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Merkel e Putin encontraram-se para discutirem agenda comum

Os dois países querem dar mostras de que não sedem àquilo que consideram ser as chantagens de Trump sobre várias matérias.
20 Agosto 2018, 07h33

A situação na Ucrânia, o transporte de gás na Europa, o conflito na Síria, o programa nuclear iraniano e as relações entre a Rússia e a Alemanha. Esta era a muito recheada agenda que durante três horas este fim-de-semana foi debatida entre a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente russo Vladimir Putin.

“Questões controversas só podem ser resolvidas em diálogo”, disse a chanceler na conferência de imprensa antes da reunião, destacando a “responsabilidade conjunta” dos dois países na resolução de crises. Nenhuma declaração foi feita após o encontro a sós entre os dois líderes.

Esta é a segunda vez em menos de seis meses que Vladimir Putin e Angela Merkel se encontram pessoalmente. Em meados de maio, a chanceler alemão foi a Sochi, nas margens do mar Negro. Desde então, Merkel reuniu com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, e com o general Guerassimov, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Rússia, para discutir a situação na Síria e na Ucrânia.

A intensificação de reuniões ao mais alto nível sugere que, após anos de frio relacionamento entre os dois países desde a anexação da Crimeia, o contexto geopolítico atual é propício para uma normalização das relações diplomáticas.

E o contexto geopolítico é a investida do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump em várias frentes. Não só na frente comercial – com uma guerra de tarifas às importações que ameaça estar muito longe do fim – mas também na frente política, como têm sido por estes dias os casos mais evidentes da Turquia e do Irão.

Vários analistas são de opinião que as investidas de Trump são matéria suficiente para que as outras potências mundiais se aproximem, na tentativa de minorarem os efeitos das decisões de Trump.

A Rússia está sob pressão das sanções económicas que Washington ameaça fortalecer no futuro próximo e Donald Trump não escondeu a sua oposição ao projeto do gasoduto Nord Stream 2, que dobrará a capacidade de entrega de gás russo na Alemanha. No início de julho, durante a última cúpula da NATO, o presidente dos EUA criticou sem rodeios esse reforço da dependência energética de Berlim em relação ao gás russo. Recorde-se que na passada sexta-feira o rublo registrou o seu nível mais baixo contra o dólar em dois anos.

Duante a conferência de imprensa, Putin, citado por vários jornais, falou sobre a qualidade dos laços económicos do seu país com o poder económico da Europa: a segurança e a confiabilidade do fornecimento de gás, as subsidiárias alemãs na Rússia e os seus investimentos. “A Alemanha é um dos primeiros clientes dos recursos energéticos russos”, disse, lembrando que o volume de comércio entre os dois países aumentou 22% no ano passado.

Berlim, por sua vez, espera que seja possível para breve o envio de uma missão de manutenção da paz da ONU na Ucrânia, quatro anos depois da anexação da Crimeia pela Rússia. Sobre a Síria, a chanceler quer a todo custo evitar que uma catástrofe humanitária venha a aumentar ainda mais os fluxos da imigração e dos refugiados, enquanto Putin precisa da ajuda dos europeus para o esforço de reconstrução da Síria. Putin referiu-se à necessidade de uma rápida reconstrução das infraestruturas básicas para permitir que os refugiados regressem ao país, especialmente aqueles que estão atualmente na Jordânia, no Líbano e na Turquia.

Os dois líderes parecem convergir, por outro lado, na questão do Irão. É claro que tanto a Alemanha como a Rússia – ambos os países são signatários do acordo nuclear – querem manter o documento assinado com Teerão no ativo e que não estão disponíveis para ceder à chantagem de Trump. Que quer regressar à mesa das negociações para produzir um novo acordo.

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