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Montepio: DBRS mantém ratings mas altera perspetiva para negativa

“A alteração da tendência para negativa reflete os receios da DBRS em relação ao fraco perfil de financiamento do banco, na sequência de algumas saídas de depósitos no primeiro trimestre de 2017”, diz a agência que alerta ainda para o elevado peso dos ativos improdutivos no balanço do Montepio.
  • Cristina Bernardo
27 Setembro 2017, 15h44

A DBRS Ratings Limited (DBRS) confirmou as classificações de rating atribuídas à Caixa Económica Montepio Geral, pois tem em conta o facto de o banco ter feito alguns progressos a nível da rentabilidade e do capital nos primeiros seis meses do ano, mas altera a perspetiva face ao futuro de estável para negativa.

“A alteração da tendência para negativo reflete os receios da DBRS em relação ao fraco perfil de financiamento do banco,  na sequência de algumas saídas de depósitos no primeiro trimestre de 2017. E embora o Banco pareça ter estabilizado seu financiamento via depósito, a DBRS considera a posição de financiamento do Montepio como mais fraca do que a maioria dos seus pares domésticos”, refere a agência que alerta mais uma vez para a fraca qualidade da carteira de crédito e de outros ativos (incluindo o imobiliário).

“Isto deve-se a um rácio de transformação de depósitos em crédito líquido (Loans to Depósits) de cerca de 118% (calculado pela DBRS) e ao facto de o financiamento do banco central ser elevado (15% do financiamento total no final de junho de 2017).

A confirmação do rating  inclui a classificação atribuída ao banco enquanto emitente de longo prazo, a classificação da Dívida de Longo Prazo, a classificação de Depósito de Longo Prazo no BB e a Classificação da dívida subordinada em B (alta).

No entanto a perspectiva de evolução desses rating (outlook) foi alterada de Estável para Negativa.

A classificação do emissor de curto prazo do Montepio, a Dívida de Curto Prazo e os ratings de Depósitos a Curto Prazo foram confirmados em R-4. A tendência dessas classificações permanece estável.

A Avaliação Intrínseca do Banco (IA) foi mantida no BB e a Avaliação de Suporte permanece na SA3.

A mudança na tendência de Negativo reflete as preocupações da DBRS em relação às fraquezas do perfil de financiamento do Banco na sequência de algumas saídas de depósitos no 1T17, bem como o desafio contínuo de melhorar a qualidade dos ativos. No entanto, a confirmação das classificações também leva em conta o fato de a Montepio ter feito algum progresso em relação à rentabilidade e ao capital no 1S17, com o Banco reportando um pequeno lucro e recebendo uma injeção de capital de 250 milhões de euros de seu acionista majoritário, Montepio Geral Associação Mutualista (MGAM) em junho de 2017.

A qualidade dos ativos da Montepio continua fraca e o Banco não conseguiu reduzir de forma significativa os ativos improdutivos ​​(NPAs) até o momento, diz a DBRS.

O banco possuía, no fim de junho, um elevado rácio de ativos improdutivos, de 19,8% do total, incluindo o Crédito em Risco (CaR) e o ativos e empréstimos executados (FAs) por incumprimento. “Além disso, o Montepio possui alguns fundos imobiliários que, se incluídos, aumentariam o índice NPA para cerca de 23% no final de junho de 2017”, alerta a DBRS.

A agência canadiana reconhece que o Montepio está a tomar iniciativas para reduzir o seu balanço, inclusive através do lançamento de uma securitização da carteira de NPL (crédito malparado), e que, de acordo com o banco, deverá reduzir o rácio de crédito em risco (CaR), depois de concluída a titularização desses créditos e a venda no mercado, no quarto trimestre deste ano.

O rácio de cobertura de ativos improdutivos (NPAs) foi de 42,9% do total de créditos em risco (CaR) e de ativos executados no final de junho de 2017, que está abaixo da média da maioria dos pares europeus e dos outros bancos domésticos e é um dos principais impulsionadores da tendência negativa, explica a DBRS.

A Montepio reportou um lucro líquido positivo positivo no 1º semestre, pela primeira vez desde 2013, obtendo um lucro líquido de 13 milhões de euros em comparação com uma perda de 67,6 milhões de euros no 1º semestre de 2016. A melhoria nos resultados foi impulsionada pelo crescimento das receitas core (margem financeira e comissões líquidas de juros) e pela redução dos custos operacionais na sequência das medidas de reestruturação tomadas pela administração em períodos financeiros anteriores. Um outro condutor da melhoria do resultado líquido em relação ao ano anterior foi o menor nível de provisões para crédito, embora o custo do risco permaneça alto em 85 bps (pontos base).

O banco liderado por José Félix Morgado reportou um rácio de 12,6% de CET1 (phased-in) no final de junho de 2017, e melhorou muito face aos 10,4% no final de 2016, após a injeção de capital pela Associação  Mutualista.

A DBRS diz que embora este rácio esteja agora em linha com a maioria dos pares portugueses, o nível de NPAs (ativos problemáticos) permanece acima da maioria dos seus pares domésticos. A agência diz que é limitada a capacidade do banco de obter reduções suficientes de ativos improdutivos.

O peso dos NPA (ativos improdutivos) face ao CET1 (em fase de transição) foi de 116,2% no final de junho de 2017, o que é considerado alto, embora tenha melhorado face aos 140,3% no final de 2016.

A 14 de setembro, o Montepio foi transformado com sucesso numa sociedade anónima, permitindo a diversificação da sua estrutura de capital com a entrada de novos investidores.

Aquilo que pode mudar a classificação da DBRS, no sentido positivo, segundo a agência, é o, improvável no curto prazo, fortalecimento significativo dos níveis de capital, uma redução no perfil de risco do banco e uma melhoria material da qualidade dos ativos. Também precisaria ser acompanhado por uma melhoria consistente na rentabilidade.

A pressão negativa sobre a classificação do Montepio pode surgir se houver sinais de que a quota de mercado do banco está a diminuir, traduzidos por uma incapacidade do banco de reforçar ainda mais a sua base de depósito do retalho. Também poderá surgir uma pressão negativa se o Montepio não puder melhorar a qualidade dos ativos e se não conseguir reforçar a sua rentabilidade e a posição de capital, conclui a DBRS.

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