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“Não consigo dizer se daqui a dois meses estaremos bem”. Como a indústria dos casamentos foi afetada pela pandemia

A maioria dos casamentos estão a ser adiados para agosto ou até mesmo para 2021 e por enquanto os cancelamentos são reduzidos.
2 Abril 2020, 07h25

“Terminem as alianças mas não coloquem as gravações porque ainda não sabemos se a quinta vai confirmar a data porque está tudo em stand by”, explicou uma das noivas que escolheu as alianças de casamento na Switzer, uma empresa que produz e vende alianças de casamento e de noivado. Tal como a Switzer, todo o negócio à volta dos casamentos encontra-se em compasso de espera e sem perspetivas de regresso.

Ilenia Vieira da Silva, gestora da Switzer, conta ao JE que, desde a chegada da pandemia, o ambiente tem estado caótico. As vendas estagnaram, mas a produção continuou. “Nós temos de continuar a produzir. Se parar de produzir por dois meses depois podem telefonar a dizer que o casamento será em junho e não consigo colocar dois meses de produção num mês e entregar tudo a tempo”. “Não consigo dizer se daqui a dois meses a empresa estará bem”, completa Ilenia Vieira da Silva

Apesar de estarem a mover esforços para responder às exigências do mercado, a Switzer depara-se com um grande problema: a joalharia a ser produzida não poderá ser vendida até a Casa da Moeda estar novamente a funcionar. “Temos o nosso órgão certificador desde março fechado e qualquer mercadoria em ouro obrigatoriamente tem de passar por lá”, ressalva Ilenia Vieira da Silva. De momento, a empresa conta com 100 pares de alianças ainda por ser certificados.

Da parte dos noivos, os clientes da Switzer têm adiado as cerimónias dos próximos meses, para Agosto ou até mesmo para 2021, e poucos têm cancelado. “Tive dois cancelamentos e três ou quatro atrasos por dia, desde a chegada da pandemia”, conta Ilenia Vieira da Silva que prevê que no mês de Maio sejam adiados outros tantos casamentos.

A incerteza é um sentimento que chega aos diferentes sectores e Telmo Gomes, gestor da empresa de vestidos de noiva Maria Inês, com lojas em Santa Maria da Feira e São João da Madeira, revela que “estão fechados há duas semanas e não sabem o que será o futuro da empresa”.

“Ainda não tive nenhuma desistência de vestidos, nem de fatos. O que está a acontecer, mais nos casamentos previstos para maio ou início de junho, não todos, mas a maioria já entrou em contacto comigo para reagendar. Para já, tenho três cerimónias que foram adiadas para 2021 e os outros para o segundo semestre deste ano”, clarifica Telmo Gomes.

As Lojas Maria Inês não recebem encomendas desde que fecharam, um dia antes de ser declarado o Estado de Emergência e o mesmo se passa com os parceiros com quem trabalham. “Trabalhamos com empresas de Espanha e França e está tudo fechado em todo o lado”, afirma Telmo Gomes.

Enquanto aguarda, o dono das lojas Maria Inês vê as contas a aumentar e o dinheiro em caixa a diminuir. “Recebi as coleções de verão, no mês passado, entretanto temos de começar a pagar. Isto sem falar nas despesas fixas, tenho uns bons milhares de euros para pagar. Uns 20 ou 30, mas nem quero fazer contas para poder dormir à noite”, confessa.

Telmo Gomes tem uma estratégia mais ou menos definida para reduzir o impacto da Covid-19 na sua empresa. “O primeiro passo a dar será a dos meus funcionários irem para lay-off, pelo menos essa medida vou ter de avançar, quanto as outras espero não vir a precisar”.

No que toca a medidas, nem todas as empresas relacionadas com a organização de casamentos poderão recorrer aos mesmos métodos. “Não temos nenhum apoio do Estado. Fomos a primeira área a parar, e bem, porque envolvia a aglomeração de pessoas, e seremos das últimas a arrancar”, recorda João Faia, proprietário da FX Eventos, empresa responsável por promover a animação de festas.

“A empresa está totalmente parada, embora os casamentos nesta altura do ano sejam a grande máquina de funcionamento da empresa, todos os outros eventos foram parados também. Continuo a fazer trabalho de escritório, a fazer produção gráfica, mas o trabalho em eventos parou a 100%”, afirma João Faia.

A FX Eventos esperava dar música e ritmo em cerca de 180 casamentos este ano. “Os casamentos de abril já foram todos adiados e dois cancelados, já para o mês de maio estão oito casamentos programados. João Faia conta que “não têm existido muitos cancelamentos, o que tem acontecido são os adiamentos. Os noivos estão a adiar, para a partir de agosto, finais de agosto”.

“O impacto financeiro tem sido terrível. Até ao final de julho esperamos ter à volta de trinta mil euros de prejuízo com estes adiamentos todos, embora ainda não sejam números oficiais”, revela João Faia.

Quem não partilha desta preocupação é Sofia Arvana, dona da Selrest, uma quinta em Estremoz que recebe desde casamentos a aniversários. “Temos períodos sazonais. O boom é a partir de maio até dezembro e por isso não nos afetou”, justificou.

Sofia Arvana está com esperança que em junho já seja possível “respirar” e portanto retomar os eventos, mas por enquanto a Selrest tem “o mês de maio cancelado e novas datas, uns para 2021, outros para novembro deste ano”. Contudo, enquanto não for permitido a celebração de cerimónias religiosas a Selrest não vai poder receber este tipo de eventos porque todos os agendamentos da quinta eram de casamentos religiosos.

 

 

 

 

 

 

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