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Moody’s espera que queda do malparado da banca europeia seja totalmente revertida com fim dos apoios públicos

A Moody’s mantém uma perspetiva negativa para os bancos europeus, em 2021, num período que será marcado pelo aumento do crédito malparado e pela fraca rentabilidade e em resposta a isso antecipa que haja processos de consolidação entre bancos a nível doméstico. 
2 Dezembro 2020, 11h36

A Moody’s mantém uma perspetiva negativa para os bancos europeus, num período que será marcado pelo aumento do crédito malparado e pela fraca rentabilidade e em resposta a isso antecipa que haja processos de consolidação entre bancos a nível doméstico.

O ‘outlook’ da Moody’s para os bancos da zona euro, do Reino Unido, dos países nórdicos e dos bancos da CEE (Europa Central e Oriental) é negativo para 2021, devido ao facto dos bancos enfrentarem um ambiente de negócios desafiador no próximo ano. A Moody’s assenta os desafios do sector na lenta recuperação económica, no aumento do crédito em incumprimento e e em perspectivas mais fraca de rentabilidade.

As principais conclusões de uma análise da Moody’s feita à banca europeia resumem-se num ponto negativo e num ponto positivo. Pela negativa a Moody’s destaca o facto de os fundamentais de crédito dos bancos enfraquecerem após a pandemia do coronavírus e pela positiva a agência salienta o facto dos bancos continuarem a ter como pontos fortes, a robustez do capital e o elevado rácio de liquidez.

Banca da zona euro com grandes  desafios no horizonte

A Moody’s Investors Service publica hoje um relatório em que revela que em toda a zona euro o desempenho do crédito bancário degradar-se-á e os bancos terão fracos resultados líquidos devido à ineficiência crónica do sector e que será agravada pelo aumento do malparado e pela redução das margens líquidas de juros.

“Esperamos que as melhorias anteriores na redução do crédito malparado sejam revertidas drasticamente à medida que os efeitos das medidas de apoio governamental diminuam. A rentabilidade diminuirá ainda mais à medida que sobem as imparidades para crédito e que as baixas taxas de juros de longo prazo achatam a curva de rendimento, acelerando uma pressão nas receitas da margem financeira.

Nos bancos do euro, o capital resiliente e a folga de liquidez são os principais pontos fortes que ajudarão a mitigar as pressões, defende o relatório.

A agência prevê ainda que os bancos vão acelerar o corte de custos e os investimentos digitais para compensar as pressões que estão a sofrer sobre a receita. O objetivo é reduzir o cost-to-income.

A consolidação doméstica também continuará, antevê a Moody’s que justifica esta provisão com redução das avaliações das subsidiárias (por causa da crise pandémica) gerando ‘badwills’ que podem ser usados para compensar os custos de reestruturação.

O badwill, também conhecido como goodwill negativo, ocorre quando uma empresa adquire um ativo ou outra empresa por um valor inferior ao seu justo valor de mercado (líquido). Isso geralmente acontece quando as perspectivas para a empresa que é adquirida são particularmente sombrias.

Mas a consolidação internacional permanecerá sem desenvolvimentos, defende a Moody’s, “a menos que os regulamentos e a proteção ao consumidor sejam melhor harmonizados”.

Para os bancos do euro, a Moody’s diz ainda que, após uma contração profunda da economia, a produção dos bancos não será totalmente recuperada em 2021, apesar de se esperar uma forte recuperação económica.

“Apesar das rápidas respostas políticas em toda a região, houve pouco progresso na conclusão da união bancária da UE”, salienta ainda a agência.

Reino Unido, Escandinávia e Europa Central e Oriental

No Reino Unido, o impacto do Brexit é secundário face aos impactos esperados da pandemia. A contração económica do reino de Sua Majestade  será mais profunda do que a média da queda do PIB da área do euro e a recuperação para os níveis de crescimento económico anteriores à crise demorará mais do que o desejado, prejudicando as oportunidades de negócios.

Quer a performance do crédito quer a da rentabilidade irão enfraquecer ao som de uma nova queda nas taxas de juros e do choque económico induzido pelo coronavírus.

“A nossa decisão de manter uma perspectiva negativa para os bancos europeus no próximo ano reflete as nossas expectativas de que os fundamentos do crédito bancário enfraquecerão após a pandemia do coronavírus”, diz no relatório Carola Schuler, Diretora Administrativa – Banking at Moody’s Investors Service.

“Durante esses tempos de incerteza, capital forte e liquidez serão pontos fortes para os bancos, enquanto políticas monetárias acomodatícias fornecerão algum suporte”, acrescenta.

Já na banca dos países nórdicos, a Moody’s diz que “embora as condições económicas se tenham deteriorado também nos países nórdicos, os bancos continuarão a superar seus pares da área do euro, apesar de enfrentarem também a deterioração da qualidade dos ativos a pressão sobre a rentabilidade por causa da pandemia.

Na Europa Central e Oriental, a desaceleração económica será menos severa do que nos países da UE, e a recuperação será mais rápida, embora a rentabilidade dos bancos (historicamente alta) seja prejudicada devido a cortes agressivos nas taxas de juro e devido ao menor crescimento do crédito.

Segundo a Moody’s a perspectiva negativa para os bancos da Europa central e de leste reflete o ambiente altamente incerto e uma prevalência de riscos negativos em toda a Europa devido à pandemia de coronavírus.

As ameaças a uma recuperação económica causada por uma segunda vaga de casos de coronavírus em toda a região e as fracas perspectivas de recuperação económica associadas à fraca perspetiva de recuperação da qualidade da carteira de crédito e da rentabilidade motivaram o outlook negativo para este bancos também.

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