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“Não há uma varinha mágica para o malparado”

João Ferreira Marques vê com interesse os esforços atuais, mas acredita que a solução para o crédito malparado tem de ser parcial, como em Itália.
  • Cristina Bernardo
17 Setembro 2017, 20h00

Especializada na gestão de carteiras de crédito, a Whitestar está a acompanhar com interesse a criação de uma plataforma pelos bancos para lidar com o crédito malparado. No entanto, tem reticências em relação a uma solução total para o problema, defendendo uma estratégia parcial.

Os empréstimos de cobrança duvidosa ascenderam a 15.392 milhões de euros, no final de julho, segundos dados divulgados esta semana pelo Banco de Portugal. Do total, quase 70% dizem respeito a crédito a empresas.

Dada a dimensão do problema, João Ferreira Marques, Chief Investment Officer da Whitestar, está atento à plataforma que está a ser preparada pela Caixa Geral de Depósitos, o BCP e Novo Banco, em coordenação com o ministério das Finanças para gerir o malparado.

“Vemos com bastante interesse esta nova plataforma que têm vindo a anunciar. Qualquer solução é relevante”, refere.

O CIO explica que a grande preocupação que a gestora de ativos tem acompanhado é o problema da banca e das empresas, que têm sido penalizadas por uma situação de estagnação.

O peso das dívidas é visto por Ferreira Marques como um “fardo” para o setor empresarial, que é “uma morte lenta” e “extremamente penoso para a economia”.

O gestor reconhece os desafios que a resolução do problema enfrenta. “Este tipo de problema só se resolve com capital. Não existindo, torna-se um bocadinho complicado”, sublinha. “É como a história do cobertor, que é curto e quando se tapa de um lado destapa-se do outro”.

Questionado sobre uma das críticas que tem sido feita à plataforma – que esta não retira o malparado dos balanços dos bancos – Ferreira Marques recorda que poderá acontecer mais tarde. “A plataforma ainda tem algum caminho para desenvolver, mas o objetivo é que os retire do balanço”.

O gestor alerta, contudo, que as soluções presentadas anteriormente poderão ter sido demasiado ambiciosas.

“Vejo sempre com algum cinismo uma solução total que vai resolver o problema todo. Não acredito em varinhas mágicas” diz o CIO. “Quando os objetivos são colocados de forma tão ambiciosa, muitas vezes não resolvem o problema”.

Refere que o mercado tenta encontrar soluções como a tentativa de solução parcial, em Itália, onde os bancos como o UniCrédit, têm vendido carteiras de crédito a investidores estrangeiros, incluindo a Pimco e a Fortress.

“Penso que, em Portugal, vamos ver uma solução semelhante, nas próximas semanas ou meses. Uma espécie de titularização de non-performing loans, que se tiver sucesso vai ser muito relevante”.

Ferreira Marques ilustra o que esse sucesso poderia representar, dizendo que “se conseguir retirar do balanço dos bancos metade ou dois terços dos NPL, deixa de ser um tema”.

Nesse cenário, os rácios de malparado ficariam comparáveis com outros países que tiveram “uma intervenção muito mais ativa”.

 

Banca de investimento e ratings no percurso

Atualmente Chief Investment Officer da Whitestar, João Ferreira Marques passou pelas várias fases de crescimento da gestora de crédito e imobiliário. Criada pelo Lehman Brothers, passou para as mãos da PwC com a queda do banco de investimento, em 2008. Depois de pertencer ao hedge fund CarVal durante apenas um ano, a White Star foi vendida à Arrow Global em 2015.

“A Whitestar foi criada como um special servicer, que é um conceito que não era identificado no mercado português”, explica sobre a empresa, que tem cinco mil milhões de euros de ativos sob gestão e presta também serviços de advisory. “Mas esta não era a minha indústria”, refere Ferreira Marques.

“O meu background é structured finance, ratings, securitizações de todo o tipo de ativos e é esse o apoio que dou à Arrow Global”, diz. “Entrar para a White Star [em 2010] marcou o meu regresso a Portugal”, continua. Começou como analista no Banco Santander Consumer Portugal e passou pela banca de investimento, no BESI (hoje Haitong).

Mas foi durante os dois anos na agência britânica Fitch, que se especializou em ratings. O percurso no Reino Unido incluiu ainda a ABN-AMRO e o Royal Bank of Scotland, antes de regressar às agências de rating.

Próximo da canadiana DBRS, ajudou no crescimento e internacionalização da agência. “A nível de dimensão é a quarta maior agência, a uma grande distância da terceira e a uma enormíssima distância da quinta”, diz. “Cresceu no Canadá, como alternativa às outras agências e especializando-se em structured finance. Foram para os Estados Unidos também com muito sucesso”.

Antes da crise tentaram entrar na Europa, mas a abordagem não foi bem sucedida. Em 2009, quando a DBRS fez uma nova tentativa e conseguiu entrar no mercado europeu, Ferreira Marques esteve entre os primeiros colaboradores da agência e ajudou a criar os critérios de rating para países como Portugal.

Artigo publicado na edição digital do Jornal Económico. Assine aqui para ter acesso aos nossos conteúdos em primeira mão.

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