O conceito de dilema de segurança foi desenvolvido pelos académicos da escola neorrealista, e refere-se à situação em que as ações de um estado para aumentar a sua segurança, como sejam reforçar o poderio militar ou fazer alianças, poderem levar outros Estados a responder com medidas semelhantes, produzindo tensões geradoras de conflitos, mesmo quando nenhum dos lados os deseje. Tal situação origina um círculo vicioso, uma reação em espiral responsável por uma competição sem fim.

O incremento da segurança de um Estado tem como consequência a diminuição da segurança dos outros. Cada um interpreta as suas ações como defensivas e as dos outros como potencialmente ameaçadoras. Falamos de perceções que em muitas circunstâncias podem estar na origem de guerras, devido a falhas na comunicação.

Tendemos a ser seletivos na apreciação dos comportamentos e das ações do outro. Restringimo-nos àquelas que nos podem afetar negativamente, sem nos preocuparmos como o outro apreciará o nosso comportamento e as nossas ações. Tudo o que fazemos em matéria de segurança é legítimo, o que o outro faz é provocatório e perigoso. Seria interessante interpretar as relações da NATO com a Rússia à luz do dilema de segurança.

Uma análise do comportamento da Rússia na Geórgia e na Ucrânia não pode ser desligada dos interesses de segurança russos na região, e de uma resposta às revoluções coloridas nestes países patrocinadas por forças estrangeiras. O alargamento da NATO, iniciado no final dos anos 90, num momento de grande fragilidade da Rússia, foi interpretado por Moscovo como uma ameaça.

Os dirigentes russos veem com apreensão o reforço dos orçamentos militares dos países da Aliança, que no total excede cerca de 15 vezes o da Rússia, quando os seus orçamentos de defesa têm vindo a diminuir desde 2013 ($88,35 mil milhões em 2013, para $61,39 mil milhões em 2018). Estes receios são agravados quando os EUA fazem exercícios militares na Ásia Central ou na Europa, ou a Aliança aumenta a presença nas suas fronteiras, independentemente da ameaça que essas forças possam efetivamente representar.

Moscovo não perceciona a NATO como uma organização defensiva. A inclusão da Rússia, na Cimeira de Londres, como a principal ameaça da Aliança, mais importante que o terrorismo, agrava essa perceção. A Rússia percebe os diferentes quadros de parcerias da NATO como um expediente para a Aliança alargar a sua ação para lá da região Euro-Atlântica, nomeadamente no Médio Oriente.

Mesmo evitando fazer juízos de valor, procurando apenas perceber e explicar comportamentos, não podemos deixar de considerar positiva a tentativa do Presidente Macron de não deixar agravar o défice de comunicação com a Rússia, ao chamar a atenção para a necessidade de se contar com ela na resolução de muitas questões internacionais, independentemente das divergências.

Macron deu o exemplo ao enviar uma carta a Putin mostrando disponibilidade para analisar a oferta deste sobre uma moratória na colocação de mísseis de curto e médio alcance no território europeu. Não foi o caso de Mike Pompeo ao faltar, pela segunda vez, à reunião de ministros da OSCE realizada recentemente em Bratislava. Não há benefícios em tornar a Rússia um estado pária. Os esforços devem ir no sentido oposto, a par do reforço da comunicação.