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Mercado chinês continua a ser oportunidade para empresas portuguesas

Apesar do crescimento nas trocas comerciais, a relação entre os dois países ainda tem por onde se fortalecer, consideraram os oradores numa conferência promovida pelo Banco da China. O mercado global da lusofonia aparece sempre como pano de fundo.
28 Junho 2021, 07h44

O mercado chinês continua a constituir uma oportunidade para as empresas portuguesas, especialmente na região da Grande Baía de Cantão–Hong Kong–Macau, e, apesar do crescimento registado, tem capacidade para ser mais importante, consideraram os oradores da conferência “China – Portugal, Novas Oportunidades num Contexto de Recuperação Europeia”, promovida pelo Banco da China, juntamente com a Associação de Sociedades Chinesas em Portugal e a Associação de Jovens Empresários Portugal-China, na qual o Jornal Económico (JE) foi media host.

O quadro colocado pela pandemia de Covid-19 aumenta as oportunidades e os benefícios da cooperação. “Há cerca de 10 anos, também num contexto da crise, a China investiu em Portugal, abrindo um novo capítulo de cooperação win-win entre os dois países”, levando a que as empresas portuguesas “estejam cada vez mais focadas para entrar no mercado chinês”, afirmou o presidente do Banco da China em Portugal, Xiao Qi, acrescentando que foi possível estabelecer “sólidas parcerias com instituições portuguesas”, não só direcionadas para o mercado nacional, mas também “para desenvolver conjuntamente mercados de terceiros”. Por isso, foi marcante em todas as intervenções a referência a Macau e à lusofonia, ainda que, como referiu o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, António Martins da Cruz, “por vezes, [nós, portugueses,] não sabemos concretizar os laços [históricos] que existem”, nomeadamente no que respeita ao antigo território português na China. “Macau é um marco de estabilidade” e “um pilar da grande baía”, afirmou, defendendo que é necessário que Portugal crie “condições” políticas, económicas, mas também diplomáticas, para aproveitar melhor a relação com a China.

A Grande Baía de Cantão-Hong Kong-Macau é “o novo motor da reforma e da abertura da China nesta nova era” e “é uma das regiões mais abertas e economicamente mais vigorosas da China e desempenha uma posição estratégica importante no desenvolvimento geral do país”, afirmou Wu Zhiliang, membro do Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, na sua intervenção. Estamos a falar de uma área de 56 mil quilómetros quadrados, com cerca de 72 milhões de pessoas e um produto interno bruto (PIB) da ordem dos 1,6 biliões de euros, cerca de sete vezes a riqueza criada em Portugal.

No entanto, para ter sucesso no mercado chinês, as empresas portuguesas terão de ser específicas na abordagem e ter capacidade para operar e enfrentar concorrência. “Há muito espaço para as explorar o mercado chinês”, mas “têm de trabalhar especificamente, para aproveitar as oportunidades”, disse o presidente do AICEP, Luís Castro Henriques. Foi secundado por Carlos Álvares, presidente-executivo do BNU Macau, do Grupo CGD, que salientou a necessidade de estudo do mercado e da definição a estratégia, assim como as parcerias com agentes locais, para aumentar a probabilidade de sucesso.

Cooperação para novos mercados

Como referiu Qi, as oportunidades não se esgotam nos mercados dos dois países, mas podem ser entendidas ao quadro da lusofonia. “A China, numa lógica estratégica, avaliou corretamente a realidade deste novo mundo em que vivemos”, afirmou Vítor Ramalho, secretário-geral da UCCLA – União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, apontando o potencial de Portugal no mercado dos que falam português e sublinhando que existiu sempre uma ligação à China. “A RAEM [Região Administrativa Especial de Macau] foi fundadora da UCCLA, tendo sido, durante séculos, a porta de entrada para a República Popular da China, existindo sempre a preocupação por parte de Portugal e da China, de salvaguardar relações amistosas e de mútuo interesse”, disse.

Para o vice-presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal Óscar Gaspar, “as relações económicas entre a China e Portugal têm um amplo espaço de alargamento e aprofundamento”.

“É para nós uma certeza que existem muitas e diversas áreas de oportunidade por explorar e sabemos do especial dinamismo que os empresários portugueses dos setores da indústria agro – alimentar e vinhos, ourivesaria, moda, têxteis-lar, curtumes, mobiliário, iluminação, materiais de construção e equipamentos médicos têm demonstrado nas suas deslocações à China. Temos que setores portugueses de serviços como as tecnologias de informação e comunicação, turismo, engenharia, consultoria e formação, apresentam também apreciável potencial de exportação”, disse.

“Esse é o sentir e a vontade dos empresários portugueses e temos para nós que a recuperação económica à crise da Covid-19 ganha com o reforço do multilateralismo e com o estímulo ao intercambio bilateral e às parcerias empresariais”, acrescentou.

Yu Hui, analista sénior do Serviço da Informação Económica da China sobre Países Estrangeiros, destacou que, “no futuro, China e Portugal poderão aproveitar as suas vantagens e a plataforma do Fórum de Cooperação Económica e Comercial China-Países de Língua Portuguesa para o desenvolvimento de infraestruturas, energia, transportes, marinha, agricultura, saúde, etc”.

“Para os países de língua portuguesa, países da UE, países da América Latina e países africanos, a cooperação tripartida nesta área tem aberto novos pontos de crescimento para a cooperação sino-portuguesa”, acrescentou.

A conferência contou também com a presença do embaixador da China em Portugal, Zhao Bentang, e com uma intervenção do embaixador português na China, José Augusto Duarte, que afirmaram a importâncias das relações entre os dois países e as oportunidades de desenvolvimento conjunto.

 

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