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Narcisismo dos bancos centrais está a criar políticas monetárias tendenciosas?

Mathilde Lemoine, economista-chefe do grupo Edmond de Rothschild, fala de um “efeito de Narciso” entre os banqueiros centrais que ameaça a imparcialidade da política monetária.
  • Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu
23 Março 2018, 16h17

Os bancos centrais estão a mudar prioridades, que se alargam agora não só a apoiar o crescimento económico (através das taxas de juro), mas também a influenciar os investidores. Mathilde Lemoine, economista-chefe do grupo Edmond de Rothschild, fala de um “efeito de Narciso” entre os banqueiros centrais que ameaça a imparcialidade da política monetária.

“Os banqueiros centrais já não se limitam a apoiar a economia real, ajustando as taxas de juro. Tomaram a tarefa de influenciar o pensamento dos investidores no que diz respeito ao impacto das suas políticas na inflação de médio prazo”, explicou Lemoine, no comentário mensal.

A economista-chefe dá o exemplo de quando, em agosto de 2014, o presidente do Banco Central Europeu (BCE) estabeleceu uma ligação entre as expetativas de inflação (medida através de swaps indexados à inflação) e a estabilidade dos preços (medida através do índice de preços no consumidor).

Considera ainda que o programa de compra de ativos da zona euro, lançado em setembro de 2014 e estendido a dívidas soberanas em janeiro de 2015, é também um exemplo da estratégia. Tal como quando Mario Draghi especificamente refere que o nível de expetativas de inflação constitui um risco para a tendência dos preços a médio prazo.

“Esta abordagem constitui um problema fundamental já que se baseia num indicador que depende que restrições específicas dos mercados financeiros e que não reflete apenas a avaliação que o investidor faz da inflação a médio prazo”, explicou, sublinhando que índices de obrigações indexados à inflação que são usados para calcular as expetativas têm menos liquidez que as obrigações governamentais pois incluem um prémio de liquidez difícil de estimar.

Outra restrição que aponta é que os preços das obrigações indexadas à inflação dependem de mudanças regulatórias, pelo que não medem as expetativas dos investidores.

“Como resultado, os bancos centrais podem ser tendenciosos em relação a fatores específicos dos mercados financeiros, que distancia a inflação dos fundamentos económicos. O índice de preços é dependente das expetativas de inflação, que por sua vez são influenciadas por um aumento da liquidez nos mercados financeiros e por mudanças regulatórias”, acrescentou Lemoine. “Isto aumenta a volatilidade dos preços, reduz a visibilidade e pesa no investimento”.

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