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Montepio convoca sindicatos para reunião nesta quinta-feira. SAMS está na ordem dos trabalhos

O Banco Montepio quer ouvir os sindicatos sobre a possibilidade de continuação dos trabalhadores com acesso ao subsistema de saúde dos bancários. Querem saber se funcionários já manifestaram o desejo de manter o SAMS caso vejam os seus contratos rescindidos por mútuo acordo no âmbito do plano de reestruturação que prevê entre 600 a 900 saídas. Mais Sindicatos considera “pouco provável” medida ser aceite. Mas assegura que vai ser analisada.
30 Setembro 2020, 17h45

A administração do Banco Montepio marcou uma reunião com os sindicatos dos bancários para esta quinta-feira, 1 de outubro, com vista a recolher informações sobre o número de trabalhadores que já terão manifestado intenção de continuar com o SAMS – Serviços de Assistência Médico-Social do Sindicato dos Bancários caso venham a ser abrangidos nas rescisões por mútuo acordo no âmbito do plano de reestruturação que prevê entre 600 a 900 saídas. O encontro foi confirmado ao Jornal Económico pelo presidente do Mais Sindicato (ex-SBSI) que considera que que a concretização desta medida pode ser “facilitadora de rescisões”, mas ainda assim avança que “vai ser analisada” pelos sindicatos dos bancários.

“Foi marcada uma reunião com os sindicatos para amanhã [1 de outubro]. Na ordem de trabalhos que nos deram está a possibilidade de continuação de trabalhadores com acesso ao subsistema de saúde dos bancários. Querem saber se estamos disponíveis para dar o SAM a funcionários que venham a ser abrangidos pelas rescisões por mútuo acordo”, revelou ao JE António Fonseca, presidente do Mais Sindicato.

Instando a comentar se equacionam aquela possibilidade, António Fonseca afirma: “provavelmente não, pois será uma situação facilitadora de despedimentos. Mas vamos ter de analisar. Não está fechado”.

O JE questionou o Montepio sobre a realização desta reunião e o seu objetivo e se confirma que o plano de reestruturação vai ser apresentado aos trabalhadores na próxima terça-feira, 6 de outubro, tendo fonte oficial do banco afirmado que “conforme informação anteriormente prestada aos colaboradores, aos demais stakeholders e já publicamente conhecida, o Banco Montepio confirma que o plano irá ser apresentado aos colaboradores no dia 6 de outubro”. Já Relativamente às restantes questões colocadas pelo JE,  nomeadamente se o Montepio já obteve resposta do Governo ao pedido de estatuto de empresa em reestruturação, a mesma fonte afirma que o banco “não comenta”.

O novo encontro com os sindicatos segue-se depois de a 23 de setembro ter sido realizada uma reunião com a administração do Montepio, que confirmou aos sindicatos dos bancários a pretensão de apresentar aos trabalhadores um programa de reformas antecipadas e rescisões de adesão voluntária para a redução de efetivos. Mais Sindicato e Sindicato dos Bancários do Centro sinalizaram já querer “fazer sugestões de melhorias no documento” que ainda não foi entregue com o detalhe do número de saídas que estão previstas, após notícias que deram conta de que o banco estava a preparar a saída de 800 trabalhadores.

Também o Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB), o Sindicato Independente da Banca (SIB) e o Sindicato dos Bancários do Norte (SBN) já sinalizaram que vão analisar com detalhe o plano apresentado, na semana passada, pelo presidente da Comissão Executiva do Banco Montepio e alertam que “não irão tolerar qualquer forma de pressão junto dos trabalhadores para que aceitem reformas antecipadas ou rescisões por mútuo acordo, se essa não for a sua livre vontade”.

No âmbito deste plano de reestruturação, o Banco Montepio pediu ao Governo o estatuto de empresa em reestruturação no âmbito do plano de ajustamento que tem um custo estimado de 80 milhões para o banco.

Com o recurso a esta medida excecional que está prevista na lei laboral, o banco da mutualista abre a porta a uma redução significativa de pessoal. Em causa está um pedido ao Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS) do estatuto de empresa em reestruturação através do qual a instituição financeira procura flexibilizar a quota de que dispõe (em função da sua dimensão) para acordos com trabalhadores com vista a uma rescisão amigável, mantendo estes o direito ao subsídio de desemprego. Este pedido é feito por triénio, ou seja até 2022.

Banco sinaliza entre 600 a 900 saídas

O Montepio sinalizou, entretanto, a entrega plano de transformação aos trabalhadores dia 6 de outubro, num plano de transformação que vai desenrolar-se num quadro plurianual, isto é, ao longo de vários anos e onde estão previstas entre 600 a 900 saídas através de reformas antecipadas e rescisões por mútuo acordo. Já estão identificados 37 balcões para encerrar, estando mais cerca de 40 em equação.

O Jornal Económico teve acesso a uma comunicação interna enviada esta sexta-feira, 25 de setembro, aos trabalhadores do Banco Montepio, assinada em conjunto por Carlos Tavares, presidente do conselho de administração, e Pedro Leitão, presidente da comissão executiva, onde é realçado que “não existem linhas de pré-selecionados” para abandonarem o banco.

“Este programa será apresentado formalmente a todos os colaboradores no dia 5 de outubro estando atualmente em fase de consulta com os parceiros sociais e estruturas representativas dos trabalhadores”, lê-se na nota.

O plano — que é um plano de corte de custos — prevê ainda um reajustamento do quadro de pessoal. Para isso, o Banco Montepio diz que vai lançar “um programa destinado a criar oportunidades para os colaboradores que entendam sair”.

“Com base nos cenários analisados e nesse quadro plurianual, estima-se um intervalo máximo indicativo de redução de pessoas entre 600 a 900, tendo para o efeito sido requerida junto das entidades competentes a possibilidade de alargamento de quota para subsídio de desemprego, com o intuito de facultar protecção acrescida em situações de saída, facto que já foi partilhado com as estruturas representativas dos trabalhadores”, esclarece o documento.

O reajustamento do quadro de pessoal também abrange os trabalhadores que pretendam ficar no banco, estando a ser equacionadas “oportunidades de carreia profissional interna recompensadora e motivadora”, onde estarão a ser trabalhadas novas formas de trabalho, como o trabalho parcial, trabalho remoto e outras alternativas.

Este reajustamento prevê ainda “medidas de promoção de formação e reinserção no mercado de trabalho e de eventuais iniciativas empresariais autónomas por parte dos colaboradores que pretendam enveredar por esse caminho”.

O encerramento de balcões também foi abordado na comunicação assinada pelo chairman e pelo CEO do Banco Montepio. Trata-se, neste âmbito, de um “reajustamento operacional”, que vai acelerar a transição digital do banco. Por isso, e para “optimizar o mix de distribuição”, o banco já decidiu encerrar 37 balcões que considera “redundantes geograficamente”, estando ainda em análise “cerca de 40 balcões, segundo critérios de relevância geográfica, rentabilidade e dimensões do mercado”.

O objetivo do plano de transformação é tornar o Banco Montepio num banco “eficiente” e “rentável”. “Desta forma, pretendemos ajustar a nossa operativa e modelo de serviço aos clientes, aproximar os rácios de eficiência do Banco Montepio aos do sector bancário português, simplificar a estrutura do grupo e racionalizar a oferta”.

A comunicação revela que o Banco Montepio tem combatido em várias frentes que, em conjunto, justificam este plano de transformação. O modelo de negócio, lê-se, “tem vindo a sofrer mudanças sensíveis” devido ao impacto da tecnologia no comportamento dos clientes, e tem sido atacado pela “emergência de novos atores na indústria que colocam enorme pressão sobre as instituições bancárias”.

O chairman e o CEO do Banco Montepio explicaram que estas “evoluções estruturais” provocaram a necessidade de “mudança” e que foram “aceleradas pelos efeitos da pandemia Covid-19”.

“O contexto macro-económico mais pessimista tem um efeito imediato no nível de imparidades que os bancos têm de registar. As moratórias, medida justa e destinada a aliviar o esforço financeiro de famílias e empresas, implicam uma dificuldade acrescida na rotação de capital e na capacidade de os bancos financiarem a actividade económica. Este contexto tornou mais urgente o processo de ajustamento no Banco Montepio”, referiram Carlos Tavares e Pedro Leitão.

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