Parafraseando George Orwell, todos os acordos de paz são históricos. Mas alguns são mais históricos do que outros. Há palavras que têm em si todo o peso do mundo, um mundo que já viveu muitas e sangrentas guerras. Demasiadas. Quando abro a homepage do Euronews e leio o título “Frelimo e Renamo assinam acordo para a paz definitiva em Moçambique”, é a palavra “definitivo” que me alegra mas ao mesmo tempo me perturba.

Recordemos: Filipe Nyusi, Presidente da República de Moçambique, e Ossufo Momade, líder da oposição, assinaram o terceiro acordo de paz entre as duas partes. Ou seja, já duas tentativas anteriores falharam. Uma em 1992, com o Acordo Geral de Paz de Roma, e outra em 2014 com o designado “acordo de cessação das hostilidades militares”. Para mais o líder do braço armado da Renamo, Mariano Nhongo, já contestou este movimento biunívoco de pacificação e recusou-se a entregar as armas, dizendo que o fará – se o fizer – apenas depois das eleições internas do partido em que milita.

A Portugal, à União Europeia, ao Ocidente em geral, interessa muito que este “definitivo” acordo de paz seja efetivamente o derradeiro. Durante os últimos anos vários portugueses foram mortos ou desapareceram no território moçambicano. A Norte, na zona de fronteira com a Tanzânia, não é segredo algum a destruição levada a cabo por terroristas jiadistas que oprimem e cometem violentas atrocidades contra civis.

Mas, para além de tudo isto – e que é muito e lamentável – há décadas já que o Ocidente aguarda que em Moçambique se encontre a paz e o país comece definitivamente a trilhar o caminho que todos lhe reconhecem: ser um dos principais países produtores de gás natural do planeta. Como o próprio presidente Nyusi declarou muito recentemente, por ocasião do lançamento formal da fábrica de gás natural liquefeito (GNL) Mozambique LNG, os investimentos no gás natural são um “passo gigantesco” para a arrecadação de mais receitas para o Estado e para a dinamização da economia moçambicana.

A Mozambique LNG, para que se tenha uma ideia, é ‘apenas’ um consórcio, liderado neste caso pela norte-americana Anadarko. Num investimento global que ronda os 20 mil milhões de euros para a extração de gás natural na Área 1 da Bacia do Rovuma, a norte, inclui-se uma fábrica com construção avaliada em mais de 130 milhões de euros com uma capacidade prevista de produção de 12,8 milhões de toneladas por ano, das quais 11,1 milhões  já foram colocadas no mercado mundial.  Também na Bacia do Rovuma, o consórcio liderado pela ENI e Exxon Mobil está a construir uma outra plataforma flutuante com capacidade para produzir 3,37 milhões de toneladas de GNL.

Por todas estas razões, é muito importante – para não dizer determinante – que este acordo de paz “definitivo” seja mesmo definitivo. Assim o queiram todos os moçambicanos.

 

Nota: Caro leitor, uma vez que sou candidato às próximas eleições legislativas entendi, em total acordo com o Diretor do Jornal Económico, suspender esta coluna de opinião até ao dia 6 de outubro.

Até breve!

Uma agência holandesa teve o mau gosto de colocar outdoors em Portugal, mais exatamente na vila de Sintra, apelando à celebração das baixas taxas de natalidade. Fizeram-no em Portugal porque – tal como aqui já escrevi há umas semanas – somos um dos países com o mais baixo número de nascimentos da Europa, continente já de si em implosão demográfica. O tema é sério. Muito sério. Sério demais para que com ele se façam campanhas anedóticas a pensar nas polémicas espúrias das redes sociais.