raio-x aos comportamentos aditivos dos jovens em Portugal

Consumo de álcool e de tabaco nos jovens entre os 13 e os 18 anos a frequentar a escola pública caiu 11 e 12 pontos percentuais, respetivamente, mas estão cada vez mais ‘agarrados’ ao jogo online, inclusive e dinheiro, alerta estudo sobre o Consumo de Álcool, Tabaco, Drogas e outros Comportamentos Aditivos e Dependências.
2 Dezembro 2025, 14h43

Os adolescentes em Portugal estão a beber menos álcool e a fumar menos, mas estão cada vez mais ‘agarrados’ ao jogo online e apostas a dinheiro, revela um estudo do Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências (ICAD). O estudo sobre o Consumo de Álcool, Tabaco, Drogas e outros Comportamentos Aditivos e Dependências (ECATD-CAD 2024), divulgado esta terça-feira, acompanha os hábitos dos alunos do ensino público entre os 13 e os 18 anos, e mostra, que nos últimos 12 meses, um em cada vinte alunos consumiu álcool, tabaco e drogas ilícitas, ainda que não necessariamente em simultâneo.

O retrato que o relatório faz aponta para uma descida generalizada nos comportamentos aditivos face a 2019, quando foi realizado o relatório anterior, quer nos consumos de álcool e tabaco, que caíram 11 e 12 pontos percentuais, respetivamente, quer no consumo de substâncias psicoativas – todas as regiões registam hoje prevalências inferiores às de 2019.

Em contrapartida, o cenário agravou-se cinco p.p nos jogos a dinheiro a nível nacional, que no caso dos Açores triplicou. O arquipélago lidera no jogo eletrónico, com 38% dos alunos a jogar quatro ou mais horas por dia em dias sem escola.

Em comunicado, a instituição presidida por João Goulão diz que a redução do consumo de substâncias é “um sinal encorajador”, no entanto, o aumento do jogo online e a iniciação precoce ao álcool e tabaco “exigem respostas rápidas e eficazes”.

No consumo de álcool, embora o relatório destaque a evolução positiva da redução a nível nacional, alerta que 40% dos alunos do Alentejo beberam no último mês e que, tanto nesta região como no Algarve, 37% dos jovens começaram a beber aos 13 anos ou menos.

O estudo, que evidencia discrepâncias regionais, revela que o Alentejo é “não só é a região onde se regista o maior consumo de álcool (62%) e de tabaco (do país, como configura entre as regiões onde o consumo de substâncias psicoativas menos desceu (e, no caso do consumo não prescrito de tranquilizantes/sedativos, onde mais subiu), por vezes de forma isolada, por vezes tanto quanto o que se verifica noutras regiões”.

Estes dados fazem com que o “Alentejo se destaque cada vez pelo consumo de álcool, tabaco eletrónico e tabaco aquecido do país, enquanto, no que se refere à canábis, a região está perto de alcançar o Algarve, a região que, até aqui, se destacava pelo maior consumo desta substância”.

Hoje, lê-se no relatório, “o consumo de canábis ao longo da vida e nos últimos 12 meses continua a ser mais elevado no Algarve, mas já não o é no que se refere ao consumo nos últimos 30 dias, pois neste caso, entre 2019 e 2024, as prevalências desceram mais no Algarve do que no total do país”.

Em relação à prática de jogo a dinheiro e jogo eletrónico por parte dos alunos, entre 2019 e 2024, as prevalências subiram de forma mais acentuada nos Açores, a região que, na anterior edição do estudo, se destacava por uma prevalência consideravelmente abaixo do total nacional, diz o relatório, embora o Centro e o Algarve se destaquem atualmente por maiores níveis de gaming e gambling, respetivamente.

O estudo do ICAD sublinha que o facto do Alentejo se destacar por um maior nível de consumo de álcool, tabaco e canábis (esta última, apenas no caso da temporalidade dos últimos 30 dias) e simultaneamente apresentar as menores prevalências de jogo eletrónico “reforça a hipótese de que comportamentos aditivos com substância e sem substância podem ser inversamente correlacionados”.

Ao mesmo tempo, “alguns resultados apontam também para uma correlação entre consumo, precocidade e acesso a álcool, tabaco e drogas ilícitas, no sentido em que tendencialmente as regiões onde o consumo se inicia em idades mais precoces e o acesso é considerado menos dificultado são aquelas onde as prevalências de consumo são maiores”.

Os autores do estudo, Elsa Lavado e Vasco Calado, assinalam que o relatório “remete para a necessidade de se promoverem outro tipo de estudos, nomeadamente de natureza qualitativa e âmbito regional, por forma a explicar os fatores socioculturais que explicam que algumas regiões se destaquem de forma consistente por maiores níveis de consumo e pela adoção de comportamentos de risco acrescido e outras não”.

No relatório, o Norte surge como uma das regiões onde “os comportamentos aditivos entre os alunos são menos prevalentes, destacando-se como aquela com a menor proporção de inquiridos que no último ano consumiram álcool, tabaco e drogas ilícitas”. A Madeira destaca-se também “por ser uma das regiões onde a situação parece menos gravosa no que aos comportamentos aditivos entre os alunos diz respeito”, embora registe valores superiores ao total nacional no que toca ao consumo de outras drogas ilícitas que não canábis, ao consumo prescrito de tranquilizantes/sedativos e ao jogo eletrónico.

 

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