Assiste-se a uma discussão se a subida acentuada da inflação é temporária ou permanente/ estrutural.

Os Bancos Centrais estão a tentar convencer os agentes económicos que a mais recente subida de inflação, que nos EUA se aproxima dos 5%, é transitória e que por isso não têm porque alterar a sua política de taxas de juro zero ou negativas, no caso europeu.

O imposto inflação é provavelmente o pior imposto de todos porque afecta os agentes com menor literacia financeira. Quando os preços sobem e os rendimentos estão estagnados, significa que podemos comprar menos bens e serviços. Para manter o mesmo nível de consumo há que recorrer às poupanças, o que acaba por afectar a sustentabilidade das nossas finanças a longo prazo. Apenas os agentes económicos com conhecimentos conseguem tomar decisões de aplicação das suas poupanças que mitiguem este “imposto”.

Mas o pior é que esta inflação tem toda a cara de ser muito mais do que temporária. Basta analisarmos a evolução dos preços da electricidade no mercado ibérico, do gás e do petróleo e verificamos subidas constantes. Se contabilizarmos os custos de implementação de medidas de sustentabilidade na economia, então termos subidas de preços estruturais nos próximos anos à medida que a agenda de 2030 se concretiza. Não podendo as empresas absorver o aumento dos custos de energia ou de implementação do ESG, só resta o consumidor a pagar.

Ora não deixa de ser irónico que o vice presidente do BCE, Luis de Guindos, tenha vindo alertar que a inflação pode ultrapassar os 3%, face aos 2% de meta do BCE, e ameaçado que caso os salários e pensões subissem na mesma proporção, ou seja sofressem uma atualização de 3%, que o BCE poderia ter de retirar estímulos monetários.

A política monetária está agora a lançar os seus tentáculos à política orçamental e fiscal do qual os Estados ainda conseguem ser soberanos, e percebe-se o preço a pagar pelo apoio do BCE – perda de independência.

No fundo quem está a financiar a retoma são as camadas da população mais desfavorecidas, completamente expostas ao efeito da inflação e sem capacidade de proteção por via dos mercados financeiros ou mercado imobiliário.

Nesse sentido, diferença na opção de distribuição de dinheiro entre americanos e europeus, vai marcar a diferença no crescimento do PIB nos próximos anos. Enquanto que os americanos receberam cheques ou transferências bancárias e puderem ir ao seu banco levantar e gastar no que queriam, os europeus são obrigados a assistir ao triste espectáculo de políticos e agências nacionais a decidirem como gastam o dinheiro da ’bazuca’, violando quase diariamente as políticas de conflitos de interesse e as melhoras práticas de gestão.

Nem com 14 mil milhões de euros adicionais do Plano de Recuperação e Resiliência vamos lá.