A minha prima Nadia, de 22 anos, nasceu e cresceu no Canadá, na cidade de Calgary, no distrito de Alberta. Em Calgary existe uma enorme comunidade libanesa e a minha prima, juntamente com as suas três irmãs, estava rodeada de amigos e amigas árabes através dos quais era possível manter uma forte ligação às suas origens.

O ocidente e oriente interligam-se na geração das minhas primas. Longe ficaram os tempos em que as raparigas permaneciam fechadas em casa junto dos pais, enquanto aos irmãos era permitida a liberdade da noite. São parte de uma comunidade unida, onde se sentem seguras.

A beleza oriental de Nadia atraía os olhares de muitos jovens, e um dia atraiu um jovem em particular, da mesma idade. Tiveram uma relação breve e desconheço as razões que levaram à separação. O que eu sei é que, na noite de 24 de março, esse jovem assassinou Nadia com um tiro no rosto, nas traseiras de uma casa. E assim, da noite para o dia, perdemos um membro da família num crime premeditado, motivado por rejeição. Quatro dias depois, o assassino foi abatido pela polícia canadiana, durante a sua fuga.

Lemos as histórias de mulheres mortas em casos de violência, mas nada nos prepara para partilhar essa dor brutal e prematura em família. No meio do luto, leio que as irmãs de Nadia apelam a uma maior consciencialização da violência contra as mulheres que são vítimas às mãos de ex-parceiros.

As estatísticas no Canadá mostram que uma mulher é morta a cada seis dias pelo parceiro ou ex-parceiro. As autoridades alertam para o número crescente de casos em que não há escalada de violência e o homem não tem nenhum antecedente violento conhecido.

Mergulho nos meandros do Google, percorrendo um a um os estudos sobre masculinidade, e leio a forma como alguns homens jovens experienciam a rejeição como uma ameaça à sua identidade social e cultural. Não poucas vezes, as mulheres têm de lidar com rejeições como bombas-relógio que precisam de ser desativadas com extrema cautela.

Continuo as leituras ao mesmo tempo que tento racionalizar o irracional e surgem questões importantes, enquanto absorvo tudo o que me é possível absorver. O que pode ser feito para prevenir a violência de género, independentemente do contexto cultural? Como se devem aconselhar jovens mulheres a sair de relações perigosas sem colocar em perigo as suas vidas? Estará a legislação a ser melhorada para fazer frente a estas situações? Mais importante ainda, como é que podemos ensinar rapazes e raparigas desde muito cedo a respeitarem-se mutuamente? Que tipo de intervenção é feita nas escolas para uma maior consciencialização? Os rapazes estão a ser aconselhados a fazer terapia em número igual às raparigas?

Todos os dias famílias sofrem estas perdas sem sentido. Contei-vos a história de Nadia e sei que agora há um vazio enorme numa família que não voltará a ser mesma. Amanhã pode acontecer o mesmo a qualquer outra família.