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“Não posso permitir que destrua o meu país”. Sobrinha de Trump quebra o silêncio da família em livro

A família Trump tenta evitar a publicação da sobrinha, que acusa o Presidente dos EUA de olhar para as pessoas em “termos monetários” e de ser “uma farsa”.
  • REUTERS/Joshua Roberts
8 Julho 2020, 19h05

Envolvido em mais uma batalha legal, desta vez contra familiares, Donald Trump deverá sofrer uma derrota judicial e ver publicado o livro “Too Much and Never Enough: How My Family Created The World’s Most Dangerous Man” (em português, “Demasiado e Nunca Suficiente: Como a Minha Família Criou o Homem Mais Perigoso do Mundo”), da autoria da sua sobrinha Mary Trump, uma doutorada em psicologia clínica de 55 anos. O livro está a gerar tanta expectativa que a editora antecipou o seu lançamento em duas semanas, estando agora marcado para o dia 14 de julho.

A autora, filha do irmão mais velho de Trump, Fred Trump, Jr., defende que estes foram vítimas de um pai frio e dominante, a quem tentaram conquistar a aprovação através de mentiras durante toda a sua vida. Mary Trump conta que, para o seu pai, “mentir era defensivo, não simplesmente uma forma de fugir à desaprovação do pai ou evitar um castigo, como o é para os demais, mas sim uma forma de sobreviver”. Fred Trump, Jr. morreu em 1981 depois de complicações ligadas ao alcoolismo, facto que Donald explorou na sua campanha presidencial de 2015/16. “O Donald, seguindo o exemplo do meu avô e com a cumplicidade, o silêncio e a inacção dos seus irmãos, destruiu o meu pai. Não posso permitir que destrua o meu país”.

Entre as acusações ao 45º presidente dos EUA feitas no livro estão uma denúncia de que este terá pagado a alguém para que lhe fizesse os exames de acesso ao ensino superior (os chamados SATs), que lhe permitiram entrar na Escola Wharton da Universidade da Pensilvânia, onde as notas de ingresso estavam bem acima da média de Trump, e de que este vê as pessoas em “termos monetários”, bem como de alguém que “faz da trampa uma forma de vida”. Mary Trump lembra também a forma como Donald se apresentava na alta sociedade nova-iorquina, passando a imagem de um empreendedor imobiliário astuto que subiu a pulso, dotado de grandes capacidades negociais. “O seu consolo ao retratar essa imagem, juntamente com o favor do pai e a segurança financeira com que o brindava a sua riqueza, deram-lhe a confiança imerecida para o que foi uma farsa desde o início: vender-se não só como um playboy rico, mas também como um brilhante empresário”. Segundo a imprensa local, Mary Trump faz uso de uma série de documentos legais, extratos bancários e declarações de impostos para suportar as suas memórias.

A disputa legal relativamente à publicação do livro resulta de uma antiga história de família: após a morte de Fred Trump Sr., pai de Donald Trump, Mary e o seu irmão não receberam a herança que esperavam, ou seja, o correspondente ao que tocaria ao seu pai, caso ainda fosse vivo. Assim, os irmãos impugnaram o testamento, alegando que alguém ligado à família havia obrigado o avô a mudar o documento, deixando-lhes menos dinheiro. Esta acção acabou por resultar num acordo em que Mary e Fred receberam uma quantia não divulgada, mas em que vigorava um termo de confidencialidade prevendo que nenhuma história familiar fosse divulgada sem que todos os membros da família estivessem de acordo. Com esta premissa, Robert Trump, o irmão mais novo do Presidente, tentou bloquear judicialmente a sobrinha e a editora associada à publicação, a Simon & Schuster. Numa primeira instância, Robert foi bem-sucedido, mas um tribunal de recurso levantou a restrição à editora no dia seguinte, argumentando que esta não se encontrava sob a vigência do termo de confidencialidade em vigor entre a família. No entanto, a autora continua abrangida pelo acordo, não podendo, por isso, pronunciar-se publicamente sobre o assunto. O seu porta-voz, Chris Bastardi, declarou, na passada segunda-feira, que a “acção de um presidente em funções para silenciar um cidadão privado é só a última de uma série de condutas inquietantes”.

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